Homem armado em hotel em Davos antes do Fórum Econômico Mundial de 2019 em Davos, na Suiça (Simon Dawson/Bloomberg)
Redação Exame
Publicado em 11 de abril de 2023 às 13h30.
O mundo está mais complexo – e as chagas dos anos de pandemia de Covid-19 se refletem globalmente. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de Desenvolvimento Humano, que mede a saúde, a educação e o padrão de vida de uma nação, caiu por dois anos consecutivos -- a primeira vez que isso acontece nos 32 anos de existência do relatório. Trata-se de uma queda histórica, que levou o índice aos níveis de 2016, e reverte o progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Na edição mais recente do relatório anual de IDH, de 2022, a reversão foi quase universal. Mais de 90% dos países registraram declínio na pontuação do IDH em 2020 ou 2021, e mais de 40% caíram nos dois anos, sinalizando que a crise ainda está se aprofundando em muitos deles.
O relatório (que pode ser lido na íntegra aqui) aponta que o resultado do biênio 2020 e 2021 excedeu as perdas registradas no período após a crise financeira. A recuperação vista em 2021, último ano medido, "foi parcial e desigual: a maioria dos países com IDH muito elevado registou melhorias, enquanto a maioria dos restantes registou declínios contínuos".
Todos os dados do relatório e que basearam os gráficos exibidos nesta reportagem podem ser vistos neste link.
O relatório do PNUD destaca que os impactos da pandemia de Covid-19 nas economias -- ainda que grandes -- são insignificantes "quando comparados com as convulsões esperadas pelo poder das novas tecnologias e os perigos e transformações que estas representam".
"O que é que são os investimentos na educação e nas competências das pessoas – uma parte essencial do desenvolvimento humano – perante o ritmo desorientador das mudanças tecnológicas, incluindo a automatização e a inteligência artificial? Ou face a transições de energia deliberadas e necessárias que reestruturariam as sociedades? Mais amplamente, no meio de padrões sem precedentes de perigosas mudanças planetárias, que capacidades importam e de que forma?", diz trecho do documento.
O PNUD também destaca que sentimentos de angústia crescem no mundo. Uma análise de mais de 14 milhões de livros publicados nos últimos 125 anos em três línguas mostrou crescimento expressões de ansiedade e preocupação em muitas partes do mundo.
Segundo o PNUD, outras investigações sobre escalas temporais menores relatam um "aumento constante das preocupações com a incerteza desde 2012, muito antes do surto de Covid-19". No início de 2022, por exemplo, o Relatório Especial sobre a Segurança Humana do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento encontrou "níveis igualmente preocupantes de percepção de segurança". "Mesmo antes da pandemia de Covid-19, 6 em cada 7 pessoas a nível mundial sentiam-se inseguras", diz trecho do documento. "A percepção da insegurança humana é elevada em todos os grupos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e cresceu mesmo em alguns países com o IDH muito elevado."
O relatório explora a razão de a mudança necessária não estar acontecendo e sugere que há muitas razões, incluindo como a insegurança e a polarização estão se alimentando hoje para impedir a solidariedade e precisamos de ação coletiva para enfrentar as crises em todos os níveis. Novos cálculos mostram, por exemplo, que aqueles que se sentem os mais inseguros também são mais propensos a ter opiniões políticas extremas.
“Mesmo antes do impacto do COVID-19, estávamos vendo os paradoxos gêmeos do progresso com insegurança e polarização. Hoje, com um terço das pessoas em todo o mundo se sentindo estressadas e menos de um terço das pessoas em todo o mundo confiando nos outros, enfrentamos grandes obstáculos para adotar políticas que funcionem para as pessoas e para o planeta”, diz Achim Steiner. “Esta nova análise instigante visa nos ajudar a quebrar esse impasse e traçar um novo rumo fora de nossa atual incerteza global. Temos uma janela estreita para reiniciar nossos sistemas e garantir um futuro construído sobre uma ação climática decisiva e novas oportunidades para todos.”
Há, ainda, o ranking do desenvolvimento, que avalia 189 lugares, entre países e territórios, e mostra quais são os mais e menos desenvolvidos do mundo de acordo com a média dos avanços feitos em três dimensões: expectativa de vida, educação e renda per capita. Com os resultados, é calculado o IDH. Quanto mais próxima de 1 a pontuação, mais desenvolvido é o local. Veja a íntegra da última versão do ranking de desenvolvimento.
Na edição 2022 do ranking do desenvolvimento, poucas novidades. Entre os mais desenvolvidos, a Suiça ocupou a primeira colocação -- saindo da terceira posição na edição de 2020 (última versão do ranking antes da pandemia com dados referentes a 2019). A Noruega, antiga primeira colocada caiu para a segunda posição e a Islândia saiu de segunda para terceira colocada.
Estados Unidos mantiveram a mesma posição, 21o lugar. Bélgica e nova Zelândia empataram na 13a posição, enquanto Japão e e Coréia do Sul ficaram empatados na 19a colocação do ranking.
Veja abaixo o ranking dos países mais desenvolvidos e, em seguida, os menos desenvolvidos.
País IDH
Suíça | 0,962 |
Noruega | 0,961 |
Islândia | 0,959 |
Hong Kong | 0,952 |
Austrália | 0,951 |
Dinamarca | 0,948 |
Suécoa | 0,947 |
Irlanda | 0,945 |
Alemanha | 0,942 |
Holanda | 0,941 |
Finlândia | 0,940 |
Singapura | 0,939 |
Bélgica | 0,937 |
Nova Zelândia | 0,937 |
Canadá | 0,936 |
Liechtenstein | 0,935 |
Luxemburgo | 0,930 |
Reino Unido | 0,929 |
Japão | 0,925 |
Coréia do Sul | 0,925 |
País IDH
Djibouti | 0,509 |
Sudão | 0,508 |
Madagascar | 0,501 |
Gâmbia | 0,500 |
Etiópia | 0,498 |
Eritreia | 0,492 |
Guiné-Bissau | 0,483 |
Libéria | 0,481 |
Congo (República Democrática) | 0,479 |
Afeganistão | 0,478 |
Serra Leoa | 0,477 |
Guiné | 0,465 |
Iêmen | 0,455 |
Burquina Fasso | 0,449 |
Moçambique | 0,446 |
Mali | 0,428 |
Burundi | 0,426 |
República Centro-Africana | 0,404 |
Níger | 0,400 |
Chade | 0,394 |
Sudão do Sul | 0,385 |