ONU e UE pedem investigação sobre morte opositor na Venezuela
O governo disse o vereador Fernando Albán, que estava detido por um suposto ataque com drones contra o presidente, se matou enquanto estava preso
AFP
Publicado em 9 de outubro de 2018 às 11h37.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU pediu nesta terça-feira uma "investigação transparente" sobre as circunstâncias da morte do vereador opositor venezuelano Fernando Albán, que, segundo autoridades da Venezuela, matou-se enquanto estava detido.
"Fernando Albán se encontrava detido pelo Estado. O Estado tinha a obrigação de garantir sua segurança, sua integridade pessoal (...). Nós pedimos uma investigação transparente para esclarecer as circunstâncias de sua morte", já que existem "informações contraditórias sobre o ocorrido", declarou um porta-voz do Alto Comissariado, Ravina Shamdasani, em coletiva de imprensa em Genebra.
A União Europeia também ressaltou nesta terça a necessidade de uma "investigação independente" para apurar as circunstâncias do vereador.
"Esperamos uma investigação exaustiva e independente para esclarecer as circunstâncias da trágica morte do vereador Albán", afirmou o comunicado do escritório da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que também pediu que Caraca liberte "todos os presos políticos".
Segundo o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, Albán, detido por um suposto ataque com drones explosivos contra o presidente Nicolás Maduro, ele se suicidou na segunda-feira na sede do serviço de inteligência.
O partido de Albán, Primero Justicia, denunciou que se tratou de um assassinato.
Albán, vereador do município Libertador de Caracas, foi detido na última sexta-feira acusado de participar da explosão de dois drones perto do local em que Maduro fazia um discurso em 4 de agosto, durante um desfile militar na capital.
Saab explicou por telefone à rede de televisão estatal VTV que Albán "solicitou ir ao banheiro, e estando lá, se jogou pela janela do décimo andar".
O ministro do Interior e da Justiça, Néstor Reverol, afirmou que Fernando Albán se suicidou "no momento em que seria trasladado ao tribunal".
"Magnicídio frustrado"
Nicolás Maduro classificou os fatos de 4 de agosto de "magnicídio frustrado" e responsabilizou como autor intelectual o deputado Julio Borges, fundador do Primero Justicia e exilado na Colômbia.
"A crueldade da ditadura acabou com a vida de Fernando Albán", reagiu Borges no Twitter, lembrando que o vereador havia viajado a Nova York na semana passada para visitar seus filhos e o acompanhou às Nações Unidas.
"Sua morte não vai ficar impune", acrescentou o deputado, que Maduro acusa de fazer parte de uma trama para derrubá-lo com a ajuda de Estados Unidos e Colômbia.
O presidente do Comitê das Relações Exteriores do Senado americano, Bob Corker, em visita em Caracas, disse que a morte de Albán é "pertubadora".
"O governo tem a responsabilidade de garantir que todos entendam como isso aconteceu", escreveu no Twitter.
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou a morte do opositor. "Responsabilidade direta de um regime torturador e homicida", escreveu no Twitter.
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles, membro do partido de Albán, afirmou que o ocorrido "é total responsabilidade do regime". "Ele NUNCA poderia ter atuado contra sua vida", ressaltou no Twitter.