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Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 14h07.
Tóquio - O Partido Liberal-Democrata (PLD), que dirigiu o Japão durante mais de 50 anos, até 2009, passou a ser o favorito para ganhar as próximas eleições gerais depois que o Partido Democrático (PD) foi incapaz de estabelecer um governo estável em três anos de mandato.
O Japão parece destinado a recolocar no poder, após o pleito de 16 de dezembro, o mesmo bloco que iluminou o chamado "milagre econômico" japonês entre as décadas de 1950 e 1980 e pôs o país no posto de segunda maior economia do mundo, que perdeu em 2010 para a China. Mas também se trata da mesma legenda que foi incapaz de endireitar seu rumo após a explosão da "bolha" do fim dos anos oitenta.
A falta de diretrizes claras para tirar o arquipélago de sua letargia acabaram com a paciência dos japoneses nas últimas eleições legislativas, em 2009, quando o PD arrasou com uma promessa de mudança que não conseguiu promover.
Até aquelas eleições, a maioria dos japoneses sempre tinha dado apoio ao PLD, que entre 1952 e 2009 só se viu fora do poder entre agosto de 1993 e abril de 1994, com um caótico e grande governo de coalizão.
O líder do partido e favorito para ser o novo primeiro-ministro, Shinzo Abe, que já foi chefe de Governo entre 2006 e 2007, sustenta que o partido "aprendeu" e está "diferente".
Mas o credo do PLD segue próximo ao concebido em 1952 por seus fundadores, membros das elites imperialistas que levaram o país à guerra, muitos deles depois exonerados com a ajuda dos Estados Unidos para evitar que o Japão se voltasse à esquerda durante a Guerra Fria.
Seus preceitos gerais passam por um crescimento apoiado nas exportações e no trabalho das grandes corporações, e uma estreita cooperação em Defesa e Relações Exteriores com os EUA.
Tradicionalmente dividido em facções com ideais diversos, da mesma forma que o PD (nascido de várias cisões do PLD), o grupo carece de uma doutrina concreta, apesar do fato de que suas aspirações quase sempre parecem estar mais à direita do que as dos demais partidos.
Abe prometeu um crescimento anual de 3%, em boa parte por meio de investimentos em infraestruturas, fórmula já aplicada pelo PLD, que encheu o Japão de aeroportos subutilizados e de modernas estradas que servem apenas regiões enfraquecidas economicamente.
Neto do ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, um dos pró-imperialistas reabilitados em 1952 com o sinal verde americano, Abe também se propôs a antecipar várias reformas polêmicas que já havia tentado durante seu curto mandato.
Entre elas está a de modificar o papel das Forças de Autodefesa para fortalecer sua capacidade e proteger os interesses nacionais em meio à pujança de seus vizinhos, especialmente a China.
O PD de Noda, por sua vez, parece destinado a retornar à oposição, segundo as pesquisas.
O partido que conseguiu derrotar o PLD em 2009 não cumpriu praticamente nenhuma de suas grandes promessas de mudança, como melhorar a taxa de emprego, ativar medidas para aumentar a natalidade ou, sobretudo, aliviar o enorme peso da burocracia.
Também não contribuiu para a difícil tarefa de reinventar o Japão a divisão interna que o partido sofreu durante seus três anos de governo, o que serviu para que o eleitorado revivesse as intrigas que caracterizaram os últimos anos de mandato do PLD.
Traçar com exatidão o mapa político do país após as eleições de dezembro é algo que a maioria dos analistas considera complicado, sobretudo pelo avanço de partidos de recente fundação que tentam se transformar na terceira opção, como o populista e conservador Partido pela Restauração do Japão, liderado pelo polêmico Shintaro Ishihara, ex-governador de Tóquio.
Se o Executivo for de tom conservador, como indicam as últimas pesquisas, o PLD terá que lidar com o domínio do PD na câmara alta do Parlamento, pelo menos até que se renove, em julho de 2013.
Isso deve levar a mais alguns meses de estagnação política; nada de novo em um país dirigido de fato por um aparelho burocrático que o faz funcionar em piloto automático desde os anos 1940, independentemente de quem estiver no governo.