Leopoldo López beija a mulher durante uma manifestação em Caracas, Venezuela (LEO RAMIREZ/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2015 às 21h03.
O líder oposicionista venezuelano Leopoldo López completará nesta quarta-feira um ano atrás das grades, acusado de incitação à violência nos protestos de 2014, que deixaram 43 mortos, apesar de um organismo das Nações Unidas ter pedido sua libertação.
Em 18 de fevereiro de 2014, seis dias depois das primeiras três mortes nos distúrbios, López entregou-se à justiça.
"Se minha prisão vale para o despertar de um povo (...), valerá a pena minha prisão infame", disse López durante uma manifestação em uma praça de Caracas, onde milhares de seguidores o saudaram como um líder.
Os protestos praticamente diários contra a insegurança, a inflação (56,2% em 2013 e 68,5% em 2014) e a escassez mantiveram a Venezuela em suspenso durante quatro meses.
Mas um ano depois, as convocações maciças de opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro foram reduzidas a não há quase nenhum protesto de rua, apesar de a situação econômica ter piorado.
Só em alguns supermercados e farmácias foram registrados tumultos e protestos, pois os venezuelanos precisam ficar horas na fila para poder comprar produtos básicos.
López deixou de assistir ao seu julgamento, iniciado em julho, quando o tribunal desestimou a resolução do Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias da ONU, que em 23 de setembro pediu ao governo venezuelano a sua libertação.
Apesar de sua ausência, o julgamento seguiu adiante.
Desde que foi detido na prisão militar de Ramo Verde, a 30 Km de Caracas, o líder do partido Voluntad Popular só se expressou em público por escrito e seu rosto só foi visto em algumas fotografias.
Uma tentativa dos ex-presidentes Andrés Pastrana (Colômbia) e Sebastián Piñera (Chile) de visitá-lo na prisão em 25 de janeiro foi infrutífera e o presidente Maduro interpretou o ato como um gesto de apoio a "um grupo de extrema direita que desconhece o governo e está pedindo um golpe de Estado sangrento".
No dia seguinte, o governo colombiano pediu a rápida libertação de López e, em um deslize de linguagem, o vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, definiu o líder do Voluntad Popular como "preso político", uma qualificação que foi reiteradamente negada pelo governo.
López pode ser condenado a 10 anos de prisão pelos crimes de "incêndio intencional, instigação pública, danos ao patrimônio público e associação para delinquir".
Seu advogado, Juan Carlos Gutiérrez, disse à AFP que no ano de prisão do político caracterizou-ae pela "sistemática violação dos direitos fundamentais", entre eles a possibilidade de apresentar provas de sua inocência.
"O julgamento não foi público. Portanto, é nulo", denunciou Gutiérrez, acrescentando que foi impedida a entrada de jornalistas, políticos e, mais recentemente, restringiu-se o acesso a observadores internacionais.
O advogado disse ter havido violação da privacidade nas reuniões que teve com seu cliente, a revisão de documentos por funcionários de inteligência militar e restrições de visitas a López.
Na semana passada, a organização Human Rights Watch denunciou como "grotesca arbitrariedade" que "homens encapuzados e fortemente armados tenham invadido sua cela com o objetivo de intimidá-lo e castigá-lo. Eles destruíram seus pertences, o agrediram e o levaram à força a uma cela de castigo".
Lilian Tintori, esposa de López, convocou os venezuelanos a se vestirem de branco na quarta-feira como sinal de protesto cívico.