Projeto de lei tenta solucionar conflito entre bancos e maconha nos EUA
O uso medicinal de maconha é legal em 33 estados e em Washington DC; cerca de dez estados também legalizaram a cannabis com fins recreativos
AFP
Publicado em 7 de outubro de 2019 às 18h13.
Muitos bancos dos Estados Unidos fogem de pessoas como Hope Wiseman, diretor de um dispensário que vende maconha para uso medicinal. Contudo, um projeto de lei para abrir os bancos à indústria da cannabis está provocando otimismo conforme avança no Congresso americano.
Wiseman, que opera um dispensário chamado Mary and Main, em Capitol Heights, local vizinho a Washington, atende a pacientes de enxaqueca, doenças crônicas e depressão.
Ele se considera sortudo por já ter uma conta em um banco, mas lamenta estar à mercê do destino, porque a qualquer momento ela pode ser encerrada.
O uso medicinal de maconha é legal em 33 estados e em Washington DC. Cerca de dez estados também legalizaram a cannabis com fins recreativos.
Mas para as leis federais, a maconha ainda é classificada como uma droga dura, como a cocaína, o LSD e a heroína.
E muitos bancos temem ser acusados de lavagem de dinheiro se gerirem contas de pessoas ligadas à indústria da cannabis.
O banco de Wiseman é um dos poucos a aceitar este tipo de cliente.
"Cobram tarifas muito caras porque o negócio é muito particular e estamos sujeitos à sua vontade", explicou Wiseman, que abriu seu negócio no ano passado.
As transações são feitas majoritariamente em dinheiro. Quando o valor é depositado, demora vários dias a cair na conta, o que atrapalha o fluxo de pagamento a fornecedores e funcionários.
O cartão de crédito de Wiseman serve apenas para transferências online de criptomoedas. O banco não lhe dá um cartão porque ele é considerado um cliente criminoso. Se houve a menor suspeita de ilegalidade em uma transação, eles podem fechar sua conta.
Pequeno avanço
A cautela exagerada dos bancos também afeta organizações que se envolvem regularmente com a indústria da cannabis.
Jenn Michelle Pedini, diretora de NORML, uma das principais organizações que defendem legalizar a maconha, disse que teve problemas com o governo quando sua empresa assessorou um vendedor de cannabis para instalar uma empresa.
O negócio da maconha está crescendo. Gera receita de cerca de 10 bilhões de dólares por ano, que pode chegar a 56 bilhões em 2025, segundo os grupos pró-legalização.
Mas dos 11.000 bancos e outros credores nos Estados Unidos, apenas 700 trabalham com clientes no setor de maconha, segundo o Departamento do Tesouro.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto para proteger a indústria profissional da maconha e várias empresas contra possíveis crimes federais. O texto deve ser aprovado pelo Senado.
Os defensores do projeto dizem que ele reduz o risco de assaltos e roubos em um setor em que o dinheiro físico reina.
No entanto, os críticos afirmam que isso pode simplificar o acesso dos cartéis de drogas ao sistema financeiro.
Tanner Daniel, vice-presidente da Associação Americana de Banqueiros (ABA), disse que a aprovação do projeto é uma "etapa necessária".
Receita
"A ABA não toma partido pela legalização. De seus membros, 99% afirmam que são necessários mais esclarecimentos a nível federal e estadual", disse Daniel em um fórum em Washington.
Ele acrescentou que 75% dos integrantes da associação fecharam contas de clientes potencialmente vinculados à industria da maconha.
No Senado, os republicanos se preocupam com este tema.
O Congresso "não está pronto para debater o mérito da legalização", disse Michael Correia, do grupo lobista National Cannabis Industry Association.
"Será (debatida) estado, após estado, após estado, antes de chegar ao nível federal", disse Correia.
É isso que Thiru Vignarajah, ex-vice-procurador-geral de Maryland e candidato a prefeito de Baltimore, quer fazer: legalizar a maconha na cidade e esperar que o estado o faça eventualmente. Vignarajah propõe avaliar as vendas de maconha com uma criptomoeda apoiada e regulamentada pela cidade e investir muito dinheiro em educação.
A legalização também poderia ajudar a combater o crime em Baltimore, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, disse ele.
"A taxa de homicídios está entre as mais altas do país. A guerra entre gangues por drogas é a causa da grande maioria desses casos", disse Vignarajah à AFP.
Ele admitiu, no entanto, que a maconha é apenas parte do problema das drogas e legalizá-la não é uma panaceia.