Os motivos de Dilma para não demitir Nelson Jobim
Prestígio junto às Forças Armadas e atuação pela Comissão da Verdade seguram ministro da Defesa no cargo, mesmo com comentários inoportunos
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2011 às 17h22.
São Paulo - O ministro da Defesa Nelson Jobim nunca foi muito de seguir a liturgia dos cargos que ocupa. Na presidência do Supremo Tribunal Federal, que exerceu de junho de 2004 a março de 2006, ele quis agir como parlamentar, movimentando-se para emplacar uma lei sobre precatórios, e depois operou de forma explícita para tornar-se candidato a congressista, governador - ou, por que não?, presidente.
Nesta terça-feira, Jobim mostrou mais uma vez que não se contém. Passou por cima da etiqueta para dizer publicamente que votou no tucano José Serra nas eleições de 2010. Ainda que o fato não seja novidade nos bastidores de Brasília, a declaração pública é uma afronta à presidente Dilma Rousseff – que é sua chefe e o manteve num cargo que ele ocupa desde o governo Lula.
Proposital - A experiência política de Jobim, filiado ao PMDB, não deixa brecha para a ingenuidade: ele sabe que suas palavras serão interpretadas como um recado à presidente. Há sete meses, o ministro gozava de muito prestígio no Planalto. Foi conselheiro do então presidente Lula para os assuntos mais diversos e era chamado para debater questões em pauta no STF, além da agenda política.
Uma das questões em que Jobim esteve diretamente envolvido foi a renovação da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB), um negócio avaliado em 5 bilhões de euros. Lula e Jobim tinham preferência pela compra dos caças franceses Rafale. Outro assunto da alçada de Jobim na era Lula era a construção no Brasil de um submarino de propulsão nuclear, com tecnologia francesa, plano que custaria ao menos 800 milhões de euros ou 2 bilhões de reais.
Acontece que, assim que assumiu o governo, Dilma mandou avisar que os dois projetos estavam suspensos e que a negociação recomeçaria, em outro momento, do zero.
Com Dilma, Jobim trata apenas dos programas relacionados ao ministério da Defesa. “As tarefas que a presidente lhe propõe são burocráticas, muito pouco para o ego de Jobim”, afirma um peemedebista. O Planalto evita colocar lenha na fogueira acesa por Jobim. A orientação é minimizar o impacto das declarações do ministro. O que então segura Jobim no cargo?
O primeiro motivo é o prestígio de que Jobim goza junto aos comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Não é tarefa simples colocar um civil em meio às Forças Armadas. O segundo é a costura que ele vem fazendo desde 2009 pela aprovação da Comissão da Verdade – proposta rejeitada pelos quartéis, mas defendida pela presidente . O projeto de lei, que prevê a investigação dos crimes ocorridos durante a ditadura militar, é um temas caros a Dilma e será encaminhado ao Congresso Nacional no segundo semestre.
O texto deve seguir direto para o Plenário da Câmara dos Deputados, sem passar por nenhuma comissão, para acelerar a tramitação. O acordo foi feito depois de intensas negociações entre Jobim e a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Mudar o comando da Defesa neste momento poderia ocasionar mais um problema para o governo. Por isso Dilma tem “engolido” os desaforos do subordinado.
Frustração - Há cerca de um mês, Jobim já havia demonstrado sua insatisfação em relação ao governo durante discurso em cerimônia de homenagem aos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso. Depois de tecer elogios ao ex-presidente, Jobim declarou: “O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”, afirmou Jobim na ocasião, parafraseando Nelson Rodrigues.
O ministro faz questão de deixar clara sua frustação – já disse a interlocutores que deixará o governo. Mas até agora limitou-se a lançar veneno. A dose, aliás, passou dos limites, na opinião de integrantes do PMDB. Jobim não foi indicado pelo partido e anda afastado dos correligionários.
Ainda que participe de reuniões convocadas pelo vice-presidente, Michel Temer, prefere manter distância das questões partidárias. Ele aproximou-se de Temer recentemente por causa do Plano Estratégico de Fronteiras, lançado em junho, já que o vice foi escalado pela presidente Dilma para coordenar o programa. Jobim também tem boas relações com o ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco, – com quem viajou para o Maranhão nesta quarta-feira.
Na terça, o ministro da Defesa encontrou-se com Dilma no fim da tarde, mas o teor da conversa continua sob sigilo. Não se sabe, por exemplo, se a entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo – em que ele admite que votou em Serra - foi tema do encontro. A publicação se deu no dia seguinte ao encontro com a presidente. Se não foi, Jobim deverá se deparar com Dilma na sexta-feira, quando participará da homenagem aos medalhistas dos Jogos Militares no Palácio do Planalto. Resta saber se o clima será de festa.
São Paulo - O ministro da Defesa Nelson Jobim nunca foi muito de seguir a liturgia dos cargos que ocupa. Na presidência do Supremo Tribunal Federal, que exerceu de junho de 2004 a março de 2006, ele quis agir como parlamentar, movimentando-se para emplacar uma lei sobre precatórios, e depois operou de forma explícita para tornar-se candidato a congressista, governador - ou, por que não?, presidente.
Nesta terça-feira, Jobim mostrou mais uma vez que não se contém. Passou por cima da etiqueta para dizer publicamente que votou no tucano José Serra nas eleições de 2010. Ainda que o fato não seja novidade nos bastidores de Brasília, a declaração pública é uma afronta à presidente Dilma Rousseff – que é sua chefe e o manteve num cargo que ele ocupa desde o governo Lula.
Proposital - A experiência política de Jobim, filiado ao PMDB, não deixa brecha para a ingenuidade: ele sabe que suas palavras serão interpretadas como um recado à presidente. Há sete meses, o ministro gozava de muito prestígio no Planalto. Foi conselheiro do então presidente Lula para os assuntos mais diversos e era chamado para debater questões em pauta no STF, além da agenda política.
Uma das questões em que Jobim esteve diretamente envolvido foi a renovação da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB), um negócio avaliado em 5 bilhões de euros. Lula e Jobim tinham preferência pela compra dos caças franceses Rafale. Outro assunto da alçada de Jobim na era Lula era a construção no Brasil de um submarino de propulsão nuclear, com tecnologia francesa, plano que custaria ao menos 800 milhões de euros ou 2 bilhões de reais.
Acontece que, assim que assumiu o governo, Dilma mandou avisar que os dois projetos estavam suspensos e que a negociação recomeçaria, em outro momento, do zero.
Com Dilma, Jobim trata apenas dos programas relacionados ao ministério da Defesa. “As tarefas que a presidente lhe propõe são burocráticas, muito pouco para o ego de Jobim”, afirma um peemedebista. O Planalto evita colocar lenha na fogueira acesa por Jobim. A orientação é minimizar o impacto das declarações do ministro. O que então segura Jobim no cargo?
O primeiro motivo é o prestígio de que Jobim goza junto aos comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Não é tarefa simples colocar um civil em meio às Forças Armadas. O segundo é a costura que ele vem fazendo desde 2009 pela aprovação da Comissão da Verdade – proposta rejeitada pelos quartéis, mas defendida pela presidente . O projeto de lei, que prevê a investigação dos crimes ocorridos durante a ditadura militar, é um temas caros a Dilma e será encaminhado ao Congresso Nacional no segundo semestre.
O texto deve seguir direto para o Plenário da Câmara dos Deputados, sem passar por nenhuma comissão, para acelerar a tramitação. O acordo foi feito depois de intensas negociações entre Jobim e a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Mudar o comando da Defesa neste momento poderia ocasionar mais um problema para o governo. Por isso Dilma tem “engolido” os desaforos do subordinado.
Frustração - Há cerca de um mês, Jobim já havia demonstrado sua insatisfação em relação ao governo durante discurso em cerimônia de homenagem aos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso. Depois de tecer elogios ao ex-presidente, Jobim declarou: “O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”, afirmou Jobim na ocasião, parafraseando Nelson Rodrigues.
O ministro faz questão de deixar clara sua frustação – já disse a interlocutores que deixará o governo. Mas até agora limitou-se a lançar veneno. A dose, aliás, passou dos limites, na opinião de integrantes do PMDB. Jobim não foi indicado pelo partido e anda afastado dos correligionários.
Ainda que participe de reuniões convocadas pelo vice-presidente, Michel Temer, prefere manter distância das questões partidárias. Ele aproximou-se de Temer recentemente por causa do Plano Estratégico de Fronteiras, lançado em junho, já que o vice foi escalado pela presidente Dilma para coordenar o programa. Jobim também tem boas relações com o ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco, – com quem viajou para o Maranhão nesta quarta-feira.
Na terça, o ministro da Defesa encontrou-se com Dilma no fim da tarde, mas o teor da conversa continua sob sigilo. Não se sabe, por exemplo, se a entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo – em que ele admite que votou em Serra - foi tema do encontro. A publicação se deu no dia seguinte ao encontro com a presidente. Se não foi, Jobim deverá se deparar com Dilma na sexta-feira, quando participará da homenagem aos medalhistas dos Jogos Militares no Palácio do Planalto. Resta saber se o clima será de festa.