Pentágono alerta para efeito cascata entre clima, guerras e refugiados
Desastres climáticos e incapacidade de se adaptar às temperaturas mais elevadas podem levar a mais conflitos armados e erradicar populações inteiras
Vanessa Barbosa
Publicado em 27 de janeiro de 2019 às 08h01.
Última atualização em 27 de janeiro de 2019 às 08h01.
O estudo mais abrangente já realizado para avaliar a ligação entre mudança climática , guerra e migração confirmou que o aquecimento do planeta está estimulando conflitos que geram mais refugiados.
As conclusões publicadas nesta quarta-feira em uma revista científica ressaltam os níveis crescentes de ansiedade que o aquecimento global causa entre os líderes. Os participantes do Fórum Econômico Mundial deste ano em Davos, na Suíça, disseram que a incapacidade de se adaptar às temperaturas mais elevadas é o maior risco global.
Um relatório do Pentágono publicado na terça-feira em Washington alertou que a elevação do nível dos mares e a maior frequência de incêndios florestais ameaçam a segurança dos EUA.
O estudo revisado por especialistas, que se chama “Climate, conflict and forced migration” (“Clima, conflito e migração forçada”) e foi publicado na Global Environmental Change, da Elsevier, analisou vastos conjuntos de dados abrangendo seca, mortes em batalhas, etnicidade e sistemas políticos.
Estes dados foram então combinados com informações geográficas sobre os fluxos de refugiados. Os pesquisadores descobriram que a piora das condições climáticas teve uma “influência estatisticamente significativa” nas recentes ondas de migrantes que fugiram de conflitos no Oriente Médio.
Círculo vicioso
A pesquisa reforça alertas anteriores das agências de defesa e de inteligência de que mudanças climáticas podem desencadear mais conflitos graves o suficiente para erradicar populações.
Embora mudanças climáticas nem sempre gerem conflitos armados, o Oriente Médio apresentava em 2010 as condições perfeitas para gerar uma espiral de violência. A migração resultante dessas fraturas se estendeu da Síria ao Sudão, segundo Raya Muttarak, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, que está entre os autores do estudo.
“É necessária uma tempestade perfeita”, disse Muttarak, apontando que as condições políticas desempenham um papel descomunal. “Quando [o governo] é autoritário demais ou democrático demais, os resultados são diferentes.”
Os demais autores do estudo, que trabalham para instituições da Áustria e da China, forneceram conselhos tangíveis aos líderes mundiais que buscam conter o fluxo de refugiados que escapam de conflitos.
As políticas para “melhorar a capacidade de adaptação para lidar com os efeitos das mudanças climáticas nas economias em desenvolvimento podem ter retornos adicionais ao reduzir a probabilidade de conflito e migração forçada”, escreveram.