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Para Praga e Bratislava, refugiados muçulmanos são suspeitos

O primeiro-ministro eslovaco, anunciou em novembro que colocará "sob uma lupa" cada um dos muçulmanos que vivem no país

Refugiados: "As violações dos direitos humanos dos imigrantes não são nem isoladas, nem um fato do acaso, mas sistemáticas" (Alexandros Avramidis / Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2015 às 10h38.

Praga - Uma mistura de medo, preconceito e populismo político instigado pelo poder foram uma combinação poderosa na Eslováquia e na República Tcheca e que resultou em forte rejeição à chegada de refugiados muçulmanos a estes países que quase não têm minorias dessa religião.

Enquanto em países da Europa Ocidental como França, Holanda e Áustria o discurso contra os refugiados parte da extrema-direita, na Eslováquia e na República Tcheca são políticos de centro-esquerda que mandam mensagens abertamente islamofóbicas.

"Um muçulmano se define como seguidor do Corão assim como um nazista acredita na superioridade étnica e no antissemitismo e um comunista acredita na luta de classes e na ditadura do proletariado", afirmou recentemente o presidente tcheco, o social-democrata Milos Zeman.

O primeiro-ministro eslovaco, o social-democrata Robert Fico, anunciou em novembro que colocará "sob uma lupa" cada um dos muçulmanos que vivem no país.

Nos dois países, que até 1993 eram um só, a Tchecoslováquia, as comunidades islâmicas são pequenas, de apenas milhares de pessoas, ao contrário da Áustria, onde há 500 mil, ou da Alemanha, que tem 5 milhões.

No entanto, diante da onda migratória do Oriente Médio e dos atentados de novembro em Paris, tchecos e eslovacos parecem estar se sentindo mais ameaçados do que ninguém pela imigração muçulmana, apesar de estes países não sofrerem ataques do islamismo radical e praticamente não concederem asilo a solicitantes refugiados que chegam principalmente de Síria, Iraque e Afeganistão.

Muitos dos pouco mais de 1.200 solicitantes de asilo na República Tcheca ficaram retidos por até 90 dias em centros com más condições de higiene e alimentação deficiente, o que foi duramente criticado pelas Nações Unidas.

A ONU denunciou que eles estavam sendo revistados e tinham o dinheiro confiscado para 'pagar' pela hospedagem em centros qualificados pelas próprias autoridades tchecas como "piores que uma prisão".

"As violações dos direitos humanos dos imigrantes (na República Tcheca) não são nem isoladas, nem um fato do acaso, mas sistemáticas", criticou em outubro o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein.

Essas medidas "parece que são integradas na política do governo tcheco para evitar que os imigrantes entrem ou fiquem no país", acrescentou.

Enquanto isso, na Eslováquia, os serviços de segurança estão monitorando "cada muçulmano em território eslovaco", garantiu Fico após os atentados de Paris.

O primeiro-ministro eslovaco insistiu, assim como Zeman, que suas palavras só respondem ao sentimento geral de sua população.

Também em novembro, o presidente tcheco sustentou em Praga que o islã é uma "cultura de assassinos e de ódio religioso".

Apesar ser o chefe de Estado, Zeman fez essas afirmações em um evento do "Bloco contra o islã", um grupo extremista cujo líder, Martin Konvicka, foi denunciado por incitação ao ódio.

O presidente tcheco usou a liberdade de expressão para justificar suas opiniões contra o islã e contra os refugiados, a maioria muçulmanos, cuja religião diz respeitar "sempre e quando não vierem à Europa".

O ministro de Direitos Humanos tcheco, Jiri Dienstbier, foi um dos poucos políticos do país que criticou o presidente.

"Se criarmos essa atmosfera (contra os muçulmanos), cedo ou tarde haverá ataques contra eles", alertou.

Após os atentados em Paris, uma pesquisa mostrou que dois em cada três tchecos veem com temor os refugiados muçulmanos que chegam à Europa, e 80% temem a expansão do islã.

Essa estendida percepção explicaria o fato de um grupo musical como "Ortel", com letras islamofóbicas, ter ficado em segundo lugar em um recente concurso televisivo decidido por votação popular por telefone.

E em recentes manifestações contra o islã, em Praga, foram gritadas, com total impunidade, palavras de ordem para "incendiar mesquitas" e que diziam que "árabes são assassinos".

Isso levou a associação tcheca de juristas "In Iusticia" a exigir que as autoridades não intervenham contra estes "surtos mais ou menos sutis de islamofobia".

Além disso, Zeman e Fico insistem em relacionar a crise migratória com o terrorismo, o que põe as pequenas comunidades muçulmanas e os poucos asilados em uma situação no mínimo incômoda.

A Fundação Islâmica da Eslováquia assegurou que Fico incita ao ódio e "destruiu o mito de um país democrático e livre".

Fico, longe de negar estas acusações, as rebateu afirmando que quem não vê que entre os refugiados estão terroristas é "tolo e cego".

República Tcheca e Eslováquia rejeitaram as cotas obrigatórias de refugiados pactuadas pela União Europeia e querem receber somente cristãos de Iraque e Síria, argumentando que os muçulmanos não se integrariam bem às sociedades locais.

A Eslováquia acolheu 149 refugiados cristãos do Iraque, e o governo tcheco aprovou recentemente receber 153 iraquianos cristãos em 2016.

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Praga - Uma mistura de medo, preconceito e populismo político instigado pelo poder foram uma combinação poderosa na Eslováquia e na República Tcheca e que resultou em forte rejeição à chegada de refugiados muçulmanos a estes países que quase não têm minorias dessa religião.

Enquanto em países da Europa Ocidental como França, Holanda e Áustria o discurso contra os refugiados parte da extrema-direita, na Eslováquia e na República Tcheca são políticos de centro-esquerda que mandam mensagens abertamente islamofóbicas.

"Um muçulmano se define como seguidor do Corão assim como um nazista acredita na superioridade étnica e no antissemitismo e um comunista acredita na luta de classes e na ditadura do proletariado", afirmou recentemente o presidente tcheco, o social-democrata Milos Zeman.

O primeiro-ministro eslovaco, o social-democrata Robert Fico, anunciou em novembro que colocará "sob uma lupa" cada um dos muçulmanos que vivem no país.

Nos dois países, que até 1993 eram um só, a Tchecoslováquia, as comunidades islâmicas são pequenas, de apenas milhares de pessoas, ao contrário da Áustria, onde há 500 mil, ou da Alemanha, que tem 5 milhões.

No entanto, diante da onda migratória do Oriente Médio e dos atentados de novembro em Paris, tchecos e eslovacos parecem estar se sentindo mais ameaçados do que ninguém pela imigração muçulmana, apesar de estes países não sofrerem ataques do islamismo radical e praticamente não concederem asilo a solicitantes refugiados que chegam principalmente de Síria, Iraque e Afeganistão.

Muitos dos pouco mais de 1.200 solicitantes de asilo na República Tcheca ficaram retidos por até 90 dias em centros com más condições de higiene e alimentação deficiente, o que foi duramente criticado pelas Nações Unidas.

A ONU denunciou que eles estavam sendo revistados e tinham o dinheiro confiscado para 'pagar' pela hospedagem em centros qualificados pelas próprias autoridades tchecas como "piores que uma prisão".

"As violações dos direitos humanos dos imigrantes (na República Tcheca) não são nem isoladas, nem um fato do acaso, mas sistemáticas", criticou em outubro o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein.

Essas medidas "parece que são integradas na política do governo tcheco para evitar que os imigrantes entrem ou fiquem no país", acrescentou.

Enquanto isso, na Eslováquia, os serviços de segurança estão monitorando "cada muçulmano em território eslovaco", garantiu Fico após os atentados de Paris.

O primeiro-ministro eslovaco insistiu, assim como Zeman, que suas palavras só respondem ao sentimento geral de sua população.

Também em novembro, o presidente tcheco sustentou em Praga que o islã é uma "cultura de assassinos e de ódio religioso".

Apesar ser o chefe de Estado, Zeman fez essas afirmações em um evento do "Bloco contra o islã", um grupo extremista cujo líder, Martin Konvicka, foi denunciado por incitação ao ódio.

O presidente tcheco usou a liberdade de expressão para justificar suas opiniões contra o islã e contra os refugiados, a maioria muçulmanos, cuja religião diz respeitar "sempre e quando não vierem à Europa".

O ministro de Direitos Humanos tcheco, Jiri Dienstbier, foi um dos poucos políticos do país que criticou o presidente.

"Se criarmos essa atmosfera (contra os muçulmanos), cedo ou tarde haverá ataques contra eles", alertou.

Após os atentados em Paris, uma pesquisa mostrou que dois em cada três tchecos veem com temor os refugiados muçulmanos que chegam à Europa, e 80% temem a expansão do islã.

Essa estendida percepção explicaria o fato de um grupo musical como "Ortel", com letras islamofóbicas, ter ficado em segundo lugar em um recente concurso televisivo decidido por votação popular por telefone.

E em recentes manifestações contra o islã, em Praga, foram gritadas, com total impunidade, palavras de ordem para "incendiar mesquitas" e que diziam que "árabes são assassinos".

Isso levou a associação tcheca de juristas "In Iusticia" a exigir que as autoridades não intervenham contra estes "surtos mais ou menos sutis de islamofobia".

Além disso, Zeman e Fico insistem em relacionar a crise migratória com o terrorismo, o que põe as pequenas comunidades muçulmanas e os poucos asilados em uma situação no mínimo incômoda.

A Fundação Islâmica da Eslováquia assegurou que Fico incita ao ódio e "destruiu o mito de um país democrático e livre".

Fico, longe de negar estas acusações, as rebateu afirmando que quem não vê que entre os refugiados estão terroristas é "tolo e cego".

República Tcheca e Eslováquia rejeitaram as cotas obrigatórias de refugiados pactuadas pela União Europeia e querem receber somente cristãos de Iraque e Síria, argumentando que os muçulmanos não se integrariam bem às sociedades locais.

A Eslováquia acolheu 149 refugiados cristãos do Iraque, e o governo tcheco aprovou recentemente receber 153 iraquianos cristãos em 2016.

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