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Nobel da Paz, Kofi Annan lutou para escapar da maldição da história

Ex-secretário da ONU morreu neste sábado (18). Ele será lembrado como um humanista dedicado, mas seu mandato foi marcado por desastres diplomáticos

Kofi Annan: Sua carreira foi manchada por conflitos que saíram do controle (Chip East/Reuters)
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Reuters

Publicado em 18 de agosto de 2018 às 11h36.

Última atualização em 18 de agosto de 2018 às 11h38.

Genebra - Kofi Annan, ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e ganhador do Prêmio Nobel da Paz que morreu neste sábado, será lembrado como um humanista dedicado cuja carreira foi manchada por conflitos que saíram do controle.

Annan não foi capaz de trazer paz à Síria e acabar com os erros de diplomacia em Ruanda, Bósnia, Darfur, Chipre, Somália e Iraque, que devem abafar os aplausos por sua mediação e esforços para erradicar a pobreza e a AIDS e que o fizeram vencer o Prêmio Nobel da Paz em 2001.

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Annan cresceu em uma cultura etnicamente dividida em seu país nativo Gana, mas onde o diálogo era prezado e os conflitos diretos raros. Era um tempo de otimismo e confiança enquanto Gana caminhava para sua independência do Reino Unido.

"Ele é levado pela ideia de 'não pense no não', sempre buscando o melhor resultado", disse uma vez à Reuters Fred Eckhard, porta-voz de Annan durante seu tempo como secretário-geral.

Sua reputação como mediador foi polida por seu sucesso em interromper um conflito no Quênia em 2007, quando reivindicações rivais à presidência geraram massacres étnicos nos quais mais de 1.200 pessoas morreram.

Annan colocou os rivais em uma sala e disse: "Há apenas um Quênia". Ele ajudou a persuadir uma das partes a aceitar o posto de primeiro ministro em um governo conjunto. A violência acabou.

No início de sua carreira, no entanto, os registros de Annan eram menos bem sucedidos. Ele era chefe da missão de paz da ONU em 1994, época na qual que ele admite que deveria ter feito mais para ajudar a evitar o massacre de 800 mil Tutsis e Hutus de Ruanda.

A maior reprovação foi a de que Annan falhou em agir em relação a um telegrama do comandante da missão de paz da ONU, general Romeo Dallaire, pedindo uma medida contra o armazenamento de armas pelos extremistas Hutus enquanto eles preparavam um assassinato em massa.

"Eu acreditava na época que estava fazendo meu melhor", disse Annan anos mais tarde. Mas eu percebi depois do genocídio que havia mais que eu poderia e deveria ter feito para soar o alarme e reunir apoio."

Em um livro contundente sobre o fracasso do mundo em agir, Dallaire era apenas elogios a Annan, descrevendo seu "humanismo e dedicação ao sofrimento dos outros".

Quando sua carreira na ONU terminou em 2006, ele listou suas principais realizações como tendo estabelecido o conceito de uma responsabilidade de proteger os civis quando seus governantes não o fazem ou não podem fazer.

Seu mandato, no entanto, foi repleto de desastres diplomáticos.

Seus piores momentos, disse Annan, incluem não ter sido capaz de conter o derramamento de sangue no Darfur, no Sudão, o desastre do petróleo-por-comida e a guerra no Iraque, depois da qual ele perdeu a voz por meses.

Então veio o evento mais doloroso: o bombardeio da sede da ONU em Bagdá em 19 de agosto de 2003, que matou 22 pessoas depois que Annan decidiu, por insistência dos Estados Unidos, enviar de volta ao Iraque funcionários da ONU, incluindo seu representante, Sérgio Vieira de Mello, que estava entre as vítimas.

Em um evento em abril para marcar seu 80º aniversário, Annan ficou na defensiva sobre seu papel em Ruanda e brincou, com ironia, sobre ser confundido com o ator Morgan Freeman depois de se aposentar, além de lamentar a falta de líderes fortes para ajudar a lidar com as crises.

"Tivemos dificuldades no passado, mas em alguns casos a liderança fez a diferença", disse ele, terminando em tom positivo: "Eu sou um otimista teimoso, nasci otimista e continuarei otimista. No momento em que eu perder a esperança tudo está perdido, eu os encorajo a manter a esperança também".

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