Rússia: Rostov tem desempenhado um papel de liderança nas operações na Ucrânia desde 2014, (STRINGER/AFP/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 24 de junho de 2023 às 15h47.
Última atualização em 26 de junho de 2023 às 06h19.
A revolta armada do grupo Wagner de Yevgeny Prigojin contra a liderança militar da Rússia se concentrou imediatamente em Rostov-on-Don, uma cidade de 1,1 milhão de habitantes no sul do país que há anos sente as repercussões das ações militares russas na vizinha Ucrânia.
Como sede de um dos cinco distritos militares da Rússia, Rostov tem desempenhado um papel de liderança nas operações na Ucrânia desde 2014, quando a Rússia desencadeou uma guerra separatista do outro lado da fronteira, na região de Donbass. A importância da cidade como centro militar continuou desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala em fevereiro de 202
"Rostov é um centro logístico para todo o esforço militar russo na Ucrânia, por isso é altamente protegido. A cadeia de comando mais alta está em Rostov", disse Andrei Soldatov, especialista em serviços de inteligência russos e membro sênior do Centro de Análise de Política Europeia.
O fato de Prigojin e suas tropas terem conseguido ocupar Rostov não é apenas um símbolo militar e estratégico, mas também significativo para a capacidade da Rússia de travar sua guerra na Ucrânia, acrescentou.
Em suas primeiras mensagens quando o levante começou, Prigojin sugeriu que o ministro da Defesa russo estivera em Rostov e alegou, sem evidências, que o alto funcionário havia ido pessoalmente ao quartel-general do Distrito Militar do Sul para supervisionar um ataque russo à posição do grupo militar Wagner.
Em um vídeo postado no canal Telegram de Prigojin, ele foi visto rindo com o vice-ministro da Defesa da Rússia, Yunus-Bek Yevkurov, e o vice-chefe da inteligência militar russa, tenente-general Vladimir Alekseyev.
"Alekseyev está encarregado de todas as atividades de inteligência na Ucrânia", disse Soldatov, enfatizando a importância do fato de que os dois homens foram “efetivamente feitos reféns pelo povo de Prigozhin”.
Perto do Mar de Azov e da fronteira sudeste da Ucrânia, Rostov também recebe fluxos migratórios das regiões de Donetsk e Lugansk desde 2014, tornando a situação na Ucrânia mais relevante lá do que em muitas outras partes da Rússia.
Grande parte da região de Rostov é focada na agricultura, com um gigantesco teatro construtivista da era soviética em forma de trator no centro da cidade principal.
O líder da milícia Wagner acusou na sexta-feira, 23, o exército de Moscou de bombardear suas bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar.
O exército negou as acusações, que chamou de "provocação", enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Yevgeny Prigozhin, por tentativa de motim.
A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.
Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o exército russo estava "se retirando" no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, que afirma que a contraofensiva de Kiev fracassa. "As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem", declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.
"Não há controle algum, não há vitórias militares" de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos "se banham em seu sangue", referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares. Putin e seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, afirmam, por sua vez, que o Exército está "repelindo" todos os ataques ucranianos.
Fundado em 2014, o Wagner é um grupo paramilitar privado de mercenários composto por ex-soldados, prisioneiros e civis russos e estrangeiros. O líder da equipe de elite é o oligarca Yevgeny Prigozhin, com forte ligação ao Kremlin. As primeira missões do grupo ocorreram em Donbass, no leste da Ucrânia, e na península da Crimeia, quando os mercenários ajudaram as forças separatistas a tomar a região.
Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para lutar em conflitos no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Com a guerra da Ucrânia, Putin utilizou os mercenários no conflito. Segundo estimativas, os paramilitares têm mais de 20 mil soldados na guerra da Ucrânia.
O líder, Yevgeny Prigozhin, afirmou que 25 mil soldados estão prontos para derrubar o ministro da defesa russo.
Prigojin nasceu em São Petersburgo em 1961 e foi preso por cometer pequenos delitos na adolescência e foi condenado por quase 10 anos. Quando saiu da prisão, ele e sua mãe começaram a vender cachorro quente e depois abriram um restaurante, foi quando ele conheceu Vladimir Putin. Ele se tornou um oligarca rico após conseguir contratos lucrativos de refeições com o com o Kremlin, o ficou conhecido como o “chef de Putin”.
Ele virou um combatente de guerra ocorreu após os movimentos separatistas apoiados pela Rússia em 2014 no Donbass, no leste da Ucrânia. Prigojin fundou o grupo Wagner para ser um grupo paramilitar que lutaria em qualquer causa apoiada pela Rússia, em qualquer lugar do mundo.
Prigozhin ganhou influência política e se lançou em um confronto com autoridades políticas e militares que parece ter ido além da retórica.
Com informações da Agência o Globo.