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Polícia sabia do ódio de atiradora ao YouTube antes de ataque

Pai de Nasim Najafi Aghdam disse que advertiu oficiais sobre descontentamento, mas policiais negam que conhecessem intenção de violência

Tiros no Youtube: atiradora feriu três pessoas e se matou em ataque na última terça-feira (3) (Graeme MacDonald/Reuters)
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AFP

Publicado em 4 de abril de 2018 às 20h54.

Última atualização em 4 de abril de 2018 às 22h00.

Horas antes de entrar disparando no escritório do YouTube na Califórnia, a Polícia abordou Nasim Najafi Aghdam.

Sua família a havia reportado como pessoa desaparecida e oficiais a encontraram dormindo em seu carro na madrugada de terça-feira, antes de ferir três pessoas e se matar em pleno horário de almoço.

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"Durante toda a interação estava calma e cooperativa", indicou a polícia de Moutain View nesta quarta-feira (4), acrescentando que não viu motivos para detê-la.

No interrogatório, disse que "havia decidido deixar sua família alguns dias antes devido a problemas familiares".

"Em nenhum momento durante os 20 minutos de interação mencionou algo sobre o YouTube, sobre seu incômodo com eles, nem que planejava se ferir, ou ferir outras pessoas".

A polícia de Mountain View, onde fica a Google (empresa proprietária do YouTube), a 50 quilômetros do local do incidente, falou em duas oportunidades com a família. Na primeira, os oficiais informaram sobre o contato, e o pai, Ismail Aghdam, ligou posteriormente para comentar a "irritação" de sua filha com a empresa.

"Em nenhum momento o pai ou o irmão mencionaram nada sobre possíveis atos de violência, ou a possibilidade de que Aghdam pudesse se virar contra alguém por conta dos problemas com seus vídeos", indicou o comunicado. "Queria nos avisar que essa irritação podia ser a razão para se mudar".

Em uma entrevista ao jornal californiano "Mercury News", Ismail Aghdam, um imigrante iraniano, assegurou que advertiu a polícia de que sua filha "odiava" o YouTube e que esse poderia ser o motivo de sua viagem, embora tenha declarado que não sabia que a mulher de 39 anos, moradora de San Diego, tivesse uma arma. "Possivelmente comprou uma", assinalou.

"YouTube arruinou a sua vida"

A polícia maneja como único motivo o ódio de Aghdam à empresa.

"Neste ponto da investigação, acreditamos que a suspeita estava irritada com as políticas e práticas do YouTube. Esse parece ser o motivo do incidente", declarou Ed Barberini, chefe da polícia de San Bruno, onde ocorreu o ataque a tiros.

"Não há provas que a vinculem diretamente a alguns dos indivíduos na cena do incidente".

O pai disse ao jornal que sua filha "sempre se queixou que o YouTube arruinou a sua vida".

Najafi Aghdam, nascida no Irã, era uma geradora de conteúdos veganos e contra os maus-tratos a animais, que misturava com gravações suas fazendo exercícios ou cantando. Tinha perfis em inglês, turco e persa, mas sua relação com o YouTube não era boa, pois os acusava de censurar seus vídeos.

"Não existe liberdade de expressão no mundo real e te impedirão de dizer a verdade se você não tiver o apoio do sistema", teria escrito em um site. "Não existe oportunidade de crescer no YouTube".

"Restringiram para maiores de idade meu vídeo de abdominais, um vídeo que não tem nada de mau, nada sexual", indicou em outro momento, afirmando também que o gigante tecnológico a privou injustamente dos lucros obtidos em seu site.

O YouTube informou que na própria terça-feira fechou os canais da mulher devido a "graves violações" das regras da empresa.

Uma foto publicada pela imprensa mostra Najafi vestida de preto com o rosto coberto de sangue falso e empunhando uma espada de plástico, em um protesto contra o uso de animais para treinamentos no Exército americano.

Parada em local de treinamento de tiro

Barberini, agente da polícia de San Bruno, indicou que recuperaram uma arma registrada no nome de Najafi Aghdam e que, antes de ir à sede do YouTube, parou em um local de treinamento de tiros e depois entrou no YouTube pelo estacionamento.

O funcionário Salahoden Abdul-Kafi escreveu nas redes sociais que a atiradora, que inicialmente se pensava ser um homem, "vestia uma máscara de tiro e uma armadura de corpo inteiro, e andava calmamente, disparando com uma pistola".

Raramente as mulheres são responsáveis pelos muitos ataques a tiros ocorridos a cada ano nos Estados Unidos. Segundo uma análise do FBI, dos 160 ataques a tiros entre 2000 e 2013, as mulheres abriram fogo apenas seis vezes, ou seja, em 3,8% dos casos.

Um homem e duas mulheres ficaram feridos no ataque. Ele continua em estado crítico e as mulheres tiveram alta nesta quarta-feira, informou o hospital à AFP.

O ataque a tiros acontece em meio a um acalorado debate sobre a necessidade de controlar o porte de armas nos Estados Unidos.

Estima-se que 1,5 milhão de pessoas tenham participado das manifestações em todo o país em 24 de março pedindo leis mais estritas com relação às armas, após um ataque a tiros fatal em uma escola, em fevereiro, em Parkland, na Flórida.

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