Howard Yu, professor de inovação e líder do Centro de Preparo para o Futuro do IMD (Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 06h14.
As tarifas de importação que Donald Trump pretende implantar quando tomar posse como presidente dos Estados Unidos, em janeiro, serão um dos principais riscos para as empresas em 2025, pois as barreiras comerciais poderão dificultar a circulação e o acesso a produtos e matérias-primas, como ocorreu na pandemia.
As empresas que digitalizaram seu gerenciamento de suprimentos e que adotaram novas tecnologias terão vantagem neste cenário, avalia Howard Yu, professor de inovação e líder do Centro de Preparo para o Futuro do IMD (Institute for Management Development), com sede na Suíça.
"Quando as tarifas se tornam tão imprevisíveis, os únicos que prosperam são aqueles que conseguem mover o inventário, obter matéria-prima e corresponder à demanda mais rápido que os outros. Tudo isso exige dados e uma cadeia de suprimentos digital", diz Yu, em entrevista à EXAME.
Nas últimas semanas, Trump ameaçou impor tarifas extras a China, México e Canadá, de forma mais explícita, e disse que considera fazer o mesmo com União Europeia e Brasil.
O IMD faz diversos estudos sobre como as empresas e países se adaptam ao futuro. No Ranking Mundial de Competitividade Digital, divulgado em novembro, o Brasil ficou na 57ª posição, de um total de 67 países. Veja a seguir a entrevista completa com Yu.
Como as novas tarifas que Trump está propondo podem impactar a economia e especialmente países como o Brasil?
Esta é grande incógnita à frente. Existem certas coisas que, se as organizações fizerem bem, conseguirão estar um passo à frente das outras. Por exemplo, a capacidade digital da cadeia de suprimentos. Quando sua cadeia é controlada digitalmente, você pode reagir às mudanças um pouco mais rápido do que os outros. Pode estocar ou redirecionar seu inventário para outro mercado. Estou falando tanto do lado da oferta quanto da demanda. Porque quando as tarifas se tornam tão imprevisíveis, os únicos que prosperam são aqueles que conseguem mover o inventário, obter matéria-prima e corresponder à demanda mais rápido que os outros. Tudo isso exige dados e uma cadeia de suprimentos digital. A cadeia de suprimentos digital, como sabemos, tem sido discutida há décadas. O que está surgindo com a administração Trump é um teste para ver quem realmente já se adaptou. Todos nós enfrentamos a pandemia. Não há desculpa para não estar preparado agora.
As empresas não aproveitaram bem as lições da pandemia?
Algumas sim, mas outras não, porque é da natureza humana. Algumas empresas pensam: "Ah, voltamos ao normal". Já outras empresas investem agressivamente em transformação digital. Aí vemos, em nosso indicador de preparo para o futuro que sempre há uma lacuna. Embora você veja relatórios onde todos dizem a mesma coisa como estratégia, quando você faz uma análise de big data, percebe que algumas empresas estão muito mais preparadas para IA e digitalmente avançadas do que outras.
Além das tarifas, quais outros riscos vê para a economia global e as empresas em 2025?
A tensão entre os EUA e a China não vai ser nada bonita. Gostemos ou não, o mundo inteiro está muito entrelaçado com essas duas superpotências. Pense na fabricação de carros. São materiais se movendo ao redor do mundo, e a China ainda tem o maior mercado automobilístico. O risco potencial em Taiwan é enorme, porque tudo está relacionado aos chips da [fabricante] TSMC. Se algo acontecer, é como se a computação em nuvem parasse. Não teríamos mais IA. Então, isso é geopolítica, o risco número um.
Qual o risco número 2?
O segundo é o risco iminente de recessão. Os números da Europa não parecem bons neste momento. A China está desacelerando. Os EUA parecem estar bem no mercado de ações, mas, fundamentalmente, em termos de saúde econômica, cada vez mais pessoas levantam questões. E, claro, sabemos que a nova administração [Trump] não vai reduzir a dívida [pública]. O endividamento excessivo sempre causa grandes problemas no futuro. Os riscos geopolíticos e econômicos certamente afetarão a confiança do consumidor a longo prazo em 2025.
O que as empresas podem aprender com as companhias que se destacam nos rankings que vocês elaboraram no IMD?
Cada setor ilustra um ou dois pontos que podem ser aplicados a diferentes organizações. Na tecnologia, a Nvidia está no topo, porque é enorme a participação dela no boom da IA. O que aprendemos com o setor de tecnologia é que é necessário investir agressivamente em P&D, manter uma diversidade saudável de ideias, investir antecipadamente, mas também garantir resultados de curto prazo. É um equilíbrio complicado para que as organizações permaneçam prontas para o futuro. No caso da Nvidia, o notável não é apenas a produção de ótimas GPUs (chips de processamento gráfico), mas a camada de software que eles criaram. A Nvidia permitiu que qualquer programador de software no mundo experimentasse suas GPUs por meio de uma interface de usuário fácil de adotar. Essa é uma lição valiosa. Se você é uma empresa B2B, precisa pensar em formas de facilitar a adoção do seu produto pelos clientes. Não se trata apenas de explicar os detalhes do seu produto, mas de oferecer ferramentas padrão e fáceis de usar.
Teria outros exemplos?
A BASF, ao vender produtos agrícolas globalmente, oferece agricultura personalizada, garantindo que os agricultores individuais possam utilizar técnicas de agricultura de precisão com facilidade. Esse é exatamente o conceito: mesmo se você for uma empresa B2B ou do setor agrícola, pense como a Nvidia. Desenvolva ferramentas que facilitem a adoção, não apenas produtos, mas serviços fáceis de usar.