Debate nos EUA: Biden e Trump se enfrentam em primeiro confronto nesta quinta-feira (Anna Moneymaker/Scott Olson/Getty Images)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 27 de junho de 2024 às 14h14.
Última atualização em 27 de junho de 2024 às 20h42.
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump fazem um debate "único" na história do país nesta quinta-feira, 27, às 22h. O fator inusitado desse debate é que nenhum dos dois foi efetivamente confirmado por seus partidos como candidato oficial — algo inédito. O evento será realizado pela CNN em Atlanta, Geórgia, e sem audiência no estúdio.
Um destaque desse debate é que os holofotes estarão mais voltados para a capacidade e para a desenvoltura de Biden diante das câmeras e do adversário.
Para Maurício Moura, professor da Universidade George Washington e comentarista do programa O Caminho para a Casa Branca, uma produção da EXAME e da Gauss Capital, a capacidade de debates televisivos em mudar votos ou angariar novos apoiadores diminuiu consistentemente nas últimas décadas — o que acaba em um "duelo de torcidas" dos candidatos.
Ainda assim, é a performance de Biden, altamente questionado pela opinião pública e por membros de seu próprio partido por causa de sua idade e capacidade cognitiva em levar adiante a campanha, que importa.
Na sexta-feira, 28, a EXAME fará uma análise dos principais destaques do debate e do caminho pela frente.
Historicamente, debates presidenciais desempenharam um papel significativo na formação das opiniões dos eleitores, desde o icônico confronto televisivo entre John F. Kennedy e Richard Nixon em 1960. No entanto, Moura destaca que, nos últimos anos, essa dinâmica mudou.
Em um ambiente político altamente polarizado, como visto nas eleições de 2020, debates têm funcionado mais como arenas para reafirmação de posições já consolidadas, sem provocar grandes mudanças na intenção de voto dos eleitores.
"Acompanhamos na eleição de 2020 os debates entre o Trump e o Biden e não houve mudança de voto por causa do debate. Esse ambiente polarizado faz com que os debates sejam basicamente duelos entre torcidas: a torcida de Trump e a torcida de Biden. Não esperamos que esse debate produza nenhuma grande mudança na intenção de voto nas suas bases já consolidadas", diz Moura.
Para Joe Biden, o debate terá importância maior do que para Donald Trump.
"A base de Trump tem se mostrado muito mais sólida do que a de Biden. É por isso que ele tem liderado nos estados mais críticos", diz Moura, referindo-se aos estados de Arizona, Nevada, Geórgia, Pensylvannia, Wiscosin e Michican.
A expectativa é que Trump siga sua estratégia de criticar a gestão econômica de Biden, da gestão da imigração. "E o último ponto: mostrar que o Biden, com a idade que ele tem e as condições não está em condições de ser presidente", diz Moura. "Não vejo Trump conquistando novos eleitores nesse debate."
A estratégia de Trump no debate, por sua vez, é previsível e já amplamente conhecida. Ele deverá focar suas críticas na gestão econômica e de imigração de Biden, áreas nas quais ele é melhor avaliado segundo as pesquisas. Além disso, Trump provavelmente questionará a aptidão de Biden para a Presidência, dada sua idade avançada. Moura acredita que, embora essa abordagem não conquiste novos eleitores, ela reforça a base sólida de apoio que Trump já possui.
Já exploramos as forças — e o apelo — de Trump em um episódio especial:
Moura pondera que a base de apoio a Biden é mais ampla que a de Trump, o que tende a torná-la mais frágil.
"Tem desde jovens, latinos, afroamericanos, eleitores com ensino superior e pessoas de diversas origens. É importante ele mostrar nesse debate que está preparado para a campanha e para governar depois", afirma. "Uma das grandes preocupações é ele mostrar que apesar das críticas sobre a idade e a insegurança da opinião pública — inclusive eleitores democratas — ele consegue tocar um debate durante 1 hora e meia."
"Biden precisa muito mais conquistar o público dele do que o Trump", afirma o professor.
Um dos grandes pontos de interrogação é como Biden abordará as condenações criminais de Trump durante o debate. Moura aponta que essa questão é estratégica e pode influenciar significativamente a campanha.
"Vai ser uma estratégia mais agressiva, eventualmente se referindo a Trump como condenado, ou mais amena?", questiona Moura.
"Essa é uma das grandes perguntas dessa eleição: qual o efeito dessa condenação pode ter nas eleições e como a campanha de Biden trabalhará esse efeito. Esse debate pode começar a responder a essa pergunta."
Moura ainda ressalta que o tema é essencial para a disputa, já que pela primeira vez um candidato à Presidência do país foi condenado — e enfrenta diversos outros processos.
"Biden pode optar por uma abordagem agressiva, destacando as condenações de Trump, ou adotar uma postura mais moderada. A forma como ele escolherá tratar esse tema pode começar a delinear os efeitos potenciais dessas condenações na eleição", afirma.
O programa O Caminho para a Casa Branca já tratou dos processos de Trump em um episódio especial:
Finalmente, será essencial observar como Biden se posicionará em relação a temas críticos como economia e imigração.
Os temas, como já mostramos ao longos dos episódios do programa O Caminho para a Casa Branca, é de suma importância para o pleito eleitoral.
Moura ressalta que, embora Biden tenha implementado medidas mais duras na imigração recentemente, sua campanha ainda não explicitou claramente essas estratégias. O debate oferece a Biden uma oportunidade crucial para apresentar suas propostas e consolidar seu apelo junto aos eleitores americanos.
"Ainda não vimos o Biden atuando na campanha de forma a explicitar essas estratégias. Esse debate é muito importante para ter exata noção como ele vai se apresentar em relação a esses temas, que são críticos para os americanos", afirma.