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Piñera monta ministério mais jovem para acalmar protestos nas ruas

Piñera fez as mudanças dez dias depois do início dos protestos - que deixaram 20 mortos e cerca de mil feridos, a metade deles por armas de fogo

Santiago: cerca de mil pessoas enfrentaram hoje homens do Batalhão de Choque na frente do Palácio presidencial La Moneda (Henry Romero/Reuters)

Santiago: cerca de mil pessoas enfrentaram hoje homens do Batalhão de Choque na frente do Palácio presidencial La Moneda (Henry Romero/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 19h18.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou nesta segunda-feira (28) a troca de oito ministros, incluindo o questionado titular da pasta do Interior, Andrés Chadwick, integrando uma nova geração de políticos em seu gabinete, na tentativa de silenciar os protestos nas ruascontra o governo que seguem a pleno vapor.

Ao mesmo tempo em que Piñera anunciava as mudanças no gabinete, a maior movimentação no governo nos últimos 20 meses -, milhares de pessoas entraram em conflito com a polícia em frente ao palácio presidencial de La Moneda, no centro de Santiago, no décimo dia de protestos que já deixaram 20 mortos no país.

"Não há mudanças efetivas que façam as pessoas mudarem de opinião sobre isso. O gabinete deveria ter um pouco mais de rua", afirma Mario Muñoz, um administrador público de 41 anos, que estava protestando em frente à sede do governo.

"É como uma cadeira musical; os mesmos que vêm e vão", critica Boris Vidal, jornalista de 50 anos, no meio do protesto, que foi disperso pela polícia com jatos de água e gás lacrimogêneo.

Piñera fez as mudanças dez dias depois do início dos protestos -que deixaram 20 mortos e cerca de mil feridos, a metade deles por armas de fogo- começaram pelo aumento da passagem do metrô e depois acrescentaram outras demandas, como a renúncia de Piñera, a elaboração de uma nova Constituição e uma reforma dos sistema previdenciário e da saúde.

"O Chile não é o mesmo do que era semanas atrás. O Chile mudou e o governo também precisa mudar e enfrentar esses novos desafios e esses novos tempos", repetiu durante a cerimônia de posse dos novos ministros Piñera, abalado pelo queda de 14% em sua popularidade.

Ministro a favor do diálogo

Piñera nomeou Gonzalo Blumel para o ministério do Interior, que ocupava o cargo de ministro secretário-geral de governo. Blumel, um dos nomes mais carismáticos e o mais jovem do gabinete, com 41 anos, substitui Chadwick, primo do presidente, membro de seu círculo mais próximo e que o acompanha desde seu primeiro governo (2010-2014).

"O diálogo é a única maneira que nos permitirá superar as sérias dificuldades que experimentamos nos últimos dias", disse o novo ministro do Interior no primeiro contato com a imprensa.

"É alguém que se caracteriza por ser bastante aberto ao diálogo", afirmou o presidente do partido democrata-cristão (oposição), Fuad Chahín, em uma primeira reação ao nome de Blumel.

Na Fazenda está Ignacio Briones, ex-reitor da escola de governo da Universidade Adolfo Ibáñez, que aos 46 anos substitui Felipe Larraín, questionado por sua recomendação "aos românticos" para comprar flores quando em setembro não havia inflação.

"A responsabilidade fiscal é um ativo do país que devemos cuidar", disse Briones a repórteres sobre a extensa lista de petições sociais que o governo enfrentou com um primeiro pacote de 15 medidas.

A ex-intendente de Santiago, a médica Karla Rubilar, de 42, que teve uma elogiada participação nos recentes protestos, assumiu como porta-voz do Executivo. Ela substitui Cecilia Pérez, que passou para a pasta dos Esportes.

O ex-subsecretário de Obras Públicas Lucas Palacio assumiu a Economia, no lugar de Andrés Fontaine, criticado por pedir à população "para acordar mais cedo". A sugestão foi uma forma de enfrentar a alta no bilhete de metrô no horário de maior fluxo.

O ex-ministro de Bens Nacionais Felipe Ward será ministro secretário da Presidência.

Foram mantidos, porém, o ministro das Relações Exteriores, Teodoro Ribera; o da Defesa, Alberto Espina (questionado pela atuação das Forças Armadas durante o estado de emergência); a ministra dos Transportes, Gloria Hutt (rejeitada por afirmar que não era possível baixar as tarifas do metrô); e a ministra da Educação, Marcela Cubillo, em uma permanente queda de braço com o movimento estudantil.

As idades dos oito novos ministros variam entre 30 e 46 anos e fazem parte principalmente da ala mais liberal da direita dominante, parte de uma nova geração de políticos, com muito mais visões sociais, segundo analistas.

"Realiza uma mudança muito significativa na geração de políticos que estão comandando os partidos de centro-direita (...) Saem os inflexíveis e entram os brandos, em uma mensagem muito clara do presidente para enfrentar as mobilizações ", disse à AFP o cientista político da Universidade de Talca, Mauricio Morales.

"É gente mais jovem e que segue uma linha mais suave", concorda Mireya Dávila, uma acadêmica do Instituto de Assuntos Públicos da Universidade do Chile, que, no entanto, alerta que em termos da agenda social "o presidente não muda muito".

Convocações de protesto continuam

Dois dias depois de pedir a renúncia de todos os seus ministros, Piñera divulga os nomes da nova equipe, com a qual espera enfrentar o despertar em massa da população. Com protestos que já deixaram 20 mortos e milhares de feridos, os chilenos questionam o modelo socioeconômico adotado no país.

A profundidade das mudanças e o giro do presidente em sua equipe de colaboradores pode aliviar a tensão, ou, no sentido contrário, aumentar a insatisfação da população. A crise explodiu em 18 de outubro, inicialmente pela alta no preço do bilhete do metrô.

Enquanto Piñera ajusta o governo, os chamados a manifestações se multiplicam. Além disso, espera-se a chegada de uma missão da ONU para verificar denúncias de violações dos direitos humanos em meio a uma profunda crise social.

Nesta segunda-feira, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) junto com dezenas de organizações sociais voltaram a convocar uma "greve nacional".

Cerca de mil pessoas enfrentaram hoje homens do Batalhão de Choque na frente do Palácio presidencial La Moneda, no centro de Santiago.

"Piñera, escute e vá para o inferno", gritaram os manifestantes, recebidos com gás lacrimogêneo e jatos d'água pela polícia.

Também hoje, os militares deixaram as ruas. À meia-noite, foi suspenso o estado de emergência que havia sido decretado por Piñera para enfrentar a onda de protestos e os ataques ao transporte público e aos estabelecimentos comerciais, sobretudo, nos primeiros dias.

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