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Primo de Macri diz que pagou propina para evitar pressões do kirchnerismo

Empresário Ángelo Calcaterra garantiu que fez pagamentos ilegais às campanhas do partido kirchnerista Frente para a Vitória em 2013 e 2015

Mauricio Macri: Calcaterra contou que presidente lhe perguntou por que se apresentaria à Justiça se não figurava nos cadernos de Centeno (Enrique Marcarian/Reuters)

Mauricio Macri: Calcaterra contou que presidente lhe perguntou por que se apresentaria à Justiça se não figurava nos cadernos de Centeno (Enrique Marcarian/Reuters)

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EFE

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 20h38.

Buenos Aires - O empresário Ángelo Calcaterra, primo do presidente da Argentina Mauricio Macri, garantiu que fez pagamentos ilegais às campanhas do partido kirchnerista Frente para a Vitória em 2013 e 2015, como parte de uma suposta rede de propinas para funcionários públicos, para que estes "reduzissem a pressão".

Calcaterra, que até 2017 era dono da construtora Iecsa, uma das que mais se beneficiaram com contratos de obras públicas durante os governos de Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), garantiu que realizou esses pagamentos irregulares sob ordens diretas de Roberto Baratta - ex-funcionário dos governos kirchneristas e suposto coordenador da rede de corrupção - para evitar a quebra da empresa que ele dirigia.

"Roberto Baratta me telefonava diretamente e me dizia: 'você tem que fornecer o dinheiro para a campanha'. Por isso estamos nos cadernos nos anos de 2013 e 2015, os anos de campanha", explicou Calcaterra em entrevista publicada hoje pelo jornal "Clarín".

Calcaterra alegou que "não tinha margem" para recusar os pagamentos, já que passou 2013 a base de tranquilizantes, "transpirando para ver como pagaria os salários de 5 mil pessoas" e com bancos que não ofereciam crédito.

"A Iecsa era todo o meu capital e estava em uma situação desesperadora. (...) Tudo tinha a ver com seguir em frente. A Iecsa era uma empresa de 50 anos", contou o empresário.

O caso foi revelado há uma semana, quando o jornal "La Nación" evidenciou a existência de cadernos escritos por Oscar Centeno - motorista de Baratta - nos quais ele detalhava durante mais de uma década os percursos que fazia por Buenos Aires para supostamente recolher o dinheiro que empresários destinavam a membros dos governos Kirchner.

Calcaterra, que figura no caso como "delator" e foi eximido da prisão após se apresentar voluntariamente à Justiça na segunda-feira, reconheceu que pagou até US$ 400 mil em dinheiro.

Além disso, o primo do presidente explicou na entrevista que, dois dias antes, falou com sua família e com Macri para informá-los da situação.

Calcaterra também contou que Macri lhe perguntou por que se apresentaria à Justiça se não figurava nos cadernos de Centeno e que respondeu que estava agindo assim porque era sua responsabilidade, já que Héctor Javier Sánchez Caballero, ex-diretor de Iecsa, tinha sido detido por seguir suas instruções.

Por outro lado, o primo de Macri negou ter colaborado com Cristina Kirchner, já que não tinha "boa relação com o governo anterior e não havia nenhum vínculo direto".

Clacaterra pôs ponto final no esquema ao vender a Iecsa em 2017, uma empresa que até 2007 pertenceu ao italiano Franco Macri, pai do chefe de Estado.

Macri "foi o primeiro a me dizer que não vendesse (a Iecsa), que tudo seria transparente, mas lhe disse que não poderia trabalhar. (...) Não posso dizer quanto pagou, mas (o empresário Marcelo) Mindlin sabe comprar bem e pagou muitíssimo menos do que valia ", assegurou Calcaterra.

Cristina Kirchner, que conta com foro privilegiado por ser senadora e não pode ser detida, deverá prestar depoimento no caso como acusada em 13 de agosto.

No expediente se declararam como "arrependidos" - figura jurídica que concede benefícios aos acusados que reconheçam os fatos e colaborem com a Justiça, conhecida no Brasil como delação premiada - Centeno, Sánchez Caballero, Juan Carlos De Goycoechea, ex-diretor na Argentina da espanhola Isolux Corsán, e Héctor Zabaleta, ex-diretor de Techint e todos eles ficaram em liberdade condicional.

Na prisão continuam Baratta e outros ex-funcionários e os empresários Carlos Wagner, ex-presidente da Câmara Argentina da Construção; Gerardo Ferreyra e Jorge Neira, de Electroingeniería; Armando Loson, do Grupo Albanesi, e Carlos Mundin, da BTU.

Além disso, segue sendo procurado, com uma ordem internacional da Interpol, Oscar Thomas, ex-diretor-executivo da hidrelétrica Entidad Binacional Yacyretá.

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