Novas decapitações do EI provoca repulsa de países
Casa Branca confirmou a autenticidade do vídeo divulgado que mostra a cabeça do jovem refém americano de 26 anos depois de sua execução pelos jihadistas
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 14h42.
Beirute - A decapitação do refém americano Peter Kassig e de 18 soldados sírios no fim de semana provocou repulsa em todo o mundo, com os países da coalizão reafirmando sua determinação para eliminar o grupo extremista Estado Islâmico ( EI ).
A Casa Branca confirmou a autenticidade do vídeo divulgado no domingo e que mostra a cabeça do jovem refém americano de 26 anos depois de sua execução pelos jihadistas.
"É um ato de pura maldade cometido por um grupo terrorista que o mundo considera, com razão, como desumano", denunciou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
As ações do grupo "não representam qualquer fé, e certamente não a fé muçulmana que Abdul Rahman havia adotado", acrescentou, citando o nome adotado por Peter Kassig depois de sua conversão ao Islã.
Muitos líderes também condenaram as execuções, que são "uma nova ilustração da determinação do Estado Islâmico/Daesh em continuar seu programa de terror", segundo a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
Ela reiterou nesta segunda-feira que a União Europeia continuará "totalmente comprometida com a luta" contra os jihadistas no Iraque e na Síria. Vários países da UE participam dos ataques aéreos contra posições do EI em território iraquiano.
Além das execuções, diplomatas e especialistas questionam a forma incomum do vídeo que foi transmitido no domingo pelo órgão midiático dos grupos jihadistas da Al-Furqan.
A gravação é completamente diferente das anteriores do EI anunciando as execuções dos quatro reféns ocidentais decapitados desde meados de agosto: os jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff e os voluntários humanitários britânicos Alan Henning e David Haines.
Rosto descoberto
Mais longo do que os anteriores, este vídeo de quinze minutos se inicia com a afirmação da vontade do EI de ampliar seu controle para além do Iraque e da Síria, onde proclamou um "califado" nas regiões sob seu controle.
Em seguida, exibe, usando closes e câmera lenta, a decapitação dos 18 "soldados de Bashar" al-Assad. Vemos o mesmo número de combatentes do EI com facas à mão forçando suas vítimas a deitar no chão e decapitá-las simultaneamente.
Pela primeira vez, mostra os rostos descobertos dos combatentes do EI, alguns com traços asiáticos e europeus.
Ao contrário dos vídeos anteriores de reféns, Kassig não é mostrado ao vivo e nenhuma ameaça é feita contra outro detento ocidental.
"Estamos enterrando o primeiro cruzado americano em Dabiq (cidade no norte da Síria), e esperamos impacientemente a chegada de outros soldados para que sejam degolados e enterrados da mesma maneira", ameaça o homem que parece ser o "Jihadi John", como é conhecido o suposto assassino dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.
Os pais do refém americano declararam no domingo estar com o "coração partido ao saber que o nosso filho, Abdul-Rahman Peter Kassig, perdeu sua vida por causa de seu amor pelo povo sírio e seu desejo de aliviar seu sofrimento".
O jovem, um ex-soldado que havia servido no Iraque, fundou em 2012 uma organização humanitária, antes de ser raptado na Síria em 2013.
As bandeiras foram hasteadas a meio mastro nesta segunda-feira nos edifícios governamentais de sua cidade natal no estado americano de Indiana, cujo governador Mike Pence denunciou um "ato bárbaro sem nome".
O assassinato de Kassig foi associado pelo EI ao envio de cerca de 3.000 soldados e conselheiros militares americanos ao Iraque para ajudar o exército a lutar contra o grupo jihadista sunita.
"Há quatro anos vocês disseram que deixaram o Iraque (...) Na verdade, não fizeram mais que esconder algumas de suas tropas (...) Aquelas que se retiraram, voltaram em número muito maior", declara no vídeo o homem encapuzado, dirigindo-se ao presidente Obama.
Obama, que havia se mostrado inicialmente muito relutante em intervir, anunciou recentemente uma "nova fase" no Iraque, enviando 1.500 conselheiros adicionais.
O general americano Martin Dempsey visitou Bagdá no sábado para discutir com as autoridades iraquianas a estratégia para tornar operacionais o mais rapidamente possível as forças iraquianas e curdas.
Excluindo o envio de tropas terrestres, os Estados Unidos e seus aliados da coalizão aumentaram recentemente a frequência de seus ataques aéreos, permitindo que as forças iraquianas avançassem no norte do Iraque, onde retomaram o controle da cidade estratégica de Baiji.
Estrangeiros ativos
Um pai que havia sugerido que seu filho britânico de 20 anos poderia figurar entre os jihadistas que aparecem no vídeo da decapitação de Peter Kassig voltou atrás e afirmou à BBC que não se trata dele.
Ahmed Muthana, de 57 anos, havia declarado ao jornal The Daily Mail que um dos jihadistas do vídeo da execução de Kassig e de 18 homens parecia ser seu filho, Nasser.
Contatado pela BBC, Muthana indicou, no entanto, que não era seu filho. "Não parece com ele, há muitas diferenças. Este tem um nariz maior, e meu filho tem um nariz chato", afirmou, vendo o vídeo.
Falando anteriormente ao britânico Daily Mail, o pai deu declarações diferentes.
"Não tenho certeza, mas parece ser meu filho", declarou Ahmed Muthana, 57 anos.
O britânico em questão seria Nasser Muthana, um estudante de medicina originário de Cardiff (Grã-Bretanha). O jornal britânico publicou fotos capturadas do vídeo mostrando seu rosto.
"Ele deve agora viver com medo de Deus por ter matado", afirmou o pai. Indagado pelo jornal se estaria disposto a perdoar o filho pelo que fez, ele foi taxativo: "Não. Ou ele está louco ou há algo de errado".
O Daily Mail também cita Charlie Winter, um especialista do centro de pesquisas Quilliam, que confirma que o rapaz do vídeo se parece com Nasser Muthana.
Muthana teria ido para a Síria, onde se encontrou com seu irmão mais novo, Aseel, de 17 anos, segundo a BBC.
"Estou pronto para morrer", teria dito Aseel em uma entrevista oline com a rádio inglesa. Ele acrescentou que não se importava com o que a família e os amigos pensavam dele.
Também nesta segunda-feira, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou que há uma forte probabilidade de que um cidadão francês tenha participado diretamente na decapitação dos prisioneiros sírios.
"Pode tratar-se de Maxime Hauchard, nascido em 1992, no noroeste da França, e que partiu para a Síria em agosto de 2013, depois de uma estada na Mauritânia, em 2012", indicou o ministro, baseando-se numa análise do vídeo.
Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o EI já executou quase 1.500 pessoas na Síria desde que proclamou o início de seu "califado" há cinco meses.
"Documentamos a execução de 1.429 pessoas desde que o EI anunciou seu 'califado' em junho", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor da ONG, que tem uma ampla rede de fontes em todo o território sírio.
"Das pessoas decapitadas ou vítimas de fuzilamentos em grupo, 879 eram civis, sendo 700 pertencentes aos Shaitat, tribo originária da província de Deir Ezzor, sunita assim como o EI, que se rebelou contra este grupo em meados de 2014.
Outras 63 vítimas pertenciam a outros grupos rebeldes ou aos rivais imediatos do EI na Síria, os jihadistas da Frente Al-Nusra que lutam contra o Estado Islâmico nas regiões norte e leste do país, informou Rahman.
"Além disso, 483 eram soldados do regime de Bashar al-Assad e quatro integrantes do próprio EI acusados de corrupção e outros supostos crimes", disse o diretor do OSDH.
Beirute - A decapitação do refém americano Peter Kassig e de 18 soldados sírios no fim de semana provocou repulsa em todo o mundo, com os países da coalizão reafirmando sua determinação para eliminar o grupo extremista Estado Islâmico ( EI ).
A Casa Branca confirmou a autenticidade do vídeo divulgado no domingo e que mostra a cabeça do jovem refém americano de 26 anos depois de sua execução pelos jihadistas.
"É um ato de pura maldade cometido por um grupo terrorista que o mundo considera, com razão, como desumano", denunciou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
As ações do grupo "não representam qualquer fé, e certamente não a fé muçulmana que Abdul Rahman havia adotado", acrescentou, citando o nome adotado por Peter Kassig depois de sua conversão ao Islã.
Muitos líderes também condenaram as execuções, que são "uma nova ilustração da determinação do Estado Islâmico/Daesh em continuar seu programa de terror", segundo a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
Ela reiterou nesta segunda-feira que a União Europeia continuará "totalmente comprometida com a luta" contra os jihadistas no Iraque e na Síria. Vários países da UE participam dos ataques aéreos contra posições do EI em território iraquiano.
Além das execuções, diplomatas e especialistas questionam a forma incomum do vídeo que foi transmitido no domingo pelo órgão midiático dos grupos jihadistas da Al-Furqan.
A gravação é completamente diferente das anteriores do EI anunciando as execuções dos quatro reféns ocidentais decapitados desde meados de agosto: os jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff e os voluntários humanitários britânicos Alan Henning e David Haines.
Rosto descoberto
Mais longo do que os anteriores, este vídeo de quinze minutos se inicia com a afirmação da vontade do EI de ampliar seu controle para além do Iraque e da Síria, onde proclamou um "califado" nas regiões sob seu controle.
Em seguida, exibe, usando closes e câmera lenta, a decapitação dos 18 "soldados de Bashar" al-Assad. Vemos o mesmo número de combatentes do EI com facas à mão forçando suas vítimas a deitar no chão e decapitá-las simultaneamente.
Pela primeira vez, mostra os rostos descobertos dos combatentes do EI, alguns com traços asiáticos e europeus.
Ao contrário dos vídeos anteriores de reféns, Kassig não é mostrado ao vivo e nenhuma ameaça é feita contra outro detento ocidental.
"Estamos enterrando o primeiro cruzado americano em Dabiq (cidade no norte da Síria), e esperamos impacientemente a chegada de outros soldados para que sejam degolados e enterrados da mesma maneira", ameaça o homem que parece ser o "Jihadi John", como é conhecido o suposto assassino dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.
Os pais do refém americano declararam no domingo estar com o "coração partido ao saber que o nosso filho, Abdul-Rahman Peter Kassig, perdeu sua vida por causa de seu amor pelo povo sírio e seu desejo de aliviar seu sofrimento".
O jovem, um ex-soldado que havia servido no Iraque, fundou em 2012 uma organização humanitária, antes de ser raptado na Síria em 2013.
As bandeiras foram hasteadas a meio mastro nesta segunda-feira nos edifícios governamentais de sua cidade natal no estado americano de Indiana, cujo governador Mike Pence denunciou um "ato bárbaro sem nome".
O assassinato de Kassig foi associado pelo EI ao envio de cerca de 3.000 soldados e conselheiros militares americanos ao Iraque para ajudar o exército a lutar contra o grupo jihadista sunita.
"Há quatro anos vocês disseram que deixaram o Iraque (...) Na verdade, não fizeram mais que esconder algumas de suas tropas (...) Aquelas que se retiraram, voltaram em número muito maior", declara no vídeo o homem encapuzado, dirigindo-se ao presidente Obama.
Obama, que havia se mostrado inicialmente muito relutante em intervir, anunciou recentemente uma "nova fase" no Iraque, enviando 1.500 conselheiros adicionais.
O general americano Martin Dempsey visitou Bagdá no sábado para discutir com as autoridades iraquianas a estratégia para tornar operacionais o mais rapidamente possível as forças iraquianas e curdas.
Excluindo o envio de tropas terrestres, os Estados Unidos e seus aliados da coalizão aumentaram recentemente a frequência de seus ataques aéreos, permitindo que as forças iraquianas avançassem no norte do Iraque, onde retomaram o controle da cidade estratégica de Baiji.
Estrangeiros ativos
Um pai que havia sugerido que seu filho britânico de 20 anos poderia figurar entre os jihadistas que aparecem no vídeo da decapitação de Peter Kassig voltou atrás e afirmou à BBC que não se trata dele.
Ahmed Muthana, de 57 anos, havia declarado ao jornal The Daily Mail que um dos jihadistas do vídeo da execução de Kassig e de 18 homens parecia ser seu filho, Nasser.
Contatado pela BBC, Muthana indicou, no entanto, que não era seu filho. "Não parece com ele, há muitas diferenças. Este tem um nariz maior, e meu filho tem um nariz chato", afirmou, vendo o vídeo.
Falando anteriormente ao britânico Daily Mail, o pai deu declarações diferentes.
"Não tenho certeza, mas parece ser meu filho", declarou Ahmed Muthana, 57 anos.
O britânico em questão seria Nasser Muthana, um estudante de medicina originário de Cardiff (Grã-Bretanha). O jornal britânico publicou fotos capturadas do vídeo mostrando seu rosto.
"Ele deve agora viver com medo de Deus por ter matado", afirmou o pai. Indagado pelo jornal se estaria disposto a perdoar o filho pelo que fez, ele foi taxativo: "Não. Ou ele está louco ou há algo de errado".
O Daily Mail também cita Charlie Winter, um especialista do centro de pesquisas Quilliam, que confirma que o rapaz do vídeo se parece com Nasser Muthana.
Muthana teria ido para a Síria, onde se encontrou com seu irmão mais novo, Aseel, de 17 anos, segundo a BBC.
"Estou pronto para morrer", teria dito Aseel em uma entrevista oline com a rádio inglesa. Ele acrescentou que não se importava com o que a família e os amigos pensavam dele.
Também nesta segunda-feira, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou que há uma forte probabilidade de que um cidadão francês tenha participado diretamente na decapitação dos prisioneiros sírios.
"Pode tratar-se de Maxime Hauchard, nascido em 1992, no noroeste da França, e que partiu para a Síria em agosto de 2013, depois de uma estada na Mauritânia, em 2012", indicou o ministro, baseando-se numa análise do vídeo.
Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o EI já executou quase 1.500 pessoas na Síria desde que proclamou o início de seu "califado" há cinco meses.
"Documentamos a execução de 1.429 pessoas desde que o EI anunciou seu 'califado' em junho", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor da ONG, que tem uma ampla rede de fontes em todo o território sírio.
"Das pessoas decapitadas ou vítimas de fuzilamentos em grupo, 879 eram civis, sendo 700 pertencentes aos Shaitat, tribo originária da província de Deir Ezzor, sunita assim como o EI, que se rebelou contra este grupo em meados de 2014.
Outras 63 vítimas pertenciam a outros grupos rebeldes ou aos rivais imediatos do EI na Síria, os jihadistas da Frente Al-Nusra que lutam contra o Estado Islâmico nas regiões norte e leste do país, informou Rahman.
"Além disso, 483 eram soldados do regime de Bashar al-Assad e quatro integrantes do próprio EI acusados de corrupção e outros supostos crimes", disse o diretor do OSDH.