O controle do Estado turco sobre as mulheres
Fim da proibição do uso da burca para funcionárias públicas turcas coincidiu com demissão de apresentadora por usar roupa decotada na televisão
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2014 às 13h12.
Ancara - O fim da proibição do uso da burca para as funcionárias públicas turcas coincidiu com a demissão de uma apresentadora por usar uma roupa decotada na televisão, fato que reavivou os debates sobre a tendência do governo islamita de impor seus princípios morais.
Poucos dias depois que o primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan , defendeu que a proibição da burca violava a liberdade de pensamento e culto, o porta-voz de seu partido, o islamita moderado AKP, considerava inaceitável o decote que Gozde Kansu usou em um programa de uma emissora privada.
"Não acho que houvesse nada estranho em meu decote. É vergonhoso discutir sobre o decote de uma pessoa", declarou ontem a protagonista do incidente ao jornal "Hürriyet".
A apresentadora, que foi substituída por um homem, denunciou que está já "cansada" do contínuo debate sobre o corpo da mulher no país.
"Isto é, definitivamente, uma intromissão no estilo de vida", lamentou Gozde.
Intromissão na vida privada. Essa é a acusação que fazem os círculos laicos contra Erdogan. E esse é o argumento que usou o primeiro-ministro para permitir que as professoras possam usar burcas nas aulas e as demais funcionárias a vestir o acessório em seus escritórios.
Proibi-lo, como foi feito em 1982 pouco depois um golpe de Estado, era claramente uma medida discriminatória que ia contra o direito ao trabalho, segundo Erdogan e seu AKP, que incluíram o fim dessa norma no "pacote democratizador" apresentado há dez dias.
Nezaket Oz e Fatma Güler, duas professoras que pela primeira vez puderam comparecer às aulas com a burca, declaram ao jornal "Radikal" que esta decisão é um passo na direção correta.
"Sofremos durante nossos anos de universidade devido à burca. Até hoje, cobria-me na rua e me descobria na entrada do colégio. Isto ia contra a liberdade de religião. Me sinto muito aliviada", afirmou Fatma.
Sevinc Celik, uma colega de profissão que se declara laica, contou à Agência Efe que, embora ela mesma não tape o rosto, sempre sentiu pena por suas companheiras que tinham que se cobrir e se descobrir e viver essa "esquizofrenia".
Mas nem todas as mulheres que se declaram laicas veem o assunto dessa maneira.
Aylin, uma estudante universitária, reconhece que a proibição do véu pode ser injusta, mas também algo necessário.
"A proibição faz sentido, tanto que há gente que diz que o Estado tem que permitir o véu porque o Islã obriga a isso", opinou.
Esta estudante de Ciências Políticas rejeita que o Estado imponha regulações segundo o que a religião considere bom ou ruim.
"Minha amiga pode usar uma burca e eu uma minissaia. Não deveria ser um assunto regulado pelo Estado", explicou à Agência Efe esta jovem enquanto passeava pelo campus da Universidade Técnica do Oriente Médio junto com uma companheira com burca.
O debate na rua é patente nos meios de comunicação. Enquanto os jornais mais islamitas aplaudem o que veem como "o fim de uma era obscura", os de linha mais secular denunciam o fim do veto como outro passo em direção à islamização da Turquia .
Há poucos meses, a decisão da companhia aérea semiestatal Turkish Airlines de proibir suas aeromoças de usar unhas esmaltadas e batom gerou tamanha polêmica que a empresa teve que retirar sua imposição e assegurar que tudo tinha sido um mal-entendido.
Recentemente, o caso do diretor de um instituto de Antalya que proibiu que as alunas comparecessem às aulas com saias curtas gerou polêmica na mídia. Os colegas do sexo oposto protestaram indo vestidos de saias no colégio.
Embora a proibição da burca tenha sido incluída pelos militares na legislação em 1982, já desde a fundação da Turquia laica e republicana em 1923, esse acessório desapareceu de fato dos organismos públicos.
O fim da proibição foi tradicionalmente a principal reivindicação dos círculos islamitas. Porém, a proibição de usar burca continuará se aplicando às funcionárias na polícia, no exército e no setor judiciário.
Essas exceções foram denunciadas pelo sindicato de funcionários Memur-Sen, de tendência islamita, que anunciou uma campanha de desobediência civil para reivindicar a permissão dos homens de usar barba e não serem obrigados a usar gravata no trabalho.
Ancara - O fim da proibição do uso da burca para as funcionárias públicas turcas coincidiu com a demissão de uma apresentadora por usar uma roupa decotada na televisão, fato que reavivou os debates sobre a tendência do governo islamita de impor seus princípios morais.
Poucos dias depois que o primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan , defendeu que a proibição da burca violava a liberdade de pensamento e culto, o porta-voz de seu partido, o islamita moderado AKP, considerava inaceitável o decote que Gozde Kansu usou em um programa de uma emissora privada.
"Não acho que houvesse nada estranho em meu decote. É vergonhoso discutir sobre o decote de uma pessoa", declarou ontem a protagonista do incidente ao jornal "Hürriyet".
A apresentadora, que foi substituída por um homem, denunciou que está já "cansada" do contínuo debate sobre o corpo da mulher no país.
"Isto é, definitivamente, uma intromissão no estilo de vida", lamentou Gozde.
Intromissão na vida privada. Essa é a acusação que fazem os círculos laicos contra Erdogan. E esse é o argumento que usou o primeiro-ministro para permitir que as professoras possam usar burcas nas aulas e as demais funcionárias a vestir o acessório em seus escritórios.
Proibi-lo, como foi feito em 1982 pouco depois um golpe de Estado, era claramente uma medida discriminatória que ia contra o direito ao trabalho, segundo Erdogan e seu AKP, que incluíram o fim dessa norma no "pacote democratizador" apresentado há dez dias.
Nezaket Oz e Fatma Güler, duas professoras que pela primeira vez puderam comparecer às aulas com a burca, declaram ao jornal "Radikal" que esta decisão é um passo na direção correta.
"Sofremos durante nossos anos de universidade devido à burca. Até hoje, cobria-me na rua e me descobria na entrada do colégio. Isto ia contra a liberdade de religião. Me sinto muito aliviada", afirmou Fatma.
Sevinc Celik, uma colega de profissão que se declara laica, contou à Agência Efe que, embora ela mesma não tape o rosto, sempre sentiu pena por suas companheiras que tinham que se cobrir e se descobrir e viver essa "esquizofrenia".
Mas nem todas as mulheres que se declaram laicas veem o assunto dessa maneira.
Aylin, uma estudante universitária, reconhece que a proibição do véu pode ser injusta, mas também algo necessário.
"A proibição faz sentido, tanto que há gente que diz que o Estado tem que permitir o véu porque o Islã obriga a isso", opinou.
Esta estudante de Ciências Políticas rejeita que o Estado imponha regulações segundo o que a religião considere bom ou ruim.
"Minha amiga pode usar uma burca e eu uma minissaia. Não deveria ser um assunto regulado pelo Estado", explicou à Agência Efe esta jovem enquanto passeava pelo campus da Universidade Técnica do Oriente Médio junto com uma companheira com burca.
O debate na rua é patente nos meios de comunicação. Enquanto os jornais mais islamitas aplaudem o que veem como "o fim de uma era obscura", os de linha mais secular denunciam o fim do veto como outro passo em direção à islamização da Turquia .
Há poucos meses, a decisão da companhia aérea semiestatal Turkish Airlines de proibir suas aeromoças de usar unhas esmaltadas e batom gerou tamanha polêmica que a empresa teve que retirar sua imposição e assegurar que tudo tinha sido um mal-entendido.
Recentemente, o caso do diretor de um instituto de Antalya que proibiu que as alunas comparecessem às aulas com saias curtas gerou polêmica na mídia. Os colegas do sexo oposto protestaram indo vestidos de saias no colégio.
Embora a proibição da burca tenha sido incluída pelos militares na legislação em 1982, já desde a fundação da Turquia laica e republicana em 1923, esse acessório desapareceu de fato dos organismos públicos.
O fim da proibição foi tradicionalmente a principal reivindicação dos círculos islamitas. Porém, a proibição de usar burca continuará se aplicando às funcionárias na polícia, no exército e no setor judiciário.
Essas exceções foram denunciadas pelo sindicato de funcionários Memur-Sen, de tendência islamita, que anunciou uma campanha de desobediência civil para reivindicar a permissão dos homens de usar barba e não serem obrigados a usar gravata no trabalho.