Os Estados Unidos já tiveram uma presidente mulher?
Em 20 de janeiro de 2021, Kamala Harris entrou para a história como a primeira vice-presidente e agora pode se tornar a primeira mulher eleita presidente no país
Redação Exame
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 09h55.
Caso vença na disputa pela Presidência dos Estados Unidos contra o republicano Donald Trump, a democrata Kamala de Harris protagonizaria o fato inédito de ser a primeira mulher eleita presidente no país.
Desde que se tornou independente, em 1776, os EUA foram governados por 46 presidentes homens e, até o momento, seguem fora do crescente clube de nações já comandadas por mulheres – entre as quais Alemanha, Grã-Bretanha, Brasil, Argentina, Índia, Libéria, Chile, México, Suíça, entre outras.
Atualmente vice-presidente, a democrata já entrou para a história do país ao se tornar a primeira mulher e a primeira pessoa negra a se eleger procuradora da cidade de São Francisco em 2003.
Kamala também foi a primeira mulher negra a se eleger procuradora do estado da Califórnia em 2010. E a segunda mulher negra a ser eleita para o Senado americano em 2016, além de ser a primeira vice-presidente mulher e negra.
Antes de ela tentar o comando da Casa Branca, contudo, a democrata Hillary Clinton também concorreu em 2016, mas perdeu a eleição presidencial para o republicano Donald Trump, que agora disputa contra Kamala.
Hillary também fez história como a primeira mulher a garantir o apoio de um grande partido político norte-americano. A democrata tornou-se a indicada do partido após disputas primárias exaustivas em dois ciclos eleitorais. Sua primeira corrida para a presidência, em 2007, terminou em uma derrota para o então senador Barack Obama, que presidiu o país de 2008 a 2016.
Outras mulheres também tentaram chegar à presidência dos EUA, mas por partidos menores. A primeira delas foi Victoria Claflin Woodhull, em 1872, segundo um estudo do Centro para Mulheres Americanas e Política ( Center for American Women and Politics, em inglês ) divulgado pelo portal UOL.
Em 1964, Margaret Chase Smith foi a primeira mulher a ter seu nome colocado em nomeação para presidente por um grande partido. Smith acabou se retirando da disputa após o primeiro turno.
Quase dez anos depois, em 1972, foi a vez de Shirley Anita Chisholm concorrer à presidência nas primárias democratas. Ela foi a primeira mulher afro-americana a buscar a nomeação para presidente dos EUA de um grande partido. Depois de Chisholm, vieram ao menos outros 17 nomes.
Quem é Kamala Harris?
Nascida em 20 de outubro de 1964, em Oakland, Califórnia, Kamala é filha de imigrantes — sua mãe, Shyamala Gopalan, uma pesquisadora do câncer de mama e ativista de direitos civis de origem indiana, e seu pai, Donald Harris, um economista jamaicano — e foi criada em um ambiente que valorizava a educação e a justiça social.
Assim, formou-se em Ciências Políticas e Economia pela Universidade Howard, uma das mais prestigiadas universidades historicamente negras dos EUA, e depois obteve seu diploma de Direito pela Universidade da Califórnia, Hastings.
Sua carreira começou em 1990, quando se tornou promotora no condado de Alameda, na Califórnia. Em 2003, ela foi eleita procuradora-distrital de São Francisco, onde implementou reformas progressistas no sistema judicial, como programas de reabilitação para crimes menores. Poucos anos mais tarde, em 2010, foi eleita procuradora-geral da Califórnia, tornando-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra a ocupar o cargo.
A carreira política despontou a partir de 2017, como estrela em ascensão do Partido Democrata após ser eleita senadora na Califórnia. Quase imediatamente, ela fez seu nome em Washington com seu estilo incisivo em audiências no Senado, interrogando seus adversários em momentos de alto risco que muitas vezes se tornavam virais.
De rival a vice-presidente
Com boa performance em debates, inclusive contra o próprio Biden, Harris ganhou destaque entre progressistas, mas acabou não conseguindo apoio suficiente para continuar forte na disputa pela nomeação.
Quando Biden foi escolhido, ele iniciou o processo de seleção de um companheiro de chapa, com um foco explícito em escolher uma mulher, preferencialmente negra, para refletir a diversidade do partido e do país. Harris estava entre os principais nomes considerados, junto com outras figuras de destaque do partido, como Elizabeth Warren e Stacey Abrams.
Enfim, em agosto de 2020, Biden a escolheu como sua companheira de chapa, numa decisão histórica e simbólica. Sobre o convite, Harris afirmou que estava "incrivelmente honrada e pronta para trabalhar".
Já durante a campanha, Kamala continuou com a mesma energia para atacar e criticar vigorosamente a administração de Trump e seu vice, Mike Pence, em seu mandato. Um dos momentos de destaque foi em um debate contra Pence, o único realizado na época, mostrando-se firme em suas declarações e chamando a atenção para si quando pedia para não ser interrompida pelo adversário: "Se o senhor não se importar em me deixar terminar, poderemos ter um diálogo."
Quem é Kamala Harris
Donald Trump
Kamala enfrentará o republicano Donald John Trump nas urnas.
Nascido em 14 de junho de 1946, na cidade de Nova York. Ele era filho de um empresário do setor imobiliário, que construiu muitas casas e prédios na cidade. Ele estudou economia em Wharton e depois de formado passou a trabalhar com os negócios do pai, nos anos 1970.
Trump foi expandindo os negócios da família para outros setores, como hotéis de luxo e cassinos, e passou a colocar seu nome em negócios variados, o que o trouxe fama a partir dos anos 1980. Após problemas financeiros na década seguinte, o empresário voltou aos holofotes em meados dos anos 2000, quando fez sucesso com o reality show O Aprendiz.
Nos anos seguintes, Trump começou a fazer críticas ao então presidente Barack Obama. Com o tema, ganhou espaço em programas de TV e, com isso, acabou entrando na política. Ele foi eleito presidente dos EUA em 2016, com uma campanha baseada no combate à imigração irregular e a uma ideia de "tornar a América grande de novo".
Em seu governo, Trump adotou medidas duras contra imigrantes, que depois foram derrubadas na Justiça. Na pandemia, ele teve postura negacionista, de combate às medidas de proteção, como o isolamento social. O republicano perdeu a reeleição em 2020, para Joe Biden, mas não reconheceu o resultado e convocou seus apoiadores a lutar. Parte deles invadiu o Congresso, em 6 de janeiro de 2021, para tentar impedir a certificação do resultado.
Após deixar o cargo, Trump foi alvo de vários processos na Justiça, por temas variados, como sua participação nos atos de 6 de janeiro, desvio de documentos e fraude fiscal. Apesar disso, ele conseguiu manter o controle do partido e obter a nomeação em 2024 praticamente sem competição interna.