Mundo

ONU elege inspetor para investigar homofobia no mundo

A iniciativa havia sido um projeto brasileiro que, por anos, gerou uma troca de acusações entre governos


	LGBT: há três meses, o debate na Organização para criar o posto durou quatro horas e chegou a sair da tradicional linha diplomática
 (Danish Siddiqui/Reuters)

LGBT: há três meses, o debate na Organização para criar o posto durou quatro horas e chegou a sair da tradicional linha diplomática (Danish Siddiqui/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2016 às 20h51.

Genebra - A Organização das Nações Unidas (ONU) escolhe pela primeira vez um relator para investigar violações contra homossexuais pelo mundo e políticas homofóbicas. A iniciativa havia sido um projeto brasileiro que, por anos, gerou uma troca de acusações entre governos.

O escolhido para ocupar o cargo é o tailandês Vitit Muntarbhorn. Ele terá o trabalho de monitorar violações e denunciar a discriminação. O especialista era um dos membros da Comissão de Inquérito para os Crimes na Síria e já atuou em investigações na Coreia do Norte.

Sua escolha e a criação do cargo foi comemorada por ativistas. "O estabelecimento desse mandato levará ao mundo a atenção que se necessita dar às violações contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais em todas as regiões", indicou John Fisher, diretor da entidade UN Watch, de Genebra.

Mas diversos governos já indicaram que vão fazer de tudo para impedir o trabalho do relator. Durante a semana, Moscou acusou a iniciativa de ser um desperdício de dinheiro.

"Isso se trata da vida privada das pessoas e não precisa de um sistema de proteção particular", disse o Kremlim. A diplomacia de Vladimir Putin também deixou claro que não estava satisfeita com a maneira pela qual a ONU tem lidado com a questão de direitos humanos.

Alexey Borodavkin, embaixador russo na ONU, disse esperar que investigações como a de Muntarbhorn "levem em conta a tradição e a religião" de um país.

Há três meses, o debate na ONU para criar o posto durou quatro horas e chegou a sair da tradicional linha diplomática. Segundo o governo brasileiro, a iniciativa tem como meta "promover o diálogo para colocar fim à violência e discriminação com base na orientação sexual". Ao apelar para que governos votassem pela aprovação do texto, o Itamaraty insistiu na época que "ninguém deveria ser abandonado" na defesa de seus direitos.

O governo do México alertou que "milhares de pessoas" estavam expostas à violência em razão de sua orientação sexual. "Vamos lembrar Orlando e dar esperança para milhares de pessoas", disse naquele momento o embaixador mexicano, Jorge Lomónaco, sobre o massacre contra 49 pessoas em um local frequentado pela comunidade LGBT nos EUA.

Se a proposta foi amplamente apoiada por governos europeus e EUA, recebeu duras críticas da Rússia, China, africanos e muçulmanos. Falando em nome da Organização da Cooperação Islâmica, o Paquistão condenou a criação de um relator na ONU para investigar esses crimes. Segundo ele, a resolução "promove certas noções, conceitos e estilos de vida em que não existe consenso".

A Nigéria acusou os governos que apresentaram a proposta de estarem "dividindo" a comunidade internacional e insistiu que não existe "definição do que é orientação sexual".

O embaixador saudita, Faisal Trad, chegou a tentar evitar até mesmo que a votação ocorresse há três meses. "Isso é uma imposição de ideias e abrirá uma Caixa da Pandora", disse.

"Não vamos aceitar leis feitas pelo homem contra as leis divinas", atacou. Para ele, ao aprovar tal texto, a ONU estaria "interferindo em Estados soberanos".

Acompanhe tudo sobre:GaysLGBTONUPreconceitos

Mais de Mundo

Violência após eleição presidencial deixa mais de 20 mortos em Moçambique

38 pessoas morreram em queda de avião no Azerbaijão, diz autoridade do Cazaquistão

Desi Bouterse, ex-ditador do Suriname e foragido da justiça, morre aos 79 anos

Petro anuncia aumento de 9,54% no salário mínimo na Colômbia