Nuno Crato, ex-ministro da Ciência e Educação de Portugal, no Exame Forum (Germano Lüders/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 3 de setembro de 2018 às 10h56.
Última atualização em 4 de setembro de 2018 às 14h23.
São Paulo - Qual foi o país que conseguiu fazer a taxa de abandono escolar despencar de 43,6% em 2000 para 13,7% em 2015 e superar a nota da Finlândia no Pisa em matemática?
Errou quem pensou nos países nórdicos ou asiáticos; estamos falando de Portugal.
A experiência foi discutida nesta segunda-feira (03) por Nuno Crato, ministro da Educação do país de 2011 a 2015, no EXAME Fórum em São Paulo.
Ele notou que os bons resultados não foram feitos subindo o investimento público ou ou diminuindo o tamanho das turmas.
O país também não esperou por um momento de estabilidade e crescimento econômico para melhorar, Portugal foi, afinal, um dos países mais afetados pela crise financeira de 2008 e que se agravou na zona do euro a partir de 2012.
Crato resumiu a fórmula portuguesa como "ensinar mais e avaliar melhor", fazendo uma analogia com as duas únicas formas efetivas de perder peso: fazendo exercício e comendo menos.
O país implementou um currículo exigente, centrado nas disciplinas essenciais, com metas estruturadas e progressivas, além de comparação sistemática entre avaliações internas e externas.
Uma notável particularidade do caso português é que o aumento na média das notas não foi puxada apenas pelos que já estavam entre os melhores resultados; a base também subiu.
"Exigência e qualidade não são inimigas dos pobres", disse Crato, negando a tese de que foco em resultados necessariamente acentua as diferenças nas capacidades.
Um dos segredos nessa área foi a rapidez de interferências ao primeiro sinal de dificuldades, com créditos às escolas para que pudessem fazer isso.
Mas Crato disse que se tivesse que escolher uma medida para efeito de médio e longo prazo, ele focaria na formação inicial dos professores na disciplina em que lecionam.
A lógica de pensamento é que se os alunos não estão aprendendo nem o básico, o maior problema não deve ser a formação contínua.
Outro foco foi dar aos jovens possibilidades de escolhas no ensino médio que não sejam estanques e contem com o apoio de empresas - que tem, afinal, um interesse na boa formação da juventude.
Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizado Industrial, já havia destacado no discurso de abertura que o sistema brasileiro "não estabelece uma lógica de profissionalização" e que há um enorme contingente de jovens "nem-nems", que nem estudam nem trabalham.
André Lahoz Mendonça de Barros, diretor de redação de EXAME, citou o desastre do Museu Nacional e a disseminação de informações falsas na internet como outros dimensões do desafio da educação; um país que perde a memória e democracias que deixam de fazer suas escolhas com base em fatos.
"Quando a mentira está no centro do debate, bagunça bastante, e isso é um tema mundial", disse André. "A verdade existe, e ela tem que ser buscada e tem que ser mostrada".
Veja as entrevistas realizadas no evento: