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Outra capital para o Egito?

Os enormes e complicados engarrafamentos, poluição e muitos bairros da cidade do Cairo fazem com que o governo estude criar um novo centro administrativo


	Vista de Cairo: iniciativa poderia ser concluída em dois anos por US$200 milhões
 (Sean Gallup/Getty Images)

Vista de Cairo: iniciativa poderia ser concluída em dois anos por US$200 milhões (Sean Gallup/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 10h26.

Cairo - O Cairo é uma cidade que tem o encantamento do Rio Nilo, seus históricos monumentos e minaretes, mas também enormes e complicados engarrafamentos, poluição e muitos bairros.

Poderia esse lugar se livrar desses problemas se deixasse de ser a capital do Egito?

Para acabar com o congestionamento, o governo estuda atualmente a criação de um novo centro administrativo.

Os ministérios, prédios oficiais, casas de funcionários e embaixadas seriam transferidas a uma região ainda não especificada mais ao leste do Cairo, na estrada que leva ao Canal de Suez.

Um porta-voz do Ministério da Habitação explicou à Agência Efe que essa iniciativa, que poderia ser concluída em dois anos por US$200 milhões, é apenas uma possibilidade sobre a qual não há nada decidido.

Contudo, seu anúncio coincide com o interesse mostrado pelo presidente do país, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, em descentralizar o Estado e criar novas divisões territoriais para desenvolver todo o país.

Com a proposta de uma capital alternativa ao Cairo, as autoridades recuperaram parte de um projeto que incluía essa e outras ideias para melhorar a qualidade de vida na cidade, e que data de tempos de Hosni Mubarak, mais precisamente de 2007, sob o sugestivo título "Cairo 2050".

Não é um exemplo de ficção científica, mas quase. Bulevar na avenida que leva às Pirâmides de Gizé, arranha-céus, jardins nas margens do Nilo e polos recreativos em áreas carentes faziam parte do projeto originário.

Seu objetivo se parece ao de outras metrópoles como Paris, Tóquio ou Abu Dhabi, que criaram grandes planos urbanísticos em longo prazo, apesar de a capital egípcia enfrentar problemas estruturais próprios que complicam qualquer remodelação.

"Esses tipos de planos só existem no papel e não podem ir para frente enquanto não seguirem os procedimentos legais", como ter a aprovação do parlamento ou do Executivo, afirmou à Efe o principal assessor estratégico da ONU-Habitat no Egito, Basim Fahmi.

A falta de financiamento e coordenação entre administrações, garantiu Fahmi, são outros obstáculos que lançam dúvidas sobre a remota possibilidade que o Cairo possa ser preenchido de áreas verdes ou que uma moderna rede de transporte substitua o atual caos viário.

O conselheiro desse programa das Nações Unidas se diz incapaz de imaginar esse tipo de mudança e lamenta que desde a revolução que derrubou Mubarak, em 2011, não houve investimento nem na manutenção das infraestruturas da cidade.

O trânsito é um dos principais quebra-cabeças para as aproximadamente 20 milhões de pessoas que habitam o Cairo (um quarto da população egípcia), um número que poderia aumentar até 25 milhões em 2025.

Segundo um recente relatório do Banco Mundial, os engarrafamentos em uma área metropolitana tão densa quanto a do Cairo custam ao país cerca de US$ 8 bilhões por ano, 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma perda de dinheiro e tempo, pois se calcula que na hora do rush só se percorrem de 6km/h a 25 km/h nas ruas.

Fahmi acrescentou que os bairros pobres sem serviços básicos que rodeiam a capital se multiplicaram, acolhendo 40% dos residentes do Cairo, enquanto as cidades satélite - construídas nas últimas décadas, principalmente para os mais endinheirados - concentram menos habitantes do que o planejado.

"Trata-se de pensar no futuro", sustentou o assessor, que cita Londres como exemplo de cidade moderna que não tem nada a ver com o que era no século XIX.

No caso do Cairo, a cidade mais povoada do Oriente Médio que em sua longa história já passou pelas mãos de fatímidas, mamelucos, otomanos e demais povos, outra capital poderia aliviar suas cargas.

Assim acredita o professor de Planejamento Urbano da Universidade de Alexandria Mohsen Zahran, que em artigo publicado na revista em inglês "Al-Ahram" lembra que Brasília, Washington DC, Ottawa e Ancara serviram aos interesses governamentais sem obstruir o desenvolvimento das grandes cidades de seus respectivos países.

Para Zahran, as novas localidades deveriam estar longe das antigas para ser independentes e autossuficientes.

"Quando as novas são construídas perto, se transformam em cidades dormitório vazias durante o dia", com milhares de casas sem ninguém morando, destacou Zahran. Um conselho que o governo ainda pode aplicar caso siga adiante com sua proposta de uma nova capital para o Egito.

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