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Pela primeira vez na história, um papa visita o Iraque

Bento XVI chamou de "perigosa" a viagem histórica do papa Francisco ao Iraque

É também a primeira viagem do papa Francisco desde o início da pandemia de covid-19 (Sabah ARAR/AFP)

É também a primeira viagem do papa Francisco desde o início da pandemia de covid-19 (Sabah ARAR/AFP)

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AFP

Publicado em 1 de março de 2021 às 12h20.

Última atualização em 1 de março de 2021 às 15h33.

Pela primeira vez na história, um papa visitará o Iraque a partir de sexta-feira para confortar a minoria cristã dizimada pelos conflitos e as dificuldades da vida e estender a mão ao islamismo xiita, em um gesto espetacular. 

No berço do Cristianismo, que as guerras deixaram em sangue e que ainda é marcado pela violência do grupo Estado Islâmico (EI), o papa Francisco se encontrará com a mais alta autoridade religiosa de uma parte do mundo xiita, o Grande Aiatolá Ali Sistani, em Najaf, ao sul de Bagdá.

É também a primeira viagem do soberano pontífice desde o início da pandemia de covid-19, após ter sido vacinado, assim como a multidão de jornalistas e eclesiásticos que o acompanham.

Durante sua visita de três dias, o papa argentino de 84 anos visitará uma minoria cristã diversa, mas minimizada, em meio a uma população de 40 milhões de iraquianos exaustos após 40 anos de guerras e crises econômicas.

A agenda do papa é tão ambiciosa quanto a viagem é histórica: até segunda-feira, o pontífice visitará uma catedral que foi palco da tomada de reféns em 2010 em Bagdá, a cidade de Ur, no deserto do sul do Iraque, Najaf e igrejas destruídas pelo EI em Mossul (norte).

Três dias, 1.650 km

O papa viajará cerca de 1.650 km, principalmente de avião. Ao longo de seu trajeto, foram expostas mensagens de boas-vindas e apelos de coexistência.

As estradas foram pavimentadas, postos de segurança foram instalados e as obras de renovação foram realizadas em locais que até agora nunca tinham estado nos programas oficiais de visita.

"A mensagem do papa é dizer que a Igreja está do lado daqueles que sofrem", disse à AFP o arcebispo caldeu católico de Mossul e Aqra, Najeeb Michaeel.

"O papa enviará uma mensagem forte mesmo aqui, onde crimes contra a humanidade e genocídio foram perpetrados", disse o prelado, que teve que fugir dos jihadistas em Mossul.

A comunidade cristã no Iraque é uma das mais antigas e diversas, na qual se destacam os caldeus - católicos -, os ortodoxos e os protestantes armênios.

Na época da ditadura de Saddam Hussein (1979-2003) havia cerca de 1,5 milhão de cristãos, cerca de 6% dos iraquianos.

Mas hoje não restam mais de 400.000, 1% da população, estima William Warda de Hammurabi, uma ONG local de minoria.

Antes do exílio, a maioria dos cristãos estava na província de Nínive, cuja capital é Mossul. As vitrines e os livros de orações estão em aramaico moderno.

Berço de Abraão

Quando os jihadistas do EI ocuparam Mossul em 2014, o papa Francisco apoiou a campanha militar internacional para reforçar as forças iraquianas. Então, ele disse que queria apoiar os cristãos do Iraque.

Em 2019, o soberano pontífice condenou a repressão sangrenta de uma revolta popular contra o poder que abalou especialmente Bagdá e o sul do Iraque.

É para esta região sul que o papa irá no sábado, para Ur, onde o patriarca Abraão nasceu, segundo a tradição.

Mas o Iraque já estava nos objetivos do Vaticano antes mesmo da chegada do papa Francisco.

Em 2000, Saddam Hussein jogou um balde de água fria nos planos de João Paulo II, que esperava fazer uma peregrinação ao país.

Dezenove anos depois, o patriarca da Igreja Caldeia do Iraque, Louis Sako, obteve do presidente iraquiano Barham Saleh um convite oficial dirigido ao papa para "curar" o país da violência.

A covid-19 atrasou a viagem, mas nem o confinamento, imposto durante toda a duração de sua visita, nem o anúncio de que o embaixador do Vaticano em Bagdá testou positivo para coronavírus mudaram os planos.

Bento XVI considera a viagem "perigosa"

O Papa emérito Bento XVI, que vive em um mosteiro do Vaticano desde sua renúncia há oito anos, chamou de "perigosa" a viagem histórica de seu sucessor Francisco ao Iraque em uma entrevista publicada na segunda-feira.

"Acho que é uma viagem muito importante", disse o ex-papa de 93 anos em uma entrevista ao jornal Il Corriere della Sera.

“Infelizmente ele chega em um momento muito difícil que também torna sua viagem perigosa: por motivos de segurança e por causa da ambição. E ainda há a situação instável do Iraque. Acompanharei Francisco com minhas orações”, acrescentou o alemão, que conversou com um fio de voz, segundo o jornalista que o entrevistou.

"Impacto enorme"

Várias equipes de segurança do Vaticano visitaram o Iraque, cenário de intensas tensões geopolíticas, para organizar a segurança. 

As comissões provinciais estão encarregadas de proteger o circuito do papa. Na manhã de sexta-feira, o avião do papa pousará em Bagdá com cerca de 150 pessoas a bordo, metade jornalistas.

Francisco estenderá mais uma vez a mão ao Islã.

Em 2019, nos Emirados Árabes Unidos, ele assinou com o xeque Ahmed al Tayeb, imã de Al Azhar, a mais alta instituição do Islã sunita, um documento que incentiva o diálogo entre cristãos e muçulmanos.

No Iraque, o papa Francisco irá ao encontro dos xiitas, a maioria no Iraque, mas a minoria no mundo - 200 milhões dos 1.800 milhões de muçulmanos - quando se encontrar com o grande aiatolá Ali Sistani.

Para o governador de Najaf, Louai al-Yasseri, é uma "visita histórica" enquanto Sistani, embora fisicamente ausente, se tornou nas últimas três décadas uma bússola para os xiitas do Iraque e do resto do mundo.

“Fala-se de um líder religioso seguido por 20% da população mundial: sua visita significa muito, seu encontro com o Grande Aiatolá terá um impacto enorme”.

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