Papa Francisco reza missa em Cagliari: o Papa sempre denuncia, quando tem oportunidade, a "globalização da indiferença" que facilita tráfico de seres humanos (Giampiero Sposito/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 18h51.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco quer que a Santa Sé lute contra as formas modernas de escravidão, que afetam 27 milhões de pessoas, manifestando preocupação com um tema sobre o qual deve ser realizada uma conferência em 2015, anunciou o Vaticano, após uma reunião de um grupo de especialistas.
Trabalho forçado, prostituição, tráfico de órgãos e demais tráficos mantidos por organizações criminosas internacionais: reunidos durante o fim de semana com as Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais e com a Federação Internacional de Associações Médicas Católicas (FIAMC), sessenta observadores, religiosos e leigos formularam uma proposta contra todas as formas de escravidão que atingem 75% das mulheres e crianças.
"Alguns observadores acreditam que o tráfico humano vai ultrapassar o tráfico de drogas e de armas em dez anos, tornando-se a atividade criminosa mais lucrativa no mundo", declarou nesta segunda-feira em uma coletiva de imprensa o bispo Marcelo Sanchez Sorondo, chefe da Pontifícia Academia das Ciências.
Segundo um especialista entrevistado pela Radio Vaticano, o professor americano Marcelo Suarez-Orozco, o tráfico de seres humanos, mesmo que dificilmente mensurável, gera 30 bilhões de dólares.
A Santa Sé prepara para 2015 uma reunião de quatro dias sobre esta questão.
"Eu gostaria de fazer algo com o material" deste seminário, teria dito o Papa a Sorondo, que destacou o envolvimento pessoal de Francisco em um problema que a Santa Sé, até então, "não havia reconhecido a gravidade".
O Papa sempre denuncia, quando tem a oportunidade, a "globalização da indiferença" que facilita o tráfico de seres humanos, "a escravidão mais comum do século XXI".
Entre as formas de trabalho forçado mais preocupantes, principalmente na América Latina, o pior é o de crianças e adolescentes que vendem drogas, que se tornam "prisioneiros" do tráfico, denunciaram os participantes.
Com as organizações criminosas existe uma "cooperação, às vezes inconsciente, de muitas empresas multinacionais e até mesmo de governos", denunciou o bispo Sorondo.
O tráfico de órgãos também foi discutido neste encontro. Segundo Sorondo, a cada ano 20.000 pessoas são forçadas a dar um órgão (fígado, rim, pâncreas, córnea, pulmão ou coração) às redes criminosas, muitas vezes com a cumplicidade de médicos e enfermeiras.
As redes criminosas, ativas em 160 países, são como "estradas sobre nas quais muitos veículos diferentes podem circular, todos de forma ilegal", revelou o especialista argentino Juan Jose Lach, que ressalta a capacidade de adaptação segundo as demandas "do mercado", ainda que nos últimos anos tenha sido registrado "uma melhoria na qualidade da informação".
A miséria, a falta de instrução, famílias desestruturadas, a proteção e a cumplicidade das autoridades fazem com que muitos jovens em todo o mundo caiam nas redes criminosas.
O presidente da FIAMC, Dr. José Maria Simon Castellvi, elogiou como "uma mudança histórica" a atitude dos participantes frente à prostituição. "A linha é a tolerância zero. A prostituição deve desaparecer, não é um mal menor", disse, ressaltando que "a prostituição está sempre ligada à violência da máfia, às drogas".
Dois milhões de pessoas são vítimas de tráfico sexual por ano, entre elas 60% são meninas, de acordo com dados divulgados durante o seminário.