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Os azarões da eleição americana

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Todos os presidentes americanos da história pertenciam ao Partido Democrata ou ao Partido Republicano. Os candidatos dos dois grandes partidos são sempre os que recebem mais destaque e mais votos, mas sempre há outras opções na cédula. Em 6 de novembro, os descontentes com Hillary Clinton e Donald Trump […]

GARY JOHNSON: numa eleição com sucessos não-convencionais, suas posições extremas tendem a ter apelo / George Frey/ Getty Images
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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2016 às 12h21.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h14.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Todos os presidentes americanos da história pertenciam ao Partido Democrata ou ao Partido Republicano. Os candidatos dos dois grandes partidos são sempre os que recebem mais destaque e mais votos, mas sempre há outras opções na cédula. Em 6 de novembro, os descontentes com Hillary Clinton e Donald Trump – e eles são muitos, pois nunca houve dois nomes com tamanha rejeição disputando a Presidência dos Estados Unidos – poderão votar em outros nomes. Representantes de outros partidos ou independentes quase nunca têm efeito real no resultado da eleição. A última vez que isso aconteceu foi no ano 2000. Ralph Nader, um advogado que ficou célebre com suas campanhas públicas em defesa dos direitos dos consumidores, concorreu pelo Partido Verde e roubou parte dos votos de Al Gore. Nader é considerado um dos responsáveis pela vitória de George W. Bush – embora tenha recebido menos de 3% dos votos populares.

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Na eleição deste ano, o nome de maior peso é Gary Johnson, ex-governador do estado do Novo México e candidato presidencial em duas outras eleições, sempre pelo Partido Libertário. As propostas de Johnson condizem com o nome de seu partido: ele defende uma redução drástica de impostos, é a favor do comércio internacional, contra a guerra e pró-liberação da maconha. “Em 2017, a dívida americana será de 20 trilhões de dólares. Isso não é apenas obsceno, é insustentável – e provavelmente a maior ameaça à nossa segurança nacional”, diz o site oficial do candidato sobre a questão do orçamento. Com relação à legalização da maconha (o que já aconteceu em alguns estados, mas não em nível federal), Johnson afirma que a medida “vai salvar vidas e tornar nossas comunidades mais seguras, eliminando crime e criando uma indústria que possa participar de forma legítima da economia americana”.

Numa eleição cuja principal história foi o sucesso inesperado de candidatos não-convencionais como Trump e o socialista Bernie Sanders, as posições extremas de Johnson devem ter apelo. Isso está cada vez mais evidente diante dos tropeços do empresário nova-iorquino. A cada declaração estapafúrdia do republicano, mais eleitores dispostos a apoiar um “não-político” têm demonstrado intenção de votar em Johnson. Na média das cinco principais pesquisas mais recentes, Johnson tem quase 10% das intenções de voto. É o desempenho nessas cinco pesquisas que serão determinados os participantes dos debates presidenciais – o primeiro está marcado para 26 de setembro, e Johnson tem até lá para atingir 15%. Em uma entrevista recente, ele afirmou: “a única chance que tenho de ser eleito é participar dos debates”.

O outro nome que corre por fora é o de Jill Stein, a candidata do Partido Verde. Ela tem cerca de 4,5% das intenções de voto na média das pesquisas e essencialmente não tem chances de figurar em um dos três debates na TV – mas sua presença pode ter impacto no resultado final se ela tirar votos importantes de Clinton. “2016 não é um ano para pureza. Votar em qualquer um dos candidatos independentes ou de partidos alternativos pode ter efeitos realmente desastrosos”, escreveu Jill Abramson, ex-editora-chefe do New York Times, num artigo recente. “Fico enjoada toda vez que ouço o nome de Ralph Nader. Se todos os que votaram nele para presidente em 200 tivessem votado em Al Gore, talvez tivéssemos sido poupados da Guerra do Iraque, da aliança entre os ‘manos’ George W e Tony Blair e de outros horrores.”

A questão é que os alternativos fazem diferença quando a eleição é muito apertada, como aconteceu 16 anos atrás. Este ano, por enquanto, as pesquisas indicam uma vantagem relativamente confortável para Hillary Clinton. Além disso, os especialistas observam que esses candidatos marginais tendem a cair nas pesquisas conforme se aproxima o dia decisivo – por causa do medo de “desperdiçar” o voto. Em 1992, o empresário do setor de tecnologia Ross Perot chegou a liderar pesquisas em alguns estados, algo que nenhum independente tinha conseguido até então. Perot obteve 19% dos votos populares – mas eles se traduziram em zero votos no colégio eleitoral, pois na eleição americana o candidato mais votado leva todos os delegados do estado. Apesar do descontentamento com a política tradicional e das surpresas que vimos até aqui, em 2016, mais uma vez, não deve haver surpresas: a Casa Branca será ocupada por Donald Trump ou Hillary Clinton.

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