Apoiador do presidente egípcio Mohamed Mursi carrega poster com imagem de Mursi, enquanto outros cantam slogans pró-Mursi durante manifestação em frente ao Palácio Presidencial no Cairo (Asmaa Waguih/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2012 às 11h17.
Cairo - O decreto do presidente egípcio, Mohamed Mursi, que isenta todas as suas decisões de serem contestadas legalmente até que um novo Parlamento seja eleito causou fúria entre os seus adversários nesta sexta-feira, que o acusaram de ser o novo Hosni Mubarak e sequestrar a revolução.
Assessores de Mursi disseram que o decreto iria acelerar uma transição prolongada que tem sido dificultada por obstáculos jurídicos, mas rivais de Mursi foram rápidos em condená-lo como um novo faraó autocrático que queria impor sua visão islâmica no Egito.
"Mursi, um ditador 'temporário'", foi a manchete do jornal independente Al-Masry Al-Youm e centenas de manifestantes na Praça Tahrir, o coração da revolta anti-Mubarak de 2011, exigiam a saída de Mursi, acusando-o de lançar um "golpe de Estado".
Estimulado pelos elogios de todo o mundo por mediar uma trégua entre o Hamas e Israel, Mursi ordenou na quinta-feira que uma assembléia dominada por islâmicos escrevendo a nova Constituição não pudesse ser dissolvida por contestações legais.
Mursi, um islamista cujas raízes estão no grupo Irmandade Muçulmana, também deu a si mesmo amplos poderes que lhe permitiram demitir o procurador geral impopular e abrir a porta para um novo julgamento para Mubarak e seus assessores.
O decreto do presidente teve como objetivo acabar com o impasse e empurrar o Egito, a nação mais populosa do mundo árabe, mais rapidamente em seu caminho democrático, disse o porta-voz presidencial Ali Yasser à Reuters.
O presidente disse que qualquer decreto que ele emitisse não poderia ser contestado, uma decisão que consolida seus poderes, mas deve polarizar ainda mais o Egito, ameaçando mais turbulência em uma nação no coração da Primavera Árabe.
"Outro Ditador"
O decreto deve preocupar aliados ocidentais, particularmente os Estados Unidos, um aliado generoso do exército do Egito, que elogiou efusivamente a nação por seu papel em conduzir israelenses e palestinos a um cessar-fogo na quarta-feira.
O Ocidente pode se preocupar com medidas que, por exemplo, comprometem a independência judicial. Mas um diplomata ocidental disse que era muito cedo para julgar e sua nação iria ver como o decreto seria exercido nos próximos dias.
"Estamos muito preocupados com as possíveis ramificações enormes desta declaração sobre os direitos humanos e o Estado de Direito no Egito", afirmou Rupert Colville, porta-voz da Comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, no escritório da ONU em Genebra.
"O decreto é basicamente um golpe em instituições estatais e ao Estado de Direito, que provavelmente deve prejudicar a revolução e a transição para a democracia", declarou Mervat Ahmed, um ativista independente em Tahrir protestando contra o decreto. "Eu me preocupo que Mursi será outro ditador como o anterior a ele."