Os dez anos da Venezuela pós-Chávez
A Venezuela viveu uma década de conflitos após a morte do líder socialista Hugo Chávez, em 5 de março de 2013
Agência de notícias
Publicado em 3 de março de 2023 às 16h35.
Protestos multitudinários, reprimidos por militares e policiais, com dezenas de mortos. Colapso econômico. Um governo paralelo opositor falido. Sanções internacionais... A Venezuela viveu uma década de conflitos após a morte do líder socialista Hugo Chávez, em 5 de março de 2013.
2014: Primeiro desafio de Maduro
O opositor Leopoldo López convoca manifestações, em janeiro de 2014, para exigir a saída do presidente Nicolás Maduro do poder. O balanço de quatro meses de protestos é de 43 mortos.
Sucessor de Chávez, Maduro venceu acv eleição presidencial em 14 de abril de 2013, com 50,62% dos votos, 1,5 ponto acima de seu rival da oposição, Henrique Capriles.
Uma queda abrupta nos preços do petróleo abre um longo ciclo de recessão, inflação e escassez de alimentos e de remédios em uma economia altamente dependente do petróleo bruto.
López é preso em fevereiro de 2014 e condenado, no ano seguinte, a 13 anos e nove meses de prisão por "incitação à violência".
2015: Vitória da oposição
Os Estados Unidos impõem sanções contra funcionários de alto escalão do governo venezuelano, em represália por "violações de direitos humanos" durante os protestos. A crise continua, no entanto, a piorar.
A oposição arrasa nas eleições legislativas de 6 de dezembro de 2015, conquistando 112 de 167 cadeiras.
2016: Choque de Poderes
Assim que a oposição assume o poder em janeiro, as decisões da Assembleia Nacional (AN) são anuladas pelo Supremo Tribunal de Justiça (TSJ, na sigla em espanhol), que declara a Câmara em desacato por uma disputa com três deputados de comunidades indígenas acusados de "compra de votos", o que rompia a maioria qualificada da oposição.
Ao longo de 2016, a oposição promove um referendo para revogar o mandato de Maduro. A iniciativa é bloqueada.
2017: Protestos e Assembleia Constituinte
Novos protestos eclodem em abril de 2017 e deixam mais de 120 mortos em cinco meses.
Uma Assembleia Constituinte com poder absoluto — totalmente chavista — é eleita em 30 de julho. O órgão assume atribuições do Parlamento.
2018: Reeleição
A Constituinte antecipa a eleição presidencial para 20 de maio de 2018.
A maior parte da oposição boicota o pleito, denunciando-o como uma fraude. Maduro vence com 68% dos votos, em meio à alta abstenção.
Em 4 de agosto, dois drones carregados de explosivos explodem perto do palco, de onde Maduro presidia uma parada militar. Não há vítimas fatais.
2019: Guaidó surge
Em 23 de janeiro de 2019, o chefe do Parlamento, Juan Guaidó, proclama-se, em uma praça, “presidente no comando” da Venezuela com o apoio dos Estados Unidos e de cerca de 50 países, que não reconhecem a reeleição de Maduro.
Em 30 de abril, em frente a uma base militar em Caracas, Guaidó convoca as Forças Armadas a se rebelarem. Está acompanhado de seu mentor López, surpreendentemente libertado, que foge para a Espanha após o fracasso do levante.
Washington aumenta a pressão e impõe um embargo ao petróleo venezuelano.
2020: "Operação Gideon"
Depois que uma investigação jornalística vincula ambos ao empresário Alex Saab, processado nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e próximo a Maduro, um grupo de deputados da oposição se rebela contra Guaidó, com o apoio do chavismo. A maioria dos parlamentares da oposição acaba, no entanto, renovando seu apoio.
Em 3 e 4 de maio de 2020, o governo Maduro anuncia que impediu uma invasão de "mercenários" estrangeiros. Os ex-militares americanos Luke Denman e Airan Berry são presos na chamada "Operação Gideon' e, depois, condenados a 20 anos de prisão.
A oposição boicota as eleições legislativas de dezembro.
2021: Volta às urnas
A legislatura da Assembleia Nacional de maioria opositora eleita em 2015 termina em 5 de janeiro de 2021. Considerando o novo Congresso chavista "ilegítimo", a oposição decide, no entanto, estender a vigência da AN 2015, assim como o simbólico governo interino de Guaidó.
A oposição volta às urnas nas eleições regionais de novembro, mas o chavismo sai vitorioso.
2022: Fratura
O desgaste de Guaidó continua.
Na esteira da flexibilização dos controles por parte de Maduro, a economia experimenta uma recuperação, após uma contração de 80% em sete anos.
Três dos principais partidos da oposição propõem eliminar o "governo interino" por não terem conseguido mudanças políticas. Em 30 de dezembro de 2022, a AN de 2015 aprova a proposta.
2023: Eleições à vista
A eliminação do "governo provisório" se dá em 5 de janeiro de 2023, embora a oposição continue defendendo a validade da AN de 2015.
Uma oposição dividida planeja primárias para outubro, quando deverá escolher um candidato unitário para enfrentar Maduro na próxima eleição presidencial, prevista para acontecer em 2024.