Mattarella: o presidente italiano realiza consultas para decidir a nomeação de Giuseppe Conte (Edgard Garrido/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de maio de 2018 às 10h39.
O presidente italiano, Sergio Mattarella, mantinha suas consultas nesta terça-feira (22) antes de decidir se nomeia Giuseppe Conte, um jurista desconhecido, para dirigir um governo populista, ao qual a Comissão Europeia pediu uma política orçamentária responsável.
Segundo um porta-voz da Presidência, não haverá nenhuma nomeação nesta terça.
Citando fontes ligadas à Presidência, a imprensa italiana mencionava as dúvidas de Mattarella sobre a autonomia de Conte, nome proposto pelo Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) e pela Liga (extrema direita).
Em vez de se precipitar, Mattarella preferiu convocar os presidentes das duas Câmaras, Roberto Fico (Deputados) e Elisabetta Alberti Casellati (Senado) para novas consultas no final da manhã.
Giuseppe Conte precisará de paciência. Este professor de Direito de 54 anos é um especialista em Direito Civil e Administrativo, que foi apresentado antes das eleições pelo M5S como um possível ministro encarregado de "desburocratizar" a função pública.
De acordo com os jornais italianos, Mattarella também pediu garantias ao M5S e à Liga sobre o respeito dos compromissos europeus e alianças internacionais.
Nesta terça-feira pela manhã, a Comissão Europeia, preocupada com o tom decididamente antiausteridade do M5S e da Liga, advertiu o futuro governo contra os abusos orçamentários, lembrando ao país que este se encontra entre os mais endividados da zona euro.
"Para nós, é importante que o novo governo italiano mantenha o rumo e dirija uma política orçamentária responsável", declarou o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo euro, Valdis Dombrovskis, em entrevista a um jornal alemão.
"A Itália tem a dívida pública mais elevada da zona euro depois da Grécia", lembrou como advertência, enquanto o custo do endividamento do governo italiano para seus déficits nos mercados financeiros aumentou nos últimos dias.
O prêmio de risco - a diferença entre as taxas de endividamento italiana e alemã a dez anos - subiu até 190 pontos na segunda-feira, quando se situava em torno de 130 pontos há uma semana. Nesta terça pela manhã, havia voltado a cair para perto dos 173 pontos.
O programa comum publicado na sexta-feira entre o M5S e a Liga promete reduzir o déficit, graças a uma política de crescimento.
A Itália tem uma das menores taxas de crescimento da zona euro. Hoje, o Instituto Nacional de Estatísticas (Istat) anunciou uma previsão de crescimento do PIB de 1,4% em 2018, enquanto que o governo em final de mandato estimou, no final de abril, que chegaria a 1,5%.
O programa inclui drásticos cortes de impostos, o estabelecimento de uma renda cidadã, a redução da idade de aposentadoria no segundo país mais velho do mundo, além de uma firmeza sem precedentes contra a corrupção e um giro em matéria de segurança com um viés anti-imigrante e anti-Islã.
Os sócios europeus "não têm com o que se preocupar. O governo, do qual faremos parte, quer fazer a Itália crescer, respeitando todas as regras e compromissos", garantiu ontem à noite Matteo Salvini, líder da Liga, depois de uma série de tuítes de tom mais agressivo.
"Primeiro, deixem-nos começar. Depois, poderão nos criticar, terão todo direito. Mas nos deixem começar", disse Luigi Di Maio, líder do M5S.
De acordo com a imprensa, Salvini será ministro do Interior, e Di Maio vai liderar um grande Ministério do Desenvolvimento Econômico que inclui o Trabalho.