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Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 21h56.
Roma - O ano de 2013 será lembrado na Itália como aquele em que se presenciou a queda de Silvio Berlusconi, condenado, expulso do parlamento e privado do escudo da imunidade, mas também como o da transformação da política italiana.
Silvio Berlusconi voltou a ser, como nos últimos 19 anos, o protagonista indiscutível do panorama político italiano, embora, desta vez, 2013 tenha sido testemunha de um lento declínio cujo ato final foi escrito no dia 27 de novembro, quando o senado votou a favor da cassação do seu mandato após a condenação a quatro anos de prisão por fraude fiscal.
Apesar de ferir gravemente o brio de 'Il Cavaliere', a cassação do senado representa, sobretudo, a impossibilidade de participar de eleições nos próximos 6 anos pela aplicação da chamada lei Severino, que proíbe os condenados a penas definitivas de mais de dois anos de obter uma cadeira no parlamento.
Até 27 de novembro, data que muitos analistas descrevem como a do final de toda uma era, Berlusconi condicionou e manteve como prisioneira a vida política do país durante todo o ano.
O resultado incerto das eleições gerais de 24 e 25 de fevereiro foram, para Berlusconi, a oportunidade de tramar outro de seus planos para assegurar seu lugar no poder.
Diante da fraqueza da centro-esquerda, 'Il Cavaliere' conseguiu convencer todos a fazer parte de uma coalizão governamental que o chefe de Estado, Giorgio Napolitano, encarregou o comando a Enrico Letta.
O também magnata da mídia italiana, apesar de não ter ganhado as eleições, voltava ao controle das rédeas do país e, sob as contínuas ameaças de abandonar a coalizão, conseguiu ditar seu roteiro ao executivo de Enrico Letta.
O final de Berlusconi, no entanto, se desencadeou no dia 1º de agosto quando a Corte Suprema confirmou a condenação a quatro anos de reclusão pelo crime de fraude fiscal no caso Mediaset e a dois anos de proibição de exercer qualquer cargo público.
Na tentativa de evitar sua cassação, que lhe deixava, além disso, sem a imunidade parlamentar para o restante dos processos que ainda deve enfrentar, Berlusconi tentou forçar em outubro uma crise de governo com a ameaça de renúncia dos ministros da sua base.
Mas neste ano 'amargo', como o próprio Berlusconi definiu, a iniciativa se voltou contra si mesmo e terminou com a ruptura do seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), e a traição daquele que foi seu apadrinhado e herdeiro político, Angelino Alfano, que deixou a casa do pai para formar seu próprio grupo.
Um grupo, o Novo Centrodestra, que garantia a sobrevivência do executivo de Enrico Letta e significava o golpe de misericórdia ao protagonista da vida política italiana dos últimos 20 anos.
Tudo leva a crer que assim se conclui a carreira política de Berlusconi após a fundação do Forza Itália em 1994, mas o ex-mandatário e empresário acostumou o país a surpreendentes golpes de cena e muitos asseguram que ainda se seguirá falando de 'Il Caimano' (jacaré em italiano).
A saída de Berlusconi do parlamento criou uma situação anômala e inovadora na política italiana: os três líderes mais carismáticos do país não têm cadeira.
Além de Berlusconi, 2013 marcou a entrada no parlamento da 'antipolítica', o Movimento 5 Estrelas, que conseguiu colocar nas eleições de fevereiro 109 deputados e 54 senadores e seu líder, o ex-comediante Beppe Grillo, controla as rédeas sem ter de se submeter às normas parlamentares.
Por outro lado, a geriátrica política italiana também mudará, pois tudo indica que a centro-esquerda passará às mãos de Matteo Renzi, o jovem prefeito de Florença de 38 anos, condenado neste ano a ser o secretário do Partido Democrata (PD) e possível futuro presidente do governo depois que a centro-direita ficou sem líderes de peso.