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O destino incerto da Venezuela e seus impactos para o Brasil

Mais de 20 milhões de venezuelanos poderão ir às urnas neste domingo para escolher o seu presidente pelos próximos 6 anos; mas o que esperar do resultado?

Como presidente desde 2013, Maduro busca o seu terceiro mandato, já Urrutia tem como missão acabar com 25 anos de governos chavistas (Miguel Gutiérrez/EFE)

Como presidente desde 2013, Maduro busca o seu terceiro mandato, já Urrutia tem como missão acabar com 25 anos de governos chavistas (Miguel Gutiérrez/EFE)

Publicado em 27 de julho de 2024 às 21h37.

Última atualização em 28 de julho de 2024 às 00h00.

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Neste domingo, 28, mais de 20 milhões de venezuelanos poderão ir às urnas para escolher o seu presidente pelos próximos 6 anos. O voto não é obrigatório, mas a disputa entre dois candidatos promete tirar muitas pessoas de casa.

Nicolás Maduro e Edmundo González Urrutia são os dois candidatos que mais se destacam nas pesquisas. Como presidente desde 2013, Maduro busca o seu terceiro mandato, já Urrutia tem como missão acabar com 25 anos de governos chavistas.

Assim como no Brasil, o voto será realizado em urna eletrônica, e os locais de votação serão abertos das 6h às 18h (horário local), das 7h às 19h (horário de Brasília).

O destino da Venezuela, independente do resultado ainda é incerto, mas os impactos dessa eleição podem atingir países vizinhos, como o Brasil.

O venezuelano Rafael Duarte Villa chegou ao Brasil em 1988 e atualmente atua como professor titular de ciência política e relações internacionais da USP. Para ele, um dos alertas que o Brasil deve ter com as eleições venezuelanas é a questão da imigração.

“A proximidade geográfica faz com que a imigração da Venezuela tenha um impacto direto no Brasil, caso a crise política se intensifique nos próximos meses, além de poder trazer impactos para outros países por ser um país petroleiro”.

Outro impacto que o Brasil pode ter é com a imagem a nível global. Segundo Carolina Silva Pedroso, professora de Relações Internacionais da Unifesp, qualquer instabilidade na vizinhança pode ser negativa para o Brasil.

“Uma crise política na Venezuela pode afetar a nossa imagem internacional como liderança regional, afinal, como queremos opinar na guerra da Ucrânia, se mal resolvemos as pendências do nosso entorno”, diz a professora que também destaca a questão da imigração.

Por que María Corina Machado foi proibida de disputar eleições com Maduro?

Maria Corina Machado seria o principal nome para fazer frente a Nicolás Maduro, mas processos antigos a impedem de se candidatar este ano.

“Ela tem processos desde 2014, ou seja, bem anteriores à possibilidade de ela ser candidata presidencial", afirma a professora da Unifesp, que explica que Machado foi julgada e condenada por três tipos crimes, segundo, é claro, o sistema judiciário da Venezuela, acusado internacionalmente de ser cooptado pelos chavistas:

  • Incitação à violência e traição à pátria durante os protestos de 2014: ela chegou a clamar por intervenção militar estrangeira;
  • Falsidade ideológica: ela se apresentou como embaixadora da Venezuela, enquanto era, na verdade, deputada de oposição, em uma assembleia da Organização dos Estados Americanos;
  • Improbidade administrativa do período em que foi deputada e, posteriormente, por colaborar com Juan Guaidó na gestão de ajuda humanitária recebida do exterior que, em tese, foi desviada e nunca chegou ao seu destino.

A pessoa indicada terá força contra Maduro?

Quem entrou no lugar de Machado foi o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, sem histórico de atuação de política e traquejo para discursos, diz Pedroso.

“Ele lê tudo, nunca fala de improviso e está sempre acompanhado de Maria Corina Machado nos comícios, mas apesar de tudo, tem conseguido angariar um apoio importante mundo afora”, diz. “Sobretudo por suavizar a radicalidade do discurso de Machado ao defender a conciliação e a convivência pacífica entre as partes no pós-eleição”.

Quais serão os impactos dessa eleição para a Venezuela?

Sobre as possibilidades de vitórias de um ou de outro, o cenário imediato será semelhante, afirma Pedroso que é especialista em América Latina. Para ela, se Maduro se reeleger, pairarão dúvidas sobre a legitimidade e certamente a comunidade internacional questionará os resultados.

“Ele provavelmente continuaria tendo o apoio dos mesmos aliados internacionais que já tem, China, Rússia, Turquia e Irã, mas teria mais dificuldades na América Latina e outras potências ocidentais", diz a professora da Unifesp.

Por outro lado, se González vencer o governo provavelmente não será questionado sobre o processo eleitoral em si, mas poderia acusar a oposição de ter contado com apoio estrangeiro para interferir da dinâmica política interna.

“Ele deve ter grande apoio internacional, mas dificilmente terá a fidelidade das Forças Armadas, que são o grande fiel da balança na Venezuela”, afirma a professora que reforça um fator adicional que complica a situação. “A eleição é domingo, mas a posse é só em janeiro de 2025, até lá a tensão deve persistir entre os dois lados, que estão convencidos de que podem e vão ganhar e não parecem dispostos a reconhecer qualquer resultado diferente”.

Após 11 anos, Maduro sente que seu mandato está ameaçado. Para a professora da Unifesp, o que a Venezuela mais busca no próximo governo é a melhoria das condições de vida, principalmente o poder de compra.

“Para um venezuelano médio conseguir ter o mínimo, normalmente ele precisa ter mais de um vínculo empregatício. Outras questões são a melhoria dos serviços sociais, como vacinação que foi muito afetada pela crise, com crianças sem acesso às vacinas obrigatórias e retorno de doenças já erradicadas. Falta também investimento na educação, além da própria questão política referente à liberdade de expressão", afirma Pedroso.

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