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Padres rebeldes dizem que sem reformas, Igreja perderá fiéis

O grupo "Iniciativa dos Padres" se rebelou contra o Vaticano em 2011 e iniciou um movimento ao qual já se uniram 3.500 párocos na Europa e nos Estados Unidos


	Papa Francisco: se o papa não realizar a modernização da Igreja, os católicos, decepcionados, abandonarão a religião em massa, acreditam os padres "rebeldes"
 (AFP)

Papa Francisco: se o papa não realizar a modernização da Igreja, os católicos, decepcionados, abandonarão a religião em massa, acreditam os padres "rebeldes" (AFP)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2013 às 12h13.

Viena - Milhares de sacerdotes na Europa e nos Estados Unidos se uniram a uma chamada à "desobediência" de hierarquia, o que não veem como heresia, mas uma advertência: se o papa Francisco não realizar a modernização da Igreja, os católicos, decepcionados, abandonarão a religião em massa.

"A insatisfação chegou até o núcleo, inclusive até as camadas mais leais que vão todos os domingos na igreja", disse em entrevista à Agência Efe Helmut Shüller, porta-voz do grupo de padres austríacos, que em 2011 se rebelou contra o Vaticano e iniciou um movimento ao qual já se uniram 3.500 párocos na Europa e nos Estados Unidos.

O chamado grupo "Iniciativa dos Padres" publicou em junho de 2011 um manifesto no qual "perante a rejeição de Roma de uma reforma que há tempos é necessária", declarava obrigado a seguir sua própria consciência e atuar independentemente dos ditados do Vaticano.

Apoiar a ordenação de mulheres e homens, dar comunhão a todos os "fiéis de boa vontade", "inclusive divorciados" e permitir que também os laicos prediquem a palavra de Deus são algumas das "desobediências" às quais se comprometeu um grupo de padres.

O apoio de cerca de 1000 sacerdotes na Irlanda e nos Estados Unidos, cerca de 700 na Alemanha, mais de 540 na Suíça, contatos com a América Latina, especialmente com o Brasil, e com a África fez destes desobedientes a principal ameaça para a hierarquia vaticana.

O pároco Schüller, cuja rebeldia foi castigada com a retirada do título de "monsenhor", se mostra esperançoso de que a escolha de Francisco suponha o começo da abertura da Igreja, embora advirta que há forças, liderados pelo Opus Dei, que vão pressionar o papa.

Embora reconheça que ainda não está claro se o papa quer iniciar essas reformas, quem nos anos 90 foi diretor de Caritas Áustria, considera que em volta de Jorge Mario Bergoglio "há uma grande pressão por conta das expectativas".

"Esperamos com interesse e não queremos ser mal-educados e impacientes, mas em breve tem que haver sinais", disse Shüller, porque caso contrário pode ser produzido um efeito negativo.


"Se essa esperança se transformar em decepção, vão acontecer duas coisas: muitos vão abandonar a Igreja e os que querem mudanças, vão exigí-las", afirma.

Em qualquer caso, se Francisco decidir fazer mudanças, Schüller acredita que terá que buscar ajuda e enfrentar as congregações mais conservadoras, como o Opus Dei, Comunhão e Libertação e os Legionários de Cristo.

"Está claro que para o Opus Dei, a escolha de Francisco foi uma derrota. Mas o sistema ainda está aí, há muito poder e muito dinheiro, há muitos interesses. É quase possível ter um pouco de medo pelo papa, não deixa de ser perigoso", adverte.

"Há décadas, a administração (vaticana) é fortemente controlada por esses movimentos", explica.

"O maior poder consiste em não fazer nada, como após o Concílio Vaticano II, quando simplesmente não se aplicou o que tinha sido acordado", lembra.

Segundo Schüller, qualquer um que trate de reformar coisas nos Bancos Vaticano vai se encontrar com gente dura "que não tem escrúpulos".

Schüller encoraja o papa a buscar apoio dos bispos e transformar seu sínodo em um órgão de co-governo da Igreja.

Nessa luta de poder e interesses, o ex-vigário geral insiste em que o pilar essencial da Igreja são as comunidades.

"As paróquias ativas são o elemento mais importante da Igreja" e necessitam de apoio e sacerdotes disponíveis, destaca.

"Se essa é a prioridade, é possível permitir que só os homens sejam sacerdotes e expulsar homens com talento simplesmente porque estão dispostos a se casar?", coloca, lembrando que justo esses são os eixos de sua chamada à desobediência.

Schüller compara o afastamento da Igreja com seus fiéis com a proximidade e a acessibilidade que faz com que os cultos evangélicos ganhem terreno na América Latina.

Quem fora defensor das vítimas de abusos sexuais na diocese de Viena rejeita que sua iniciativa seja cismática e assegura que justo essa demonstração que pode ser crítica dentro da Igreja, fez com que muitos fiéis não a abandonem.

Com relação ao fato da "desobediência" não ter chegado ainda na Itália, Espanha ou no leste da Europa, Schüller adverte que essa onda chegará e lembra que na Irlanda "a Igreja e o povo eram um" e, no entanto, agora é um dos eixos do movimento de rebeldia.

Isso está relacionado com a perda de confiança na Igreja pelas ocultações nos casos de abusos a menores, assegura.

"Vamos ficar supresos com o que virá da Polônia, do leste da Europa e do sul da Europa" onde, disse, ainda não foram destapados esses escândalos.

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