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Presidente paraguaio observa crise no atual modelo de Estado

Para Fernando Lugo, crise na Europa e sua repercussão na América Latina possuem uma "profunda relação" com a "renovação e inovação" do modelo de Estado

Lugo disse que a sociedade testemunhou a transição de um Estado "absoluto" na década de 1950 para um "mínimo" hoje (Getty Images)

Lugo disse que a sociedade testemunhou a transição de um Estado "absoluto" na década de 1950 para um "mínimo" hoje (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2011 às 18h12.

Assunção - O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, afirmou nesta segunda-feira em entrevista à Agência Efe que a crise na Europa e sua repercussão na América Latina possuem uma "profunda relação" com a "renovação e inovação" do modelo de Estado, assunto em pauta nos debates da Cúpula Ibero-Americana que será realizada nesta semana, em Assunção.

"Não é somente a economia que está em crise. Está em crise um modelo de Estado", exclamou o anfitrião da cúpula de chefes de Estado e de Governo, que será realizada nos próximos dias 28 e 29, mas que já reúne a partir desta segunda-feira discussões de parlamentares, entidades civis e empresariais.

Lugo disse que a sociedade testemunhou a transição de um Estado "absoluto" na década de 1950 para um "mínimo" hoje, quando Estado e mercado, segundo ele, "não têm de repelir ou excluir um ao outro, mas complementar".

"(O Estado) tem de ter a grande responsabilidade social de ser eficiente e de responder rapidamente aos grandes desafios e às exigências sociais historicamente esquecidas", ressaltou o líder paraguaio.


"Transformação do Estado e desenvolvimento" é o lema do encontro de Assunção. Para Lugo, a essência do evento não está na concorrência de interesses entre os líderes, mas "no consenso e na participação ampla de parlamentares, empresários e da sociedade civil".

O chefe de Estado paraguaio disse que a cúpula deve resultar em um amplo pacto, no qual todos os estamentos da sociedade cheguem a um acordo. "Estamos no mesmo barco, em que afundam não só os que estão na classe econômica, mas também os da executiva e da primeira classe".

Um pacto tributário, social e político é, para Lugo, imprescindível ao Paraguai, onde a pressão fiscal mal chega a 13% e o elevado crescimento econômico do país no ano passado, de 15,3%, foi neutralizado "como um grande jato de lucros a uma classe muito pequena", enquanto a maioria da população quase não se beneficiou.

O governante paraguaio destacou que, apesar da bonança econômica na América Latina, a crise nos Estados Unidos e Europa já está repercutindo, pois sua produção "depende de seus grandes mercados, o europeu, o chinês, o indiano, e eles reduziram em termos de quantidade e de preço".


O líder também fez críticas às tentativas de imposição dos países desenvolvidos. Para ele, as nações ricas hoje sofrem uma recessão que "não conseguiram prever" e, mesmo assim, continuam sugerindo aos latino-americanos modelos e receitas que os levaram à crise.

"Há um desafio muito grande (na América Latina): o desafio de busca constante de modelos econômicos, de comercialização, de produção que possam evitar certos embates administrativos, financeiros, econômicos", enfatizou. "A crise não vem de 2011. Tem seus anos e foi se acumulando porque não houve soluções radicais em termos de finanças".

Fernando Lugo advertiu que, devido à crise econômica mundial, a América Latina será incapaz de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sobre redução da pobreza, estabelecidos pela ONU para 2015.

"A desigualdade e a redução da pobreza não se complementam com o crescimento que parte da América Latina possui, e o possui de maneira generosa", observou o presidente do Paraguai.


Ele defendeu que os Estados assumam responsabilidade para com seus povos. "Não podemos somente nos limitar a uma responsabilidade política, ideológica, de assegurar a governabilidade entre nossos povos, mas sobretudo que os povos e a população mais humilde, esquecida, aqui na América Latina, possam ter os benefícios que lhes correspondem".

Lugo se declarou um idealista "fanático irredutível" e compartilhou um sonho de integração na América Latina, tendo a União Europeia como exemplo de um processo longo, mas possível.

Além dos avanços do Mercosul - cuja última cúpula foi realizada em Assunção, em julho -, Lugo também falou sobre os rumos da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que reunirá seus líderes também na capital paraguaia ao término da reunião ibero-americana, e a da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) em breve, em Caracas.

"Eu confio muito na Unasul (...). Na Unasul, há uma nova discussão em termos de integração que supera as outras tentativas regionais de integração", disse Lugo, que destacou a "nova perspectiva de desenvolvimento" sobre os recursos naturais dos países-membros da organização.

Ele reconheceu, no entanto, que a América Latina ainda deve trabalhar muito pela solidariedade regional, para que países como Paraguai e Bolívia não fiquem em desvantagem por não possuir acesso ao mar, uma reivindicação histórica pela livre circulação naval, que o Paraguai voltará a pôr em pauta na cúpula de Assunção.

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