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Povoado se esvazia de moradores para encher-se de turistas

Autoridades promovem o povoado de Huangling, no sudeste da China, como "o mais lindo da China" e, para protegê-lo, desalojou os moradores

Templo em Huangling, um pequeno povoado da província de Jiangxi, no sudeste da China (Vmenkov/Wikimedia Commons)

Templo em Huangling, um pequeno povoado da província de Jiangxi, no sudeste da China (Vmenkov/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2014 às 09h35.

Huangling - Huangling, um pequeno povoado da província de Jiangxi, no sudeste da China, se transformou em um lugar singular: se esvaziou de moradores para encher-se de turistas.

As autoridades locais o promovem como "o povoado mais lindo da China" e, com o objetivo de proteger sua beleza, os que ali viviam foram desalojados, para que a cidade fique intacta para os que decidam visitá-la.

Situado em um vale infestado de terraços onde se cultiva arroz e couve-nabiça, este povoado milenar está formado por pouco mais de uma centena de casas, a maioria delas construídas há entre cinco e seis séculos.

Em seus telhados, os aldeões põem para secar milho, abóbora, pimentões ou flores de crisântemo, o que dá à paisagem um toque de cor que contrasta com o branco e o marrom das casas, com uma arquitetura de estilo hui.

Além disso, ao passear por suas ruas, o visitante é convidado a entrar nas casas, a esbaldar o paladar com bolos ou "jiaozi" (típicos raviolis asiáticos) e também são estimulados a participar das atividades cotidianas.

A imagem oferecida por Huangling seria idilicamente bucólica se não fosse porque nem tudo ali é real.

O povoado se transformou em uma espécie de museu etnológico ou parque temático sobre a vida rural chinesa - com uma entrada de 135 iuanes (cerca de R$ 50) - e os antigos moradores passaram a ser figurantes em uma montagem na qual todo o protagonismo recai sobre o turista.

Um empresário da região, Wu Xiangyang, com mais de uma década de experiência no setor do turismo, ficou fascinado pelas fotografias do povoado feitas por amigos seus anos atrás.

Intuindo que tinha encontrado um filão turístico, se dedicou a transformar a vila em um "resort" e criou uma empresa com este propósito, a Wuyuan County Cultural Development.

Segundo reconheceu o empresário em entrevista coletiva recente, sua ideia era um "experimento", mas que agora já está sendo posta em prática.

Em 2008, Wu comprou os imóveis dos cerca de 300 moradores que o povoado tinha até então e, em troca, lhes proporcionou um alojamento em municípios próximos.

"Há dez anos a maioria destas casas estavam praticamente destruídas. Agora montamos um povoado lindo para que as pessoas o visitem", explicou o empresário.

A empresa de Wu restaurou algumas casas de Huangling, contratou antigos moradores para que devolvam a vida ao povoado, abriu bares e lojas e agora está construindo um complexo hoteleiro de vários edifícios que, quando estiver pronto no final 2015, disporá de 350 camas e dará emprego a 350 pessoas.

"Todo mundo sai beneficiado", insistiu Wu, acrescentando que cerca de um décimo da arrecadação dos ingressos vai para os bolsos dos antigos moradores.

No entanto, os antigos residentes de Huangling, agora empregados de Wu, não tiveram a oportunidade de dar sua opinião a respeito.

O empresário investiu por enquanto 300 milhões de iuanes (cerca de R$ 125 milhões) dos 500 milhões (R$ 205 milhões) totais pelos quais o projeto foi orçado.

Em 2014, o primeiro ano desde que o povoado foi aberto ao público após sua remodelação, 200 mil pessoas foram visitá-lo, segundo os dados divulgados pela empresa responsável.

A China recebeu em 2013 um total de 55,7 milhões de turistas estrangeiros, 3,5% menos que o ano anterior, enquanto o turismo interno também caiu 2,5% e ficou em 129 milhões de pessoas.

As autoridades do país asiático estão agora buscando fórmulas para recuperar viajantes, principalmente os estrangeiros.

Enquanto estudam fórmulas, como permitir entradas sem visto para estadias inferiores a 72 horas, vão explorando também outras vias para potencializar destinos alternativos ou mesmo criá-los, mesmo que para enchê-los de turistas seja preciso expulsar os moradores. 

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