Para além de Uvalde e Tulsa: EUA acumula mais de 200 tiroteios em massa neste ano
Embora os tiroteios em Uvalde e Tulsa tenham se tornado mais midiáticos, um ataque em massa ocorreu a cada semana nos Estados Unidos em 2022
Carolina Riveira
Publicado em 5 de junho de 2022 às 08h00.
Com um intervalo de menos de duas semanas, um jovem abriu fogo contra uma escola na pacata cidade de Uvalde, no Texas e, dias depois, um homem atacou um hospital em Tulsa, no Oklahoma. A primeira tragédia matou 19 crianças e duas professoras. O atentado no hospital deixou quatro mortos. Ambos os atiradores morreram em seguida.
É uma rotina de violência impensável em quase qualquer país desenvolvido do mundo, mas não nos Estados Unidos.
Embora os ataques recentes em Uvalde e Tulsa tenham se tornado mais midiáticos e parado o país em torno do debate sobre a violência armada, os EUA tiveram um ataque do tipo por semana em 2022.
Os números são da organização Gun Violence Archive, que mapeia os casos. Foram mais de 230 ataques em massa com armas neste ano no país até esta sexta-feira, 3.
Os atentados já mataram mais de 250 pessoas e feriram mais de mil até o momento.
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Em um mesmo mês em solo americano, houve mais dias com ataques em massa do que sem. O mês de 2022 com mais dias sem registros, por exemplo, foi janeiro. E mesmo assim, dos 31 dias no mês, só 13 não tiveram um ataque a tiros. Só no primeiro dia do ano, em 1º de janeiro, foram registrados sete ataques em massa.
Para ser classificado como ataque em massa, o ocorrido precisa ter deixado ao menos quatro mortos ou feridos, no critério da Gun Violence Archive. Isto é, há ainda outros casos, com vítimas, mas que não entram nos mais de 200 registros do ano.
Os EUA convivem com atentados a tiros há décadas. No geral, um chamado “lobo solitário”, cidadão americano – e não um terrorista estrangeiro –, com problemas psicológicos e fácil acesso a armas de alto calibre, abre fogo contra um espaço público ou cheio de cidadãos presentes. Uma escola, um show, um comércio: todos são potenciais locais de risco. Na última década, foram mais de 1.300 mortos em ataques do tipo.
Mas, mesmo para esse histórico, autoridades apontam que o total de atentados tem crescido. O número de ataques em massa nos cinco primeiros meses do ano mais que dobrou em relação ao mesmo período oito anos atrás, em 2014.
Embora a violência e a ação de criminosos seja comum em toda parte do mundo – incluindo em países como o Brasil, com alta taxa de homicídios –, chama atenção a disparidade entre os EUA e outros países desenvolvidos.
A taxa de homicídios com armas nos EUA é mais de 25 vezes maior do que a de qualquer outro país de renda alta, segundo dados coletados em bases públicas e estudos pela organização GunPolicy.org, projeto da Escola de Saúde Pública de Sydney, na Austrália.
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A taxa de morte por armas nos EUA é de 12 vítimas fatais a cada 100 mil habitantes. No Reino Unido, é de menos de 0,20. Na Alemanha, cerca de 1,0 e na França, perto de 2,5. Os EUA têm também mais armas do que pessoas, uma taxa superior a qualquer outro país rico do mundo.
A disparidade com outros países ricos com frequência é mencionada por políticos e ativistas que defendem maior controle da venda de armas entre os americanos. O caso australiano, que deixou as leis mais rígidas após ataques (e viu o número de assassinatos diminuir ), é um dos exemplos.
O presidente americano, Joe Biden, voltou a falar sobre o assunto nesta semana. Em pronunciamento nacional após o massacre em Tulsa, Biden disse que a situação americana é uma “carnificina”, termo que já havia usado após as mortes na escola em Uvalde.
"Por que, em nome de Deus, um cidadão comum poderia comprar uma arma de assalto com carregadores de 30 cartuchos, que permite que atiradores em massa disparem centenas de balas em questão de minutos?”, disse.
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O presidente do Partido Democrata defendeu que os EUA proíbam a compra de armas de alto calibre, como rifles, por cidadãos comuns – esses armamentos são os mais comumente usados nos massacres –, ou a imposição de um limite de idade para a compra.
A proibição do acesso de adolescentes às armas, no entanto, é vista por especialistas como pouco eficaz, uma vez que se acumulam nos EUA casos de jovens que roubaram a arma dos pais.
O direto à compra de armas está na segunda emenda da Constituição americana, o que torna o tema quase sagrado nos EUA. No polarizado debate sobre armas no país, alguns pontos são defendidos pela maioria da população, da direita à esquerda, como maior controle dos antecedentes de quem compra os armamentos. A proibição do acesso a rifles, no entanto, é um debate mais polêmico. No geral, estados mais progressistas têm leis mais rigorosas sobre o tema, mas passar uma legislação nacional que restrinja o acesso nacionalmente, como quer Biden, é missão quase impossível.