Países Baixos abrem eleições da UE e duelos com a extrema direita
Aliança formada pela Esquerda Verde e pelo conquistaria oito assentos, à frente do líder da extrema direita Geert Wilders, segundo pesquisas de boca de urna
Agência de notícias
Publicado em 6 de junho de 2024 às 19h49.
Os Países Baixos abriram, nesta quinta-feira, 6, os três dias de eleições para designar as autoridades da União Europeia, em um pleito cuja principal incógnita é medir a força da extrema direita no bloco.
De acordo com as primeiras pesquisas de boca de urna, a aliança formada pela Esquerda Verde e pelo Partido Trabalhista, liderada pelo antigo comissário europeu Frans Timmermans, conquistaria oito assentos, à frente do líder da extrema direita Geert Wilders e do seu Partido pela Liberdade (PVV) com sete.
As pesquisas previam uma vitória do PVV, que em novembro obteve uma vitória surpreendente nas eleições nacionais e formou uma coalização com três partidos de direita que promete promover a “política de imigração mais dura já aplicada” no país.
Ainda assim, o PVV registra progressos notáveis, já que até agora tinha apenas uma cadeira. Os resultados finais serão conhecidos na noite de domingo, quando terminarem as eleições nos 27 países da UE.
A engenheira Claudia Balhuizen, a primeira a votar em um dos centros eleitorais holandeses, disse que para ela as questões prioritárias são a educação e as questões climáticas, “porque estamos arruinando o planeta”.
Por outro lado, a funcionária pública Simone Nieuwenhuys, eleitora do PVV, sublinhou a sua preocupação com a questão da imigração. "Acho que somos abertos demais. Deveríamos ser mais críticos sobre quem deixamos entrar, porque isso custa muito dinheiro", declarou.
Novo ciclo político
Cerca de 370 milhões de pessoas foram convocadas às urnas e os resultados vão preencher os 720 assentos do Parlamento Europeu.
Os eurodeputados nomearão então os líderes das outras duas principais instituições do bloco: a Comissão Europeia, o braço executivo, e o Conselho Europeu, que representa os países.
A atual presidente da Comissão, a alemã Ursula von der Leyen, é candidata a um novo mandato de cinco anos, com o apoio da bancada do Partido Popular Europeu (PPE), composta por partidos de direita.
As pesquisas projetam um crescimento acentuado dos partidos de extrema direita, que poderão ocupar um quarto dos assentos, uma perspectiva que desperta incertezas sobre o equilíbrio político dos próximos cinco anos.
Esse percentual é insuficiente para formar uma maioria, mas tornaria a extrema direita um interlocutor imprescindível para chegar a acordos importantes.
"Se a França enviar uma delegação de extrema direita muito grande, se outros grandes países fizerem o mesmo, a Europa poderá ser bloqueada", alertou o presidente francês de centro direita Emmanuel Macron.
De acordo com as pesquisas, o PPE continuará tendo a principal bancada do Parlamento, seguido pelo bloco Socialistas e Democratas (S&D, social-democratas).
A bancada centrista Renovar Europa e os Verdes surgem como os mais afetados pelo fortalecimento da extrema direita.
Equilíbrio sob ameaça
Se as pesquisas se confirmarem, a nova composição poderá ameaçar o equilíbrio tripartite – entre o PPE, o S&D e o Renovar Europa – que nos últimos cinco anos permitiu importantes acordos fundamentais.
Von der Leyen já abriu as portas para alianças específicas com os setores de extrema direita mais inclinados para a UE, mas este cenário dificultaria qualquer entendimento com os sociais-democratas, centristas ou verdes.
As pesquisas anunciam uma vitória do Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen na França, do pós-fascista Irmãos da Itália, ao qual pertence a primeira-ministra Giorgia Meloni e do partido de extrema direita Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban. A extrema direita também registraria avanços na Alemanha e na Polônia.
Na Espanha, o conservador Partido Popular espera cumprir a previsão das pesquisas que lhe dão vantagem sobre Partido Socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez, enquanto o Vox, de extrema direita, espera galgar posições.
O interesse fundamental dos eleitores está sobretudo ligado às realidades de cada país, mas o denominador comum é a preocupação com a inflação e o custo de vida, a insegurança e a imigração. Vários estudos sugerem que a guerra na Ucrânia também ocupa um lugar de destaque nas preocupações dos europeus.