Andrés Manuel López Obrador, presidente do México (Lucas Aguayo Araos/Anadolu Agency//Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 16h09.
Última atualização em 2 de agosto de 2024 às 17h18.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, criticou o posicionamento dos Estados Unidos em relação à crise pós-eleitoral na Venezuela, após o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reconhecer na quinta-feira a vitória do opositor Edmundo González Urrutia sobre Nicolás Maduro. Na ocasião, Blinken afirmou que González venceu a eleição de domingo, citando "evidências esmagadoras".
"Com todo respeito, o que o Departamento de Estado fez é um excesso. Peço desculpas a Blinken, mas isso não lhes corresponde, estão se excedendo. Não ajuda na convivência pacífica e harmoniosa entre as nações. É uma imprudência", disse López Obrador nesta sexta-feira. "Onde estão a lei, o direito internacional? Quem autoriza [Blinken], se ainda não apareceram as atas? O reconhecimento não é dado por um país estrangeiro, mas pela soberania de um povo.
No dia anterior, Blinken disse, em comunicado, que González "recebeu a maioria dos votos nesta eleição por uma margem intransponível", contrariando o anúncio oficial das autoridades eleitorais venezuelanas, que declararam a reeleição de Maduro.
"Dadas as evidências esmagadoras, está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano que Edmundo González Urrutia obteve a maioria dos votos nas eleições presidenciais da Venezuela em 28 de julho."
Até agora, só Estados Unidos e Peru reconheceram como verdadeira a contagem paralela feita pela oposição. Um dia antes da declaração de Blinken, o subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, já havia apontado que essa seria a posição do governo americano, durante reunião na Organização dos Estados Americanos — também criticada nesta sexta-feira pelo mexicano, alegando que "o que fizeram com a Venezuela é uma vergonha".
Também nesta sexta-feira, os chanceleres da Argentina e Uruguai apontaram o opositor como vencedor das eleições na Venezuela. Do Uruguai, Omar Paganini afirmou no X que, "em função da evidência esmagadora, fica claro para o Uruguai que Edmundo González Urrutia obteve a maioria dos votos nas eleições presidenciais da Venezuela".
Por sua vez, a chanceler argentina, Diana Mondino, escreveu: "Todos podemos confirmar, sem dúvida, que o legítimo vencedor e presidente eleito é Edmundo González", compartilhando na mesma publicação o link para o site em que a oposição reuniu dados de atas eleitorais que disse ter obtido na maioria das seções de votação — ainda não há, porém, validação independente do material compilado pelos opositores.
A declaração de Mondino ainda não é um reconhecimento oficial do governo de Javier Milei de González como presidente. Em nota separada, o Ministério de Relações Exteriores da Argentina disse que a "República Argentina segue com extrema atenção e preocupação os acontecimentos na Venezuela a fim de pronunciar-se de maneira definitiva". No domingo, porém, Milei contestou o anúncio de vitória de Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), afirmando que "a Argentina não vai reconhecer outra fraude".
Segundo o CNE, Maduro venceu com 51,2% dos votos, mas a oposição diz que González recebeu cerca de 67% dos votos. O Tribunal Superior de Justiça, de viés governista, convocou os candidatos para "o processo de investigação e verificação para certificar de maneira irrestrita os resultados do processo eleitoral", nesta sexta-feira, após atender a um pedido da campanha de Maduro.
O Brasil, que também cobra de Caracas a divulgação dos documentos das urnas, evita corroborar os números fornecidos pela oposição e espera a que eles sejam apresentados de forma oficial pelo CNE. Na quinta-feira, o governo brasileiro, ao lado da Colômbia e do México, divulgou uma nota conjunta fazendo um chamado às autoridades da Venezuela para que sejam divulgados os documentos que mostrem como foi a votação.
"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", diz um trecho da nota.