Mario Draghi, ex-presidente do BCE e premiê da Itália: críticas aos atrasos nas entregas da AstraZeneca à Europa (Krisztian Bocsi/Bloomberg)
Carolina Riveira
Publicado em 4 de março de 2021 às 13h07.
Última atualização em 4 de março de 2021 às 13h18.
A diplomacia das vacinas ganhou uma nova turbulência nesta quinta-feira, 4. A Itália bloqueou uma remessa de doses da vacina da AstraZeneca que seriam enviada para a Austrália.
O lote bloqueado foi de 250.000 doses. A notícia foi divulgada primeiro pelo jornal britânico Financial Times e confirmada por oficiais em Bruxelas, sede da União Europeia, e na Itália.
O movimento acontece dias depois de o novo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, afirmar em reunião da União Europeia que o bloco deveria ter uma postura mais dura contra empresas que não respeitam as datas de entrega.
O bloqueio tem por base uma regulação recente da União Europeia. Pela regra, que busca, segundo a UE, maior "transparência" na comercialização, os países membros têm de avisar o bloco quando autorizarem ou negarem a remessa de vacinas para o exterior, mesmo que sejam de posse das empresas fabricantes.
A UE questiona que a AstraZeneca está atrasando entregas para o bloco. Outro ponto sensível para o bloco europeu é o fato de que as entregas para o Reino Unido -- que deixou a UE oficialmente após o Brexit -- têm sido feitas sem maiores atrasos. O Reino Unido é um dos países que mais vacinaram no mundo até agora.
Já a AstraZeneca afirma que não tem conseguido produzir as quantidades prometidas, e que o Reino Unido aprovou a vacina antes da UE, o que fez o país receber doses mais cedo. A EMA, agência reguladora do bloco europeu, só aprovou a vacina em 29 de janeiro, quase dois meses após os britânicos.
A AstraZeneca anunciou em fevereiro que conseguiria entregar só metade das doses prometidas à UE, que pagou por parte do desenvolvimento da vacina, feita em parceria com a Universidade de Oxford. As entregas esperadas para o segundo semestre foram cortadas de 180 milhões para 90 milhões de doses, segundo a imprensa europeia.
Até agora, a Itália foi o primeiro país a efetivamente bloquear a exportação de vacinas já vendidas. A medida pode levar a um aumento no protecionismo com relação ao tema.
O protecionismo da UE vem em meio à vacinação ainda mais lenta do que o esperado. Dentre os países que fazem parte da União Europeia, foram aplicadas 35,6 milhões de doses das vacinas até agora. Embora seja uma das maiores taxas do mundo, o número representa cerca de 8 doses a cada 100 habitantes do bloco.
A proporção da população vacinada está muito atrás de países como EUA (24 doses a cada 100 habitantes) e Reino Unido (32 doses a cada 100 habitantes), o que tem gerado críticas no bloco. A título de comparação, o Brasil aplicou cerca de 4 doses a cada 100 habitantes.