Mundo

Papa pede perdão pelos horrores cometidos pela Igreja em Ruanda

Francisco se reuniu por 20 minutos a portas fechadas com o presidente de Ruanda e falou sobre o genocídio no país, em 1994

Ruanda: a Igreja católica foi acusada em várias ocasiões de apoiar o regime extremista hutu e de ter participado nas matanças realizadas ao longo de cem dias (Tony Gentile/Reuters)

Ruanda: a Igreja católica foi acusada em várias ocasiões de apoiar o regime extremista hutu e de ter participado nas matanças realizadas ao longo de cem dias (Tony Gentile/Reuters)

A

AFP

Publicado em 20 de março de 2017 às 17h05.

Última atualização em 20 de março de 2017 às 17h05.

O papa Francisco implorou perdão a Deus pelos horrores cometidos pela Igreja no genocídio de Ruanda, em 1994, no encontro que manteve nesta segunda-feira no Vaticano com o presidente ruandês Paul Kagame.

"Imploro o perdão a Deus pelos pecados e faltas da Igreja e de seus membros, entre eles padres, religiosos e religiosas, que cederam ao ódio e à violência, traíram sua missão evangélica", afirmou o Papa ao referir-se ao genocídio em Ruanda que há 23 anos deixou cerca de 800.000 mortos.

O Papa, que se reuniu por 20 minutos a portas fechadas com o presidente de Ruanda, havia oferecido em 2014 o apoio da Igreja católica à reconciliação em Ruanda por ocasião dos 20 anos de genocídio.

O massacre de quase um terço da população de Ruanda, a maioria pertencente à minoria tutsi, foi realizada pela maioria hutu ante a total indiferença do resto do mundo.

Diante do presidente africano, o Papa voltou a recordar, como fez em 2014, as vítimas do genocídio.

"Manifesto a profunda dor, da Santa Sé e de toda a Igreja, pelo genocídio contra os tutsi e expresso solidariedade às vítimas e a todos que padeceram por esses trágicos eventos", afirmou o chefe da Igreja, segundo a nota divulgada pelo Vaticano.

Francisco também recordou o gesto de João Paulo II durante o Jubibeu de 2000, quando, pela primeira vez, pediu perdão pelos horrores cometidos pelos membros da Igreja nesse país africano.

A Igreja católica foi acusada em várias ocasiões de apoiar o regime extremista hutu e de ter participado nas matanças realizadas ao longo de cem dias.

Vários sacerdotes e freiras foram julgados pela sua participação no genocídio, principalmente pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR).

Em 21 de novembro passado, a Igreja católica de Ruanda, em uma carta assinada pelos nove bispos do país, voltou a pediu perdão em nome de todos os católicos que participaram do genocídio.

Com esse "humilde gesto de reconhecimento das faltas cometidas", o papa argentino deseja "contribuir com uma 'purificação da memória' e promover com esperança e confiança renovada um futuro de paz", afirma o comunicado.

Difícil reconciliação

O religioso mais importante da Igreja que foi julgado por genocídio foi o falecido bispo Augustin Misago, que foi absolvido e liberto da prisão em junho de 2000.

Durante as homenagens pelo 20º aniversário da tragédia, em abril de 2014, Kagame acusou a Igreja católica de ter "participado plenamente" na difusão da ideologia colonial que gerou a divisão entre hutus e tutsis e que levou ao genocídio.

O governo ruandês considera que o pedido de perdão local não é suficiente tendo em vista os crimes cometidos.

A ministra das Relações Exteriores de Ruanda, Louise Mushikiwabo, que acompanhou Kagame ao Vaticano, disse à imprensa que a reunião foi realizada em "um espírito de abertura e respeito mútuo".

Ressaltou, ainda, o papel atual da igreja ao "facilitar" os esforços para ajudar os sobreviventes e os verdugos arrependidos a viverem e trabalharem uns ao lado dos outros, disse.

A ministra advertiu que ainda há pessoas na Igreja que protegem os autores do genocídio.

"Hoje em dia, a negação e a trivialização do genocídio continuam florescendo em certos grupos dentro da Igreja, e vários suspeitos de genocídio foram protegidos da justiça dentro das instituições católicas", assegurou.

Cerca da metade dos ruandeses são atualmente católicos, e a outra metade recorreu às igrejas pentecostais depois do genocídio.

Acompanhe tudo sobre:Igreja CatólicaMortesPapa Francisco

Mais de Mundo

Três pontos para prestar atenção na Convenção Republicana, que começa segunda

Argentina declara Hamas como 'organização terrorista internacional'

Para Rússia, mísseis dos EUA na Alemanha transforma capitais europeias em 'vítimas potenciais'

Esquerda francesa enfrenta impasse para nomear primeiro-ministro; entenda

Mais na Exame