Para sírios, terremoto foi 'pior que as bombas'
"Corremos para a porta de nosso apartamento no terceiro andar. Quando abrimos, todo o prédio desabou", disse um sobrevivente após ser atendido no hospital Al Rahma, na cidade de Darkush, na província de Idlib.
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 14h47.
Em um hospital no noroeste da Síria, Usama Abdelhamid não consegue conter as lágrimas: o prédio onde mora com sua família desabou no meio da noite.
Este morador da cidade de Azmarin, na fronteira com a Turquia, sobreviveu milagrosamente ao violento terremoto de magnitude 7,8 que abalou a área entre o sudeste da Turquia e o norte da Síria na manhã de segunda-feira, 6, causando pelo menos 2.300 mortes no total.
"Estávamos dormindo quando sentimos um forte tremor de terra", contou à AFP.
"Corremos para a porta de nosso apartamento no terceiro andar. Quando abrimos, todo o prédio desabou", disse, após ser atendido no hospital Al Rahma, na cidade de Darkush, na província de Idlib.
Abdelhamid e sua família ficaram debaixo dos escombros de um prédio de quatro andares, mas seu filho conseguiu sair e gritar por ajuda. Logo foram socorridos por pessoas que estavam no entorno, contou o morador, emocionado. Nenhum de seus vizinhos resistiu ao desabamento.
O hospital onde foi atendido está superlotado. Ambulâncias chegam com feridos a todo momento, sobretudo com crianças, relatou um correspondente da AFP. Pelo menos 30 corpos sem vida foram levados à unidade.
Em um dos quartos, vários feridos repousam sobre as camas. Alguns com bandagens na cabeça, outros com fraturas ou hematomas. Em outra ala, uma menina chora ao receber uma injeção e, em seguida, sua mão é engessada. Um menino com a cabeça enfaixada se senta próximo à ela.
"A situação é muito grave, muitas pessoas continuam debaixo dos escombros de prédios residenciais", diz o cirurgião Majid Ibrahim.
Nas áreas controlados pelos rebeldes que lutam contra o regime de Damasco, foram registradas pelo menos 380 mortes.
Mohamed Barakat, pai de quatro filhos, ocupa um dos leitos do hospital com ferimentos no rosto e uma fratura na perna, após ter sido atingido por um muro.
"Saímos da casa porque a planta é baixa e antiga. Mas as paredes dos prédios vizinhos começaram a cair sobre nós quando estávamos na rua", conta.
Na cidade de Sarmada, ao norte de Idlib, um condomínio de edifícios desabou. Entre os restos mortais estão colchões e cobertores.
Um fotógrafo da AFP presenciou equipes de resgate tentando desenterrar os escombros para encontrar sobreviventes, enquanto veículos pesados removiam grandes blocos.
"Juízo final"
Um tremor de magnitude 7,8 atingiu o sul da Turquia e o norte da Síria, país em guerra há quase 12 anos que está dividido em áreas controladas pelo governo e regiões sob comando dos rebeldes.
Assim que Anas Habache, de 37 anos, começou a sentir o tremor, foi procurar o filho e gritou para a esposa grávida correr até a porta de seu apartamento, no terceiro e último andar de um prédio em Aleppo.
"Descemos as escadas como loucos e quando chegamos à rua, vimos dezenas de famílias assustadas", contou.
"Alguns estavam rezando de joelhos, outros choravam, como se fosse o dia do juízo final", acrescentou dizendo nunca ter sentido nada igual nos últimos anos de guerra.
"Isso foi muito pior do que as bombas e as balas", finalizou.