Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, segura uma bandeira do país, em 15 de novembro (AFP)
Repórter
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 06h01.
A postura antiguerra dos apoiadores do presidente Donald Trump funciona como um contrapeso que pode impedir o líder americano de iniciar um conflito na Venezuela, assim como a pressão dos países da América do Sul, avaliam especialistas.
“Há resistência por parte dos demais países latino-americanos. Inclusive, entre aliados dos Estados Unidos. É uma posição comum na América Latina, onde todos, mesmo os aliados americanos, sabem do óbvio: Os Estados Unidos entram, depois como é que se tira? Como é que eles vão embora?”, diz Leonardo Trevisan, professor do curso de Relações Internacionais pela ESPM.
“O segundo ponto que talvez seja muito significativo para Trump são as duas pesquisas do E-Gov e do Atlas Intel, mostrando que, nas bases trumpistas, mais de 80% não aceitam qualquer guerra. Não querem ouvir falar de guerra. Então, iniciar uma nova guerra na Venezuela, que o público trumpista sequer sabe onde está, não é conveniente politicamente para Trump", afirmou Trevisan.
“O eleitorado trumpista gosta dessas coisas, como exibições de força e os ataques a lanchas. Iniciar uma guerra é uma outra conversa", afirma.
Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, aponta que o poder de resistência militar da Venezuela, frente a uma invasão americana, seria baixo.
“As forças armadas da Venezuela não têm a menor capacidade de sustentar frontalmente qualquer tipo de ataque norte-americano, isso não é nem uma possibilidade”, diz Paz.
O pesquisador diz crer que ainda há espaço para uma saída diplomática. “As opções que se discutem são eventuais maneiras pelas quais o Maduro deixaria o poder. Seria como uma anistia, para Maduro continuar no país ou negociar uma saída dele e de sua família, uma promessa de não persecução em tribunais internacionais ou nos americanos," afirma.
Além disso, Paz também realça possíveis riscos: “Talvez [Maduro] nem considere a possibilidade de deixar o poder. De repente ele realmente acha que tem condições de continuar no poder e que os Estados Unidos vão se cansar e desistir, mesmo numa operação militar. Esse foi o cálculo de Saddam Hussein na guerra do Iraque.”
“[Hussein] achou que realmente ia conseguir resistir tempo o suficiente para os Estados Unidos perderem muitos soldados até a opinião pública norte-americana fazer com que o país desistisse da guerra do Iraque. Como outras pessoas já pensaram assim, não me surpreenderia se Maduro também imaginasse que ele poderia ganhar isso numa tentativa de se sustentar no poder através de uma guerra de guerrilha.”
“Já se fala que existem 280, 300 pontos estratégicos em que eles iam se entrincheirar e iam basicamente tornar o país ingovernável, tornar a vida de ocupação impossível. Vimos vários casos acontecendo ao longo da história: Afeganistão, por exemplo, agora é o mais famoso onde os Estados Unidos ocuparam e acabaram desistindo, mesmo tendo o Talibã entrincheirado.”
“Quando falamos de Venezuela, o país tem um sinônimo: petróleo. Eu não tenho dúvida alguma e a maioria dos analistas concorda que o problema com a Venezuela é exatamente quanto é a quantidade de petróleo que os americanos querem e a que preço”, diz Trevisan.
O professor aponta que, uma semana antes da ida dos navios para o Caribe, Trump autorizou a petroleira Chevron a voltar a negociar com Maduro para investir no país.
“Portanto, a Chevron chegou, e os militares venezuelanos resolveram subir o preço. Aí o Trump ficou tenso, a situação ficou tensa e com isso houve efeitos midiáticos: mandar um porta-aviões, submarino nuclear contra um país que tem apenas duas fragatas [um tipo pequeno de navio de guerra]", diz.
Trevisan destaca, ainda, o custo dos ataques. "Um míssil que destrói uma lancha daquela custa talvez umas 50 vezes o preço da lancha atacada”, diz .