O ex-guerrilheiro que pode virar o novo presidente da Colômbia
Petro aparece consistentemente em 2º nas pesquisas de opinião, atrás de Ivan Duque, discípulo do ex-presidente Uribe. Eleições começam neste domingo
Gabriela Ruic
Publicado em 27 de maio de 2018 às 06h00.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 17h01.
Ele já foi guerrilheiro de esquerda e quer transformar a economia da Colômbia , reduzindo a importância de petróleo e carvão e aumentando a presença de projetos de energia solar e cultivo de abacate.
Candidato à presidência, ele promete elevar impostos sobre imóveis e empresas. Wall Street duvida que ele ganhe. Mas a poucos dias para a votação, Gustavo Petro pode surpreender os céticos.
Em uma noite recente, ele visitou Pereira, cidade a oeste de Bogotá que é a capital da cafeicultura no país. Seus fãs aguardaram duas horas sob chuva. De óculos e vestido casualmente, Petro defende suas propostas de transformação radical.
“A Colômbia precisa superar o feudalismo”, ele declara. “Suas terras férteis precisam ser redistribuídas aos que produzem.”
Se referindo a latifundiários, ele falou, sob aplausos: “Se não quiserem pagar os impostos, compraremos a terra.”
Petro aparece consistentemente em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Ivan Duque, que estudou nos EUA, é favorável ao mercado e discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe. O primeiro turno acontece no domingo e Petro tem grande chance de chegar ao segundo turno, em junho.
Esquerda recua
A esquerda perdeu poder em vários países da América Latina. No Brasil, Argentina, Chile e Peru, o populismo de mão aberta faliu e políticos favoráveis ao mercado ascenderam.
Mas a Colômbia sempre foi diferente, em parte porque grandes trechos do território nacional foram controlados por guerrilheiros marxistas durante décadas.
Agora que o conflito finalmente terminou, uma esquerda mais palatável, liderada por Petro, parece ganhar espaço.
Jorge Muñoz estava na multidão que aplaudia Petro em Pereira. O sapateiro de 73 anos diz que a desigualdade – a mais profunda da América Latina, atrás somente do Haiti – precisa acabar.
“Nosso país é a brincadeira de uma elite política formada por cinco famílias”, ele afirma.
Nataly Valencia, 28 anos, concorda e acrescenta: “Para mim, Petro significa força e honestidade, a verdade do povo.”
Os investidores aparentemente não se preocupam com a atenção que o candidato tem recebido.
O mercado talvez esteja “ficando um pouco complacente”, disse Rashique Rahman, estrategista da Invesco Advisers, em Atlanta, que administra US$ 3,8 bilhões em ativos de países emergentes, incluindo títulos da dívida colombiana. “Talvez essa complacência nos leve a um período de avaliar o que ficou para trás. É um risco ao qual precisamos ficar muito antenados.”
Para alguns investidores, a plataforma de Petro é extrema demais para atrair apoio amplo. A especulação se reflete no mercado de câmbio. O peso colombiano é a moeda de melhor desempenho nos mercados emergentes neste ano. Enquanto isso, as moedas de Brasil e México, que também realizarão eleições presidenciais neste ano, se desvalorizaram em relação ao dólar.
Petro estudou Economia e se juntou ao grupo de guerrilheiros M-19 na década de 1970. Depois, fez carreira na política e se elegeu prefeito de Bogotá. Petro propõe uma mudança radical na economia colombiana, que movimenta US$ 310 bilhões. Ele quer reduzir a dependência em relação às duas maiores exportações, que são carvão e petróleo, dando lugar a produtos agrícolas, como abacate.
Em entrevistas, ele afirmou que seu governo receberia de bom grado investimentos em energia solar, produção de alimentos e programação de computadores, mas não em petróleo ou carvão.
Ele prometeu taxar investidores de ações e fazendeiros ricos e afirma que acredita nas políticas sociais da Escandinávia, no modelo de proteção ambiental da Costa Rica e se inspira nos sistemas educacionais do Vietnã e dos países bálticos.