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Portugal escolhe presidente em plena crise

Boatos de que Lisboa vai pedir ajuda internacional para enfrentar a crise fiscal aumentou ainda mais, segundo os analistas, a desmobilização dos eleitore

O presidente conservador Aníbal Cavaco Silva é o favorito para o primeiro turno, no domingo, da eleição presidencial de Portugal (AFP)

O presidente conservador Aníbal Cavaco Silva é o favorito para o primeiro turno, no domingo, da eleição presidencial de Portugal (AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2011 às 21h58.

Lisboa - O presidente conservador Aníbal Cavaco Silva é o favorito para o primeiro turno, no domingo, da eleição presidencial de Portugal, após uma campanha monótona e sem suspense, apesar da crise econômica, em consequência dos limitados poderes do chefe de Estado.

Os portugueses, preocupados com o crescente desemprego e a pobreza, assim como com os três planos austeridade adotados em um ano, demonstram pouco interesse por uma votação que tem como única incógnita, segundo os analistas, o nível de abstenção, que pode estabelecer um recorde.

O principal rival de Cavaco Silva, um economista de 71 anos respaldado pelo conjunto da direita, e que segundo as pesquisa tem de 57% a 60% das intenções de voto, é o poeta Manuel Alegre, apoiado pelo Partido Socialista e pelo Bloco de Esquerda, mas que ficaria apenas com entre 20% e 27% dos votos.

A eleição tem ainda outros quatro candidatos menos expressivos.

Em 2006, Alegre, 74 anos, surpreendeu ao superar, com 20,7% dos votos, o candidato do Partido Socialista, o ex-presidente Mario Soares (14,3%).

Cavaco Silva, que foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995, ganhou no primeiro turno há cinco anos com 50,5% dos votos.

"Quanto ao resultado final não há incerteza", destaca João Marcelino, diretor do jornal Diário de Notícias, lembrando que em Portugal todos os presidentes no cargo foram reeleitos no primeiro turno.

"Tudo isto não interessa ninguém", afirmou à AFP Carlos, de 38 anos, dono de um pequeno restaurante popular em Lisboa.

"As pessoas têm outras preocupações. Além disso, francamente, está claro que o presidente não serve para nada", completa a esposa do empresário, Catarina, que distribui aos clientes os anúncios dos vizinhos que procuram emprego.

Em Lisboa, a campanha foi praticamente invisível, sem cartazes ou panfletos, com os principais partidos relegados a uma eleição extremamente personalizada, em virtude do papel essencialmente moral do chefe de Estado, apesar do presidente ter a capacidade de dissolver o Parlamento.

No interior do país, os seis candidatos tentaram intensificar o "contato com o povo", nos mercados ou em jantares partidários.

Mas o país ficou sem um debate de conteúdo e Cavaco Silva se negou de forma sistemática a responder aos ataques dos adversários, amparado pela condição de chefe de Estado, o que segundo ele o impede de ter "envolvimento nas lutas político-partidárias" ou "comentar declarações políticas".

Mesmo o caso do banco BPN, vinculado aos lucrativos investimentos financeiros feitos por Cavaco Silva na década de 2000, foi esvaziado com o silêncio indignado do candidato presidente, depois de ter monopolizado os meios de comunicação por vários dias.

Finalmente, os boatos de que Lisboa vai pedir ajuda internacional para enfrentar a crise fiscal aumentou ainda mais, segundo os analistas, a desmobilização dos eleitores, ao mesmo tempo que Cavaco Silva intensificava as críticas ao governo socialista, acusado de ter atuado "muito tarde" ante o descontrole das finanças públicas.

"As pessoas sabem que não é o presidente que governa", comenta a cientista política Marina Costa Lobo.

"O presidente é um personagem importante, mas não quem soluciona os problemas econômicos. Quando os portugueses observam que o primeiro-ministro vai a Bruxelas para anunciar medidas de austeridade, entendem que o governo decide pouco e o presidente muito menos", conclui.

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