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Presidente peruano escapa do impeachment e pede reconciliação

Votação registrou 79 votos a favor da destituição, 19 contra e 21 abstenções. A oposição precisava de 87 votos para declarar a vacância presidencial

Pedro Pablo Kuczynski: dezenas de pessoas seguiram para a casa do presidente para comemorar o resultado (Mariana Bazo/Reuters)

Pedro Pablo Kuczynski: dezenas de pessoas seguiram para a casa do presidente para comemorar o resultado (Mariana Bazo/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de dezembro de 2017 às 06h20.

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, evitou a destituição pelo Congresso por mentir sobre seus vínculos com a empreiteira brasileira Odebrecht, depois a que a oposição não obteve os votos necessários para declarar a vacância do cargo.

"Não foi aprovado o pedido de vacância por incapacidade moral permanente", afirmou o presidente do Congresso, o opositor Luis Galarreta.

A votação registrou 79 votos a favor da destituição, 19 contra e 21 abstenções. A oposição precisava de 87 votos para declarar a vacância presidencial.

"Peruanos. Amanhã começa um novo capítulo em nossa história: reconciliação e reconstrução de nosso país. Uma só força, um só Peru", escreveu Kuczynski no Twitter após a votação, em uma sessão parlamentar que durou 14 horas.

Dezenas de pessoas seguiram para a casa do presidente para comemorar o resultado, uma dura derrota para a oposição fujimorista que desejava o impeachment do presidente de 79 anos.

"Minha expectativa é começar a viver outra vez em reconciliação nacional, em um espaço de paz pelo bem de nossos cidadãos, porque cada cidadão quer que trabalhemos juntos", disse a segunda vice-presidente peruana, Mercedes Aráoz.

"Ele recebeu uma oportunidade histórica, que não a desperdice, que não a deixe de lado. Convoque um novo gabinete, uma nova forma política", disse o analista político Carlos Torres Caro.

Humala: "estabilidade do país"

O ex-presidente Ollanta Humala, sob prisão preventiva pelo caso Odebrecht, comentou o resultado favorável a a Kuczynski no Congresso: "Seguiu adiante a estabilidade política do país", escreveu no Twitter.

"O perigo não passou. Isto deve ser visto com humildade e autocrítica. Não há tempo para celebrar, é tempo de trabalhar", completou Humala.

A oposição acusava o presidente de ter mentido sobre seus vínculos com a Odebrecht.

O presidente e seu advogado apresentaram suas alegações durante mais de duas horas e depois teve início o debate dos congressistas.

Os adversários repetiram as críticas após a votação no Congresso.

"É um triunfo da corrupção, porque o que fizeram os parlamentares que votaram a favor foi aprovar que o presidente pode receber dinheiro da Odebrecht. A luta contra a corrupção vai retroceder", disse Mauricio Mulder, do partido Aprista.

O Congresso abriu o processo de "vacância" presidencial por "permanente incapacidade moral", poucos dias depois da revelação pela Odebrecht de que pagou quase cinco milhões de dólares por assessorias a empresas ligadas a Kuczynski, quando ele era ministro.

"Não sou corrupto e não menti. Jamais favoreci uma empresa. Sempre agi de acordo com a lei e com a ética profissional", declarou o presidente, acrescentando que enquanto era ministro a empresa do qual é dono que prestou assessoria a Odebrecht era gerida por seu ex-sócio, o chileno Gerardo Sepúlveda.

Seu advogado expressou que "na prática estamos diante de um golpe de Estado", se o Congresso destituir o presidente.

Vários analistas acreditavam que Kuczynski se tornaria o primeiro presidente a perder seu cargo por vínculos com a Odebrecht, empresa envolvida no pagamento de propina em vários países da América Latina para conseguir contratos milionários de obras públicas.

No entanto, de maneira reservada, o governo realizou nos últimos dias esforços para tentar convencer legisladores opositores não fujimoristas a votarem contra a "vacância" presidencial.

O presidente negava desde antes de assumir o mandato, em 28 de julho de 2016, que tivesse vínculos com a Odebrecht, até que foi desmentido pela própria empresa.

Há oito dias este escândalo de corrupção cobrou outra proeminente vítima no vizinho Equador: o vice-presidente Jorge Glas foi condenado a seis anos de prisão por receber propina.

Presidentes afetados pela Odebrecht

O partido fujimorista, Força Popular, pressiona Kuczynski desde o início de seu mandato. Mas o fantasma da Odebrecht também persegue Keiko Fujimori, filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori, que é investigada por supostos pagamentos recebidos da empresa.

O irmão de Keiko, o parlamentar Kenji Fujimori, que critica a liderança partidária, optou pela abstenção na votação, o que provocou a indignação de alguns colegas de partido.

"O factor Kenji foi decisivo. Tremenda derrota política da Força Popular", disse o analista político Fernando Tuesta, em referência aos 10 parlamentares do partido que optaram pela abstenção.

A Odebrecht admitiu o pagamento de 29 milhões de dólares em propina no Peru entre 2004 e 2015, período que abarcou os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), no qual Kuczynski foi ministro, Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).

Humala permanece em prisão preventiva, acusado de receber três milhões de dólares para sua campanha eleitoral em 2011, enquanto contra Toledo pesa uma ordem de extradição dos Estados Unidos por supostamente receber 20 milhões de dólares em propinas para conceder a Odebrecht a construção de uma estrada.

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