O que deu certo e o que deu errado na Olimpíada de Londres
Londres ganhou em exposição e revitalização de pontos da cidade, mas pode ter perdido com falhas na organização
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2016 às 17h11.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h19.
São Paulo – Após alguns tropeços antes mesmo da cerimônia de abertura, Londres sacudiu a poeira e sediou as Olimpíadas com mais acertos do que erros. Com o encerramento dos jogos, marcado por cerimônia neste domingo, os turistas voltam para casa e os londrinos ficam na cidade com alguns reflexos deixados pelo evento, tanto positivos, quanto negativos. Clique nas fotos ao lado e veja o que deu errado e, em seguida, o que deu certo para a Inglaterra nas Olimpíadas.
Algumas das principais falhas durante os jogos aconteceram na organização, que esqueceu pequenos detalhes e protagonizou gafes. Até perder as chaves do estádio de Wembley a polícia perdeu. Uma das piores falhas aconteceu antes mesmo da abertura e causou uma confusão diplomática. A seleção de futebol feminino da Coreia do Norte estava prestes a entrar em campo quando no telão, durante a apresentação das jogadoras, o que apareceu foi a bandeira da Coreia do Sul. A troca já seria um problema com qualquer país, mas entre as duas Coreias existe o agravante de que os países vivem em constante conflito. Na foto, um membro da delegação da Coreia do Norte reclama do erro.
Alguma conta do comitê organizador do evento, o Locog, não fechou. Para algumas disputas, quem tentava, não encontrava ingressos para comprar nas bilheterias. Dentro dos ginásios, porém, não faltavam lugares vazios. O Locog chegou a pedir para que algumas federações devolvessem ingressos não usados para que eles pudessem ser colocados à venda novamente. Os assentos vazios causaram a volta das vendas diárias de ingressos. Nos primeiros dias, a situação rendeu uma cena inusitada. Alguns soldados do exército britânico foram convocados para ocupar lugares vazios.
Até que saiam números concretos dos setores, não há como afirmar com certeza se a realização das Olimpíadas ajudou ou não a economia da Inglaterra. Os primeiros sinais, porém, são de que o saldo não é dos mais positivos nesse quesito. O economista Nouriel Roubini, por exemplo, é um dos que acredita que sediar os jogos foi um mau negócio. Pelo Twitter, ele disse: “As olimpíadas são um fracasso econômico, ao passo de que Londres está totalmente vazia: hotéis, restaurantes e as ruas”. Na visão de Roubini, os avisos das autoridades do Reino Unido sobre a multidão que poderia ir para Londres durante as Olimpíadas acabou assuntando moradores da cidade e turistas que visitariam a região por outros motivos que não os jogos. Contrariando as projeções feitas antes do início dos jogos, os hotéis de Londres não conseguiram preencher totalmente suas reservas. Outro sinal de que o retorno do investimento nos jogos pode não ter vindo é a previsão do Banco da Inglaterra para a economia do país. Em relatório, a autarquia revisou para baixo suas projeções no curto prazo e prevê um crescimento anual próximo de 0% em 2012, enquanto nas estimativas anteriores antecipava um crescimento do PIB de 1%.
Uma das grandes apostas de Londres nos jogos era revitalizar uma das áreas mais degradadas da cidade: Stratford, na região leste. O Parque Olímpico foi construído na antiga zona industrial. A foto mostra funcionários trabalhando nos ajustes finais dos arredores. A região ganhou um dos maiores centros de transporte urbano da Europa e o maior shopping center do continente. A área também passou pela maior descontaminação já feita no Reino Unido. O procedimento durou quatro anos e limpou 2 milhões de toneladas de solo contaminado. O legado deixado após eventos desse porte já mudou cidades como Barcelona, que conseguiu se revitalizar com os investimentos feitos para as Olimpíadas.
Uma das vantagens de sediar os jogos olímpicos é exibir sua cidade para o mundo. Estima-se que somente a cerimônia de abertura tenha sido vista por cerca de 1 bilhão de pessoas ao redor do globo, sendo 27 milhões de britânicos, aproximadamente. Além do público geral, há também os chefes de estado e de governo que visitaram a cidade durante os Jogos, ou enviaram seus representantes. Antes da cerimônia de abertura dos jogos, a rainha Elizabeth II encontrou-se com a presidente Dilma Roussef; a primeira-dama americana, Michelle Obama; o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault; o presidente da Itália, Giorgio Napolitano; e o presidente alemão, Joachim Gauck.
A rainha Elizabeth II fez uma entrada triunfal na cerimônia de abertura dos jogos de Londres. A monarca participou de uma esquete com o ator britânico Daniel Craig - que interpretou James Bond. A encenação sugeriu que a rainha entrou no estádio após saltar de paraquedas de um helicóptero. As cenas foram gravadas no Palácio de Buckingham. A encenação indica que a Monarquia está mais “pop”. Ao menos essa foi a repercussão na mídia internacional. O jornal Daily Telegraph sugeriu que, há alguns anos, o cineasta Danny Boyle, responsável pela cerimônia de abertura, poderia ter seria preso simplesmente por sugerir tal ideia. Já o jornal britânico The Guardian afirmou que a encenação da rainha com Craig foi um dos pontos altos da cerimônia. No sábado seguinte a sua grande apresentação, a rainha visitou os atletas do Reino Unido na Vila Olímpica. E a rainha não participou sozinha do evento. Outros integrantes da família real, como William, sua esposa Kate e seu irmão Harry marcaram presença nas arquibancadas durante os jogos.
O Reino Unido teve um bom saldo de ganhos na competição, o que estimulou o esporte na região. Após as Olimpíadas, o setor deve receber incentivo financeiro. O ministro da Cultura britânico, Jeremy Hunt, anunciou que o governo implementará um projeto para que mais jovens tenham acesso e se dediquem ao esporte. Com mais de 50 medalhas, a campanha chamou atenção. Entre os destaques do país está a conquista da medalha de ouro pelo tenista Andy Murray (foto). Há cem anos a Grã-Bretanha não ganhava a medalha no torneio individual no tênis.