Aleppo: o exército sírio conduz essa ofensiva há meses (Digital Globe 2016/Anistia Internacional)
AFP
Publicado em 29 de novembro de 2016 às 13h23.
A ONU expressou nesta terça-feira preocupação com a situação "assustadora" dos civis na zona leste de Aleppo, onde as forças do regime sírio têm acuado os rebeldes no seu reduto, transformado em campo de ruínas pelos bombardeios sem precedentes.
No momento em que o regime parece perto de sua maior vitória desde o início do conflito, em 2011, a França pediu uma reunião imediata do Conselho de Segurança da ONU para apoiar a "cidade mártir".
Em três dias, as tropas de Bashar al-Assad tomaram mais de 30% do território rebelde na segunda maior cidade do país, o principal desafio do conflito sírio que já custou mais de 300.000 mortos em mais de cinco anos.
Com o apoio da Força Aérea russa, o exército sírio conduz essa ofensiva há meses, mas a etapa mais recente, lançada em 15 de novembro, que permitiu romper as defesas rebeldes, incapazes de resistir ao poder de fogo terrestre e aéreo de Damasco e seus aliados estrangeiros, como o Hezbollah xiita libanês.
Este rápido avanço provocou a fuga de quase 16.000 civis da zona leste de Aleppo nos últimos dias, segundo informou nesta terça-feira o chefe de operações humanitárias da ONU, Stephen O'Brien.
Segundo a ONU, 10.000 foram para a zona oeste de Aleppo, controlada pelo regime, enquanto entre 4.000 e 6.000 encontraram refúgio no pequeno enclave de Sheikh Maqsud, nas mãos das forças curdas.
Milhares de outros civis fugiram para o sul de Aleppo, após a captura pelo regime dos bairros do norte.
O'Brien disse que estava "extremamente preocupado com a situação dos civis" e falou de uma "situação alarmante e assustadora". "Além da intensificação dos combates no chão e dos bombardeios aéreos indiscriminados, nenhum hospital está funcionando e os estoques de alimentos estão acabando", lamentou.
De acordo com imagens obtidas pela AFP, ruas inteiras aparecem devastadas.
Se os civis haviam resistido nos últimos meses aos ataques aéreos e ao cerco imposto desde julho, os últimos combates mudaram esse cenário e "é provável que milhares de outras (pessoas) não tenham outra a não ser fugir", afirma O'Brien.
A situação também é tensa na zona oeste de Aleppo, atacada pelos rebeldes, observou ele.
Uma queda total de Aleppo representaria aos vários grupos insurgentes a pior derrota desde 2011 e permitiria ao regime se lançar na conquista de outras cidades.
Frente à catástrofe humanitária de Aleppo, o chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, convocou o Conselho de Segurança da ONU para "examinar a situação desta cidade mártir e maneiras de trazer alívio para a população".
Consultas sobre a Síria já estavam previstas para esta terça-feira no Conselho de Segurança.
"Mais do que nunca, é urgente implementar uma trégua nas hostilidades e permitir o acesso sem obstáculos para a ajuda humanitária", considerou Ayrault.
Um apelo semelhante foi feito na segunda-feira pela ONU e pelo chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson.
Na Rússia, o principal aliado de Damasco, o porta-voz do ministério da Defesa, o general Igor Konachenkov, criticou a "cegueira" do Ocidente "quando se trata de avaliar a real situação em Aleppo".
As operações militares "permitiram nas últimas 24 horas mudar radicalmente a situação", comemorou.
Na zona leste de Aleppo, "não há comida, água, abrigo ou meio de transporte", resumiu Abu Laith Ibrahim, porta-voz dos Capacetes Brancos, serviço de socorristas da área.
Os Capacetes Brancos também alertaram que suas reservas de combustível estavam quase esgotadas, o que torna impossível viajar de carro para resgatar os civis após os bombardeios.
Por causa do cerco, as últimas rações alimentares fornecidas pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) estão esgotadas desde 13 de novembro, e os estoques de outras agências humanitárias "estão diminuindo", indicou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
O PAM disse estar pronto para distribuir na zona leste de Aleppo estoques de alimentos pré-posicionados na zona oeste da cidade para ajudar milhares de deslocados.
A ofensiva do regime desencadeada em 15 de novembro matou pelo menos 257 civis, incluindo 32 crianças, de acordo com OSDH. Os rebeldes mataram pelo menos 40 civis (12 na segunda-feira), incluindo 18 crianças, bombardeando áreas do governo na zona oeste de Aleppo.