Palestinos mortadores de Deir Qadis, na Cisjordânia (Abbas Momani/AFP)
Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2012 às 17h43.
Nações Unidas - A responsável do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU, Valerie Amos, advertiu nesta quarta-feira ao Conselho de Segurança da organização sobre o 'elevado aumento' da violência nos assentamentos israelenses nos territórios palestinos e lembrou a ilegalidade dessas atividades na perspectiva do organismo.
'Alertei particularmente sobre os altos níveis de violência registrados nos assentamentos. Percebemos um aumento dessa violência que impacta principalmente sobre os palestinos', disse Amos após se reunir com o Conselho de Segurança, num encontro que inicialmente teve a oposição dos Estados Unidos.
Ela informou aos 15 países-membros do órgão sobre a situação humanitária que atinge os palestinos na Cisjordânia devido aos assentamentos israelenses e também na Faixa de Gaza, como tinham pedido os diplomatas palestinos na ONU.
Amos expressou sua 'preocupação' com a situação político-social em Jerusalém Oriental, onde, em sua opinião, os planos para erguer um novo assentamento isolaria a cidade da Cisjordânia. Ela advertiu ainda para as consequências humanitárias e econômicas das atividades israelenses sobre os palestinos.
'Me preocupa a falta de desenvolvimento econômico na Cisjordânia, mas também seu impacto no acesso dos civis a serviços básicos, como escolas e hospitais', ressaltou Amos, que também disse ter informado ao Conselho sobre as consequências humanitárias do bloqueio israelense à Faixa de Gaza.
Foram breves as declarações da subsecretária geral para Assuntos Humanitários à imprensa sobre o conteúdo da reunião com o Conselho de Segurança realizada a portas fechadas. Ela preferiu não dar muitos detalhes sobre suas preocupações ou sobre qual foi a reação dos 15 membros do órgão perante suas advertências.
O encontro foi solicitado pela delegação do Marrocos e teve o apoio da maioria dos membros. Os EUA se mostravam reticentes à reunião devido a um relatório de Valeria Amos focado apenas nas colônias judaicas, mas por fim deram seu aval, sob a condição de que o órgão não divulgasse nenhum comunicado ou declaração presidencial, conforme revelaram fontes diplomáticas.
'Toda a comunidade internacional considera a atividade dos assentamentos ilegal, e essa é a posição que se ouviu hoje no Conselho de Segurança', declarou Amos. 'A ONU gostaria de ver israelenses e palestinos vivendo uns junto aos outros após negociar um acordo político, e não ver pessoas sofrendo ano após ano'.
A delegação palestina junto à ONU elogiou a presença de Amos no Conselho de Segurança, já que há muito tempo pressionam para que o órgão condene os assentamentos israelenses, mas a objeção dos Estados Unidos sempre o impossibilitou.
'Todos sabemos que o Conselho de Segurança não vai adotar nenhum documento pela oposição de um país', indicou o representante palestino na ONU, Riyad Mansour, ao término da reunião, em clara referência aos EUA. 'O maior obstáculo para as negociações é a política de assentamentos de Israel'.
Mansour disse que há 'um grande consenso' dentro do Conselho de Segurança de que 'o principal empecilho para a paz são os assentamentos' e que 'Israel deveria interromper toda sua atividade de assentamentos nos territórios ocupados, inclusive em Jerusalém Oriental', para que assim se possa reabrir 'a porta das negociações'.
Já o embaixador de Israel na ONU, Ron Prosor, criticou as acusações de Mansour e negou que essas atividades impeçam a obtenção da paz.
Além disso, ele lamentou que os palestinos 'tenham conseguido que o Conselho de Segurança dê tanta atenção aos assentamentos quando há outros assuntos de grande urgência na agenda internacional, como a repressão na Síria e as dimensões do programa nuclear iraniano'.
Em dezembro passado, os países do Conselho de Segurança, com a única exceção dos Estados Unidos, expressaram sua condenação separadamente aos assentamentos de Israel nos territórios ocupados e pediram ao Estado judaico que detenham essas atividades.
O principal órgão de decisão da ONU voltará a se ocupar do conflito entre palestinos e israelenses no próximo dia 24, quando realizará seu debate aberto mensal sobre a situação no Oriente Médio, do qual tampouco se espera um resultado concreto por enquanto, segundo fontes diplomáticas.