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Número de casos de covid-19 em Wuhan pode ter sido 10 vezes maior

Revisões sobre os dados de casos e mortes feitas há alguns meses aumentam as suspeitas de que a China poderia ter maquiado os números

Wuhan: epicentro da pandemia de coronavírus. (Bloomberg./Bloomberg)

Wuhan: epicentro da pandemia de coronavírus. (Bloomberg./Bloomberg)

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Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 11h53.

Última atualização em 30 de dezembro de 2020 às 11h34.

A escala do surto de covid-19 em Wuhan no início deste ano pode ter sido quase dez vezes maior do que o número registrado, segundo um estudo conduzido por autoridades de saúde pública da China. Com isso, a cidade onde o coronavírus foi identificado pela primeira vez ainda está bem abaixo da imunidade necessária para evitar um novo surto.

Cerca de 4,4% das pessoas testadas tinham anticorpos específicos que podem combater o patógeno que causa a covid-19, indicando que foram infectadas há algum tempo, segundo pesquisa sorológica com mais de 34 mil pessoas conduzida em abril pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças. Os dados foram divulgados na noite da segunda-feira 28.

Essa proporção sugere que, como Wuhan tem cerca de 11 milhões de habitantes, 500 mil residentes podem ter sido infectados, quase 10 vezes mais do que os 50 mil casos de covid-19 confirmados pelas autoridades de saúde em meados de abril, quando a pesquisa foi realizada.

A China foi criticada por vários países devido à abordagem inicial do surto, que se tornou uma pandemia ao longo do ano desde o surgimento dos primeiros casos. Os EUA questionaram os números da China sobre o surto em Wuhan, que foi rapidamente eclipsado por focos maiores na Europa e na América do Norte. Revisões sobre os dados de casos e mortes aumentam as suspeitas de que a China poderia ter maquiado os números.

Embora os dados sorológicos possam reacender essas alegações, é comum que autoridades de saúde subestimem os casos durante um forte surto, considerando que a capacidade de testes pode ser limitada e os hospitais sobrecarregados com o aumento repentino de pacientes. A capacidade do coronavírus de infectar silenciosamente, sem causar sintomas inicialmente ou mesmo durante o período da infecção, apenas agrava o problema.

A vigilância sorológica tem sido amplamente utilizada por profissionais de saúde no mundo todo para medir a verdadeira escala das epidemias, como a covid-19, AIDS e hepatite. A prevalência de doenças derivadas de tais estudos pode orientar programas de mitigação e vacinação.

Os resultados de Wuhan mostram que mesmo a cidade mais atingida da China ainda está vulnerável à covid-19. Epidemiologistas dizem que pelo menos metade da população precisa ter entrado em contato com o vírus para atingir o nível mínimo de imunidade coletiva. Mas, no geral, a taxa de infecção da cidade está em linha com as encontradas em outros países após a primeira onda de infecções por coronavírus, segundo informou o CDC da China em comunicado à imprensa publicado no site da agência.

As taxas de anticorpos positivos na Espanha e na Suíça no segundo trimestre, por exemplo, foram de 6,2% e 11%, respectivamente, disse o CDC da China. Embora sejam superiores aos 4,4% encontrados em Wuhan -- e anteriores às outras ondas que varreram a Europa --, ainda estão aquém do nível de imunidade de rebanho.

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