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Proposta de programa de governo Liga-M5S causa preocupação na Itália

Entre as propostas divulgadas no Huffington Post estão a renegociação dos tratados europeus, a saída do euro e a anulação de 250 bilhões de euros de dívida

A aliança Liga-M5S afirmou que o documento divulgado pelo Huffington Post é antigo e está desatualizado (Alessandro Bianchi/Reuters)
A

AFP

Publicado em 16 de maio de 2018 às 11h35.

Saída do euro, renegociação dos tratados europeus, anulação de 250 bilhões de euros de dívida. Um rascunho de "contrato de governo" na Itália entre a Liga (extrema direita) e o M5S (populista) publicado pela imprensa levantou uma onda de preocupação, apesar de ambos os partidos garantirem que o documento não é definitivo.

Enquanto o líder da Liga, Matteo Salvini, afirmava que um acordo será concluído ao longo do dia para formar o primeiro Executivo antissistema da história da Itália, a publicação no "Huffington Post" de um projeto de "contrato de governo de mudança" teve o efeito de uma bomba.

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Datado de segunda-feira (14), esse "rascunho" está "desatualizado" e foi "amplamente modificado", reagiram rapidamente, em um comunicado, as duas siglas vencedoras das eleições legislativas de 4 de março.

Entre as várias propostas apontadas no documento de 39 páginas, estão a introdução de medidas "técnicas de natureza econômica e jurídica, que permitam aos Estados-membros sair da União monetária e, então, recuperar sua soberania monetária".

Um trecho também evoca a possibilidade de pedir ao Banco Central Europeu (BCE), dirigido pelo italiano Mario Draghi, para anular cerca de 250 bilhões de euros da dívida italiana mantida na forma de títulos de Estado pela instituição de Frankfurt.

Outra medida seria a criação de um "comitê de conciliação", estrutura ligada aos partidos e paralela ao governo, encarregada de regular as eventuais divergências entre as duas forças políticas.

Assim que foi publicado, o texto causou uma avalanche de reações na imprensa, com jornalistas e especialistas criticando, sobretudo, sua "ingenuidade".

"Destruir a Itália para prejudicar a Europa", comentou o jornal "La Repubblica", que se posiciona mais à esquerda do espectro político.

Para Lorenzo Codogno, ex-economista-chefe do Tesouro italiano e agora à frente da consultoria LC Macro Advisors, o inventário de medidas revela "a bizarrice, a inexperiência e a defasagem entre as duas siglas".

Os mercados financeiros também reagiram mal. A Bolsa de Milão perdia 2,5% no início da tarde, enquanto que o "spread" se aproximava dos 150 pontos, contra 131 pontos de terça à noite.

Melhor bárbaros do que escravos

Em uma série de vídeos divulgados em suas contas no Facebook, as lideranças dos dois partidos prometeram apresentar seu futuro acordo aos italianos e à sua militância a partir deste fim de semana.

No momento, ambas as legendas tentam apaziguar os ânimos, explicando que vários pontos do texto divulgado pelos jornais "mudaram radicalmente", em particular sobre o euro, com a decisão de "não pôr a moeda única em discussão".

Salvini rejeitou as críticas e os "insultos" da imprensa, evocando, especialmente, uma manchete do "Financial Times" sobre a entrada de Roma no clube dos "bárbaros modernos".

"É melhor ser bárbaro do que servo, ou escravo! Melhor ser bárbaro do que vender a própria dignidade, o futuro, as empresas e até as fronteiras da Itália. Os italianos antes de tudo!", clamou.

Depois de evocar a necessidade de uma "confrontação" com a União Europeia em uma mensagem na terça à noite, ele lembrou de suas ambições em matéria de imigração.

"No programa de governo, ficará escrito (...) que, para a Itália, podem vir aqueles que têm documentos. Há um futuro aqui para essas boas pessoas. Para os milhares de delinquentes que chegam ilegalmente, há um único caminho: devolvê-los para suas casas", frisou.

A Liga pede que se agilize a tramitação dos pedidos de asilo e se expulse os presos estrangeiros "que nos custam os olhos da cara", completou, propondo ainda um corte no orçamento de quase 5 bilhões de euros destinado, nos últimos anos, ao resgate de emigrantes no mar Mediterrâneo, assim como à acolhida de refugiados.

Em nota, o movimento neofascista CasaPound saudou "o forte potencial" da possível aliança, denunciou "a reação desprezível e terrorista da imprensa" e pediu aos dois partidos que tenham "muita coragem".

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