Mundo

Paquistanesas continuam sofrendo com ataques com ácido

Crimes de honra eram considerados os motivos dos ataques com ácido contra mulheres, mas recentes agressões cujas causas são desconhecidas semeiam o pânico

Mulher vítima de ataque com ácido no Paquistão (Bay Ismoyo/AFP)

Mulher vítima de ataque com ácido no Paquistão (Bay Ismoyo/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2014 às 14h07.

Quetta - Os crimes de honra familiar eram considerados os únicos motivos dos ataques com ácido que desfiguravam as mulheres no Paquistão, mas recentes agressões cujas causas são desconhecidas semeiam o pânico no Baluchistão.

Todos os anos, cem paquistanesas são vítimas de ataques com ácido, e muitos outros casos não são registrados porque as vítimas têm medo de testemunhar, segundo organizações não governamentais.

A magnitude do fenômeno levou em 2011 o governo a aumentar as penas de prisão (14 anos no mínimo) e as multas para os culpados.

Muitas vítimas conhecem seus agressores. Em geral são pessoas próximas que, depois de identificadas, dizem frequentemente que as puniram por terem manchado sua honra ou de sua família com seu comportamento indecente.

No entanto, durante a última semana foram registrados ataques aparentemente aleatórios no Baluchistão (sudoeste) que sugerem causas e uma forma de operar muito diferentes.

Na segunda-feira, quatro mulheres de 18 a 50 anos sofreram os mesmos ataques em Quetta, em um mercado no bairro de Sariab. Seus rostos foram parcialmente queimados.

"Como indica nossa tradição, vestiam grandes xales e cobriam seus rostos, foi isso o que as salvou de ferimentos maiores", declarou à AFP Naz Bibi, mãe de duas das quatro vítimas.

Ela está furiosa com os agressores, que "jamais deveriam tratar as mulheres desta forma". Mas apesar de seu crime, seguem em liberdade, afirma Mohamad Munzoor, irmão de uma das mulheres desfiguradas com vitríolo.

Suspeitas de motivos políticos

O Baluchistão, uma província paquistanesa desértica que faz fronteira com Afeganistão e Irã, é uma das regiões paquistanesas mais instáveis, atingida pela violência islamita e pelo conflito entre o exército e os insurgentes separatistas.

No entanto, era muito menos afetada pelas agressões com ácido que a província de Penjab (centro), onde os primeiros ataques foram registrados.

No bairro de Sariab, onde ocorreu um dos dois ataques com ácido, alguns sugerem um envolvimento do Ahl e Sunat Wal Jamat (ASWJ), um grupo islamita armado influente na região.

Nenhum suspeito foi preso por estes dois ataques com ácido, que não foram reivindicados. "Neste etapa, é muito cedo para acusar um grupo religioso", afirma Akbar Hussain Durrani, o número dois do ministério provincial do Interior.

Mas alguns nacionalistas do Baluchistão permanecem firmes nesta posição e acusam os grupos do tipo ASWJ, e por trás deles o Estado que supostamente os manipula neste sentido, de realizar estes ataques com ácido com uma finalidade política: aterrorizar as mulheres para que não apoiem os independentistas.

"O objetivo destes atos desumanos é afastar as mulheres da educação, da vida social, econômica e política criando um clima de terror", afirma Jahanzaib Jamaldini, vice-presidente do Partido Nacional do Baluchistão (independentista).

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCrimeMulheresPaquistão

Mais de Mundo

Ucrânia denuncia ataque russo em larga escala contra sistema de energia

Biden visita a Amazônia em meio a temores com retorno de Trump ao poder

Agenda do G20 no Brasil entra na reta final; veja o que será debatido entre os líderes globais

Trump nomeia Chris Wright, executivo de petróleo, como secretário do Departamento de Energia