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Papa pede fim das "divisões estéreis" em missa nos EUA

"O desafio de proteger nossa casa inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca por um desenvolvimento sustentável e integral", disse o papa

Papa Francisco em missa de adeus aos EUA: "O desafio urgente de proteger nossa casa inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca por um desenvolvimento sustentável e integral" (David Maialetti/Pool/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2015 às 07h22.

O papa Francisco pediu, neste domingo, na Filadélfia (leste dos EUA), que sejam deixadas de lado as "divisões estéreis" e para se "proteger" o mundo, em uma missa multitudinária que encerrou sua bem sucedida visita aos Estados Unidos , após se reunir com vítimas de padres pedófilos.

"Nossa casa comum não tolera mais divisões estéreis. O desafio urgente de proteger nossa casa inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca por um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar", disse o papa.

Em sua despedida, após seis dias de viagem por Washington, Nova York e Filadélfia, o sumo pontífice argentino, de 78 anos, fez um apelo à unidade, ao diálogo e à tolerância diante de centenas de milhares de pessoas vindas de todo o mundo para participar do VIII Encontro Mundial da Família.

Francisco percorreu as ruas da cidade a bordo do papamóvel em meio a uma grande ovação de milhares de pessoas, até chegar ao palco gigante montado na avenida Benjamin Franklin Parkway, constatou a AFP.

Acompanhado de bispos americanos, o papa iniciou, passadas as 16H00 locais (17H00 de Brasília), os primeiros ritos da cerimônia, em uma tarde nublada e fresca.

Uma multidão lotava as ruas da Filadélfia para a missa, na qual são aguardadas 1,5 milhão de pessoas de todas as partes do mundo.

"Queremos viver todo o clima com a multidão, com toda esta gente que está aqui pela mesma razão", disse Rwan Oneill, um americano de 27 anos, acompanhado de uma amiga.

"Nunca vi tanto entusiasmo. Todo mundo está unido", disse o guatemalteco Manuel Portillo, de 54 anos, que mora há 22 na Filadélfia.

Para Nicole, de 31 anos, disse "apreciar que Francisco tenha o espírito mais aberto que seus antecessores", embora não se declare católica.

Ao fim da missa, anunciou-se que o próximo Encontro das Famílias será celebrado em 2018 em Dublin, Irlanda.

"Deus chora"

Antes da missa, pela manhã, Francisco reuniu-se com vítimas de padres pedófilos, além de educadores e membros das suas famílias, e declarou que "Deus chora" por esses crimes, no último dia de sua passagem pelos Estados Unidos.

"Deus chora. Os crimes contra menores não podem ser mantidos em segredo por mais tempo", afirmou Francisco, em reunião com bispos norte-americanos pela manhã, quando falou sobre o encontro com vítimas de pedofilia da Igreja.

"Eu me comprometo com a zelosa vigilância da Igreja para proteger os menores e prometo que os responsáveis vão responder por seus atos", declarou o papa.

Francisco recebeu durante meia hora em um seminário três mulheres e dois homens, "vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero, educadores e membros de suas famílias", informou em um comunicado do Vaticano.

"Irmãos bispos, bom dia. Carrego gravado em meu coração essas histórias, o sofrimento e a dor dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes", afirmou o a Papa no início da reunião com os bispos, acrescentando que "aqueles que sofreram, tornaram-se verdadeiros heróis da misericórdia".

A Filadélfia, cidade da costa oeste americana a meio caminho entre Washington e Nova York, foi uma das regiões mais atingidas nos Estados Unidos por este escândalo na década de 1980.

"O Papa escutou os testemunhos dos visitantes e lhes dirigiu algumas palavras, antes de falar com cada um individualmente", informou o Vaticano.

Francisco já havia tratado o caso em várias ocasiões durante esta viagem, mas sempre de forma discreta.

Seu antecessor, Bento XVI, encontrou-se com vítimas da pedofilia em Boston, em 2008.

Para a ala mais dura dos afetados, a rede de sobreviventes dos abusados por sacerdotes (Snap, na sigla em inglês), a reunião foi "uma simples operação de relações públicas", segundo um comunicado.

Visita à prisão

Após o encontro com as vítimas e sua apresentação diante dos bispos, o papa fez uma atividade que costuma integrar suas viagens oficiais: visitou a prisão de Curran-Fromhold, nos arredores da Filadélfia.

"Estou aqui como pastor mas sobretudo como irmão para compartilhar de sua situação e fazê-la minha também", disse em discurso antes de cumprimentar com um aperto de mãos cada um dos detentos, sentados em filas numa grande sala.

Francisco chegou a trocar palavras com alguns deles e recebeu de presente uma cadeira fabricada pelos detentos.

Em sua mensagem em espanhol, disse que é "triste constatar que os sistemas prisionais não buscam curar as feridas, sanar as feridas, dar novas oportunidades".

Esta décima viagem do primeiro papa das Américas começou em Cuba, onde pediu que o país continue no caminho da reconciliação.

Muito envolvido no restabelecimento do diálogo entre Havana e Washington, Francisco foi recebido muito calorosamente e pessoalmente pelo presidente Barack Obama no aeroporto e na Casa Branca.

Desde sua chegada a Washington, que também incluiu um discurso inédito na quinta-feira ante as duas casas do Congresso, Francisco despertou grande alegria, com multidões que o seguiram para todas as partes.

Tratado como uma estrela do rock, o Papa se manteve firme em seus princípios de humildade e proximidade com os setores mais vulneráveis, despertando a admiração de líderes de todas as classes políticas, da imprensa e até mesmo dos não-católicos.

Em Nova York, deixou uma forte mensagem na ONU contra a opressão financeira sobre o mundo em desenvolvimento e a favor da luta contra as mudanças climáticas, antes de visitar o Memorial do 11 de Setembro.

Paladino dos imigrantes

Para os milhões de imigrantes em situação irregular que vivem nos Estados Unidos, Francisco tornou-se um verdadeiro paladino, defendendo-os e pedindo respeito pela sua dignidade e identidade.

Filho de italianos, exortou-os no sábado a "não desanimar" e "nunca se envergonhar" em um discurso simbólico no local da declaração de independência dos Estados Unidos em 1776.

Através de exemplos históricos como Abraham Lincoln ou Martin Luther King, ele pediu aos americanos para lembrar os valores fundadores da nação.

Muitos imigrantes latino-americanos acreditam que o Papa mudou o rumo do debate sobre a reforma da imigração nos Estados Unidos, uma das pedras angulares da campanha presidencial de 2016.

"O Papa pode interceder para ajudar os imigrantes e parar as deportações", disse à AFP Marta Dominguez, uma mexicana que vive em Norristown (32 km ao norte da Filadélfia) que esteva no Independence Hall.

Capaz de um diálogo franco, sem frases enigmáticas, também defendeu a família como a "fábrica de esperança", em um discurso improvisado para uma multidão.

Com a sabedoria popular que provoca tanta admiração entre os seus seguidores, Francisco pediu para que as famílias superem suas dificuldades com paciência e amor e nunca terminem o dia "sem se reconciliar".

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O papa Francisco pediu, neste domingo, na Filadélfia (leste dos EUA), que sejam deixadas de lado as "divisões estéreis" e para se "proteger" o mundo, em uma missa multitudinária que encerrou sua bem sucedida visita aos Estados Unidos , após se reunir com vítimas de padres pedófilos.

"Nossa casa comum não tolera mais divisões estéreis. O desafio urgente de proteger nossa casa inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca por um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar", disse o papa.

Em sua despedida, após seis dias de viagem por Washington, Nova York e Filadélfia, o sumo pontífice argentino, de 78 anos, fez um apelo à unidade, ao diálogo e à tolerância diante de centenas de milhares de pessoas vindas de todo o mundo para participar do VIII Encontro Mundial da Família.

Francisco percorreu as ruas da cidade a bordo do papamóvel em meio a uma grande ovação de milhares de pessoas, até chegar ao palco gigante montado na avenida Benjamin Franklin Parkway, constatou a AFP.

Acompanhado de bispos americanos, o papa iniciou, passadas as 16H00 locais (17H00 de Brasília), os primeiros ritos da cerimônia, em uma tarde nublada e fresca.

Uma multidão lotava as ruas da Filadélfia para a missa, na qual são aguardadas 1,5 milhão de pessoas de todas as partes do mundo.

"Queremos viver todo o clima com a multidão, com toda esta gente que está aqui pela mesma razão", disse Rwan Oneill, um americano de 27 anos, acompanhado de uma amiga.

"Nunca vi tanto entusiasmo. Todo mundo está unido", disse o guatemalteco Manuel Portillo, de 54 anos, que mora há 22 na Filadélfia.

Para Nicole, de 31 anos, disse "apreciar que Francisco tenha o espírito mais aberto que seus antecessores", embora não se declare católica.

Ao fim da missa, anunciou-se que o próximo Encontro das Famílias será celebrado em 2018 em Dublin, Irlanda.

"Deus chora"

Antes da missa, pela manhã, Francisco reuniu-se com vítimas de padres pedófilos, além de educadores e membros das suas famílias, e declarou que "Deus chora" por esses crimes, no último dia de sua passagem pelos Estados Unidos.

"Deus chora. Os crimes contra menores não podem ser mantidos em segredo por mais tempo", afirmou Francisco, em reunião com bispos norte-americanos pela manhã, quando falou sobre o encontro com vítimas de pedofilia da Igreja.

"Eu me comprometo com a zelosa vigilância da Igreja para proteger os menores e prometo que os responsáveis vão responder por seus atos", declarou o papa.

Francisco recebeu durante meia hora em um seminário três mulheres e dois homens, "vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero, educadores e membros de suas famílias", informou em um comunicado do Vaticano.

"Irmãos bispos, bom dia. Carrego gravado em meu coração essas histórias, o sofrimento e a dor dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes", afirmou o a Papa no início da reunião com os bispos, acrescentando que "aqueles que sofreram, tornaram-se verdadeiros heróis da misericórdia".

A Filadélfia, cidade da costa oeste americana a meio caminho entre Washington e Nova York, foi uma das regiões mais atingidas nos Estados Unidos por este escândalo na década de 1980.

"O Papa escutou os testemunhos dos visitantes e lhes dirigiu algumas palavras, antes de falar com cada um individualmente", informou o Vaticano.

Francisco já havia tratado o caso em várias ocasiões durante esta viagem, mas sempre de forma discreta.

Seu antecessor, Bento XVI, encontrou-se com vítimas da pedofilia em Boston, em 2008.

Para a ala mais dura dos afetados, a rede de sobreviventes dos abusados por sacerdotes (Snap, na sigla em inglês), a reunião foi "uma simples operação de relações públicas", segundo um comunicado.

Visita à prisão

Após o encontro com as vítimas e sua apresentação diante dos bispos, o papa fez uma atividade que costuma integrar suas viagens oficiais: visitou a prisão de Curran-Fromhold, nos arredores da Filadélfia.

"Estou aqui como pastor mas sobretudo como irmão para compartilhar de sua situação e fazê-la minha também", disse em discurso antes de cumprimentar com um aperto de mãos cada um dos detentos, sentados em filas numa grande sala.

Francisco chegou a trocar palavras com alguns deles e recebeu de presente uma cadeira fabricada pelos detentos.

Em sua mensagem em espanhol, disse que é "triste constatar que os sistemas prisionais não buscam curar as feridas, sanar as feridas, dar novas oportunidades".

Esta décima viagem do primeiro papa das Américas começou em Cuba, onde pediu que o país continue no caminho da reconciliação.

Muito envolvido no restabelecimento do diálogo entre Havana e Washington, Francisco foi recebido muito calorosamente e pessoalmente pelo presidente Barack Obama no aeroporto e na Casa Branca.

Desde sua chegada a Washington, que também incluiu um discurso inédito na quinta-feira ante as duas casas do Congresso, Francisco despertou grande alegria, com multidões que o seguiram para todas as partes.

Tratado como uma estrela do rock, o Papa se manteve firme em seus princípios de humildade e proximidade com os setores mais vulneráveis, despertando a admiração de líderes de todas as classes políticas, da imprensa e até mesmo dos não-católicos.

Em Nova York, deixou uma forte mensagem na ONU contra a opressão financeira sobre o mundo em desenvolvimento e a favor da luta contra as mudanças climáticas, antes de visitar o Memorial do 11 de Setembro.

Paladino dos imigrantes

Para os milhões de imigrantes em situação irregular que vivem nos Estados Unidos, Francisco tornou-se um verdadeiro paladino, defendendo-os e pedindo respeito pela sua dignidade e identidade.

Filho de italianos, exortou-os no sábado a "não desanimar" e "nunca se envergonhar" em um discurso simbólico no local da declaração de independência dos Estados Unidos em 1776.

Através de exemplos históricos como Abraham Lincoln ou Martin Luther King, ele pediu aos americanos para lembrar os valores fundadores da nação.

Muitos imigrantes latino-americanos acreditam que o Papa mudou o rumo do debate sobre a reforma da imigração nos Estados Unidos, uma das pedras angulares da campanha presidencial de 2016.

"O Papa pode interceder para ajudar os imigrantes e parar as deportações", disse à AFP Marta Dominguez, uma mexicana que vive em Norristown (32 km ao norte da Filadélfia) que esteva no Independence Hall.

Capaz de um diálogo franco, sem frases enigmáticas, também defendeu a família como a "fábrica de esperança", em um discurso improvisado para uma multidão.

Com a sabedoria popular que provoca tanta admiração entre os seus seguidores, Francisco pediu para que as famílias superem suas dificuldades com paciência e amor e nunca terminem o dia "sem se reconciliar".

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