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No Paquistão, combate à pólio é feito com vacinas e AK47

Nunca antes o mundo esteve tão perto de eliminar a poliomielite, que é transmitida através de comida ou água contaminada ingerida por crianças

Vacina: nunca antes o mundo esteve tão perto de eliminar a poliomielite, que é transmitida através de comida ou água contaminada ingerida por crianças (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2016 às 10h31.

Paquistão - Rodeada de policiais que a protegem com fuzis AK47, Priya Ali fornece duas gotas de vacina de pólio a uma criança em uma empoeirada rua de Karachi e ganha assim outra batalha para que o Paquistão e a humanidade fiquem um pouco mais perto de erradicar esta doença da face da Terra.

Nunca antes o mundo esteve tão perto de eliminar a poliomielite, que é transmitida através de comida ou água contaminada ingerida por crianças menores de cinco anos.

A última batalha acontece no Paquistão (onde mais se registra casos em todo o mundo) e no Afeganistão, únicos países onde o mal é ainda endêmico.

"É preciso vacinar as crianças. É minha responsabilidade", afirmou Priya, veterana desta luta na qual, desde 2012, já morreram cerca de 100 policiais e vacinadores pelas mãos dos talibãs no Paquistão, segundo o Unicef.

Sob o olhar de policiais armados com fuzis, esta mulher de 33 anos e mãe de seis filhos dirige cinco equipes de vacinação que vão rua por rua, edifício por edifício e casa por casa na busca de crianças para fornecer as "milagrosas gotinhas".

As proporções desta missão em Karachi são gigantescas: 6.500 equipes de vacinação, a maioria formada por um homem e uma mulher, 5 mil policiais e milhares de gestores que têm como objetivo vacinar em três dias 2,2 milhões de crianças na cidade.

O progresso da campanha é acompanhado em tempo real nos centros de controle em cada distrito que recebem sempre atualizações dos vacinadores. As informações são enviadas para a rede, para que todos os envolvidos possam acompanhar o processo.

À frente de tudo se encontra o governo paquistanês, o Unicef, a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle de Doenças dos EUA, entre outras organizações.

Por enquanto, Priya e seus milhares de companheiros estão ganhando do vírus e dos extremistas que se opõem à vacinação a tiros, com 11 casos diagnosticados este ano em solo paquistanês, após o recorde de 306 em 2014.

Em Karachi foi registrado apenas um caso esse ano, diferente de 2014 e 2015, quando foram diagnosticados 23 e sete, respectivamente.

A cidade com mais de 20 milhões de habitantes, considerada a capital financeira do país, é um dos núcleos da luta contra a pólio já que recebe milhares de imigrantes do resto do país, especialmente das zonas tribais do noroeste, epicentro da doença, e inclusive do Afeganistão.

E o vírus vai e vem com eles: esta megacidade banhada pelo mar Arábico é como um "troca" de ônibus para o vírus. Para as autoridades é como um conflito bélico.

"É uma guerra para nós. Os recursos que necessitamos são próprios de um conflito", disse à Agência Efe o comissário adjunto do distrito leste de Karachi, Asif Jan Siddiqui.

"Nosso inimigo é o vírus da pólio e tudo o que se interponha entre nós e o vírus", ressaltou Siddiqui.

A campanha contra a pólio no Paquistão começou em 1994 e seu avanço chocou com a desconfiança de muitos paquistaneses que creem que vacinar é anti-islâmico, provoca infertilidade ou é uma campanha do Ocidente para acabar com os muçulmanos.

Os talibãs começaram a assassinar os vacinadores um ano depois que a CIA utilizou uma falsa campanha de vacinação para identificar Osama bin Laden, assassinado na cidade paquistanesa de Abbottabad por soldados americanos em 2011.

Os rebeldes paralisaram as vacinações na região tribal de Waziristão do Norte e as autoridades se viram obrigadas a abandonar as grandes campanhas em todo o país por conta da violência.

Em Karachi, os casos de pólio passaram de zero em 2012 a 23 em 2014, ano em que se alcançou o recorde de 306 em todo o país.

No entanto, em 2013 teve início uma operação militar que melhorou as condições para as vacinações, e um ano depois uma ofensiva do exército no Waziristão do Norte permitiu vacinar milhares de crianças.

A isso se soma o apoio de dois mil líderes religiosos à vacinação, convencidos pelas organizações de combate à pólio e campanhas de conscientização entre a população.

Em 2015, os casos de pólio em Karachi desceram para sete e 54 em todo o país, uma redução de 82% em relação ao ano anterior.

Pela primeira vez em sua história, o Paquistão avista o fim da pólio.

"Se acabarmos com a pólio no Paquistão, acabaremos com ela no mundo todo", concluiu o médico Naheed Mustafa, do Centro de Controle de Doenças dos EUA.

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Paquistão - Rodeada de policiais que a protegem com fuzis AK47, Priya Ali fornece duas gotas de vacina de pólio a uma criança em uma empoeirada rua de Karachi e ganha assim outra batalha para que o Paquistão e a humanidade fiquem um pouco mais perto de erradicar esta doença da face da Terra.

Nunca antes o mundo esteve tão perto de eliminar a poliomielite, que é transmitida através de comida ou água contaminada ingerida por crianças menores de cinco anos.

A última batalha acontece no Paquistão (onde mais se registra casos em todo o mundo) e no Afeganistão, únicos países onde o mal é ainda endêmico.

"É preciso vacinar as crianças. É minha responsabilidade", afirmou Priya, veterana desta luta na qual, desde 2012, já morreram cerca de 100 policiais e vacinadores pelas mãos dos talibãs no Paquistão, segundo o Unicef.

Sob o olhar de policiais armados com fuzis, esta mulher de 33 anos e mãe de seis filhos dirige cinco equipes de vacinação que vão rua por rua, edifício por edifício e casa por casa na busca de crianças para fornecer as "milagrosas gotinhas".

As proporções desta missão em Karachi são gigantescas: 6.500 equipes de vacinação, a maioria formada por um homem e uma mulher, 5 mil policiais e milhares de gestores que têm como objetivo vacinar em três dias 2,2 milhões de crianças na cidade.

O progresso da campanha é acompanhado em tempo real nos centros de controle em cada distrito que recebem sempre atualizações dos vacinadores. As informações são enviadas para a rede, para que todos os envolvidos possam acompanhar o processo.

À frente de tudo se encontra o governo paquistanês, o Unicef, a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle de Doenças dos EUA, entre outras organizações.

Por enquanto, Priya e seus milhares de companheiros estão ganhando do vírus e dos extremistas que se opõem à vacinação a tiros, com 11 casos diagnosticados este ano em solo paquistanês, após o recorde de 306 em 2014.

Em Karachi foi registrado apenas um caso esse ano, diferente de 2014 e 2015, quando foram diagnosticados 23 e sete, respectivamente.

A cidade com mais de 20 milhões de habitantes, considerada a capital financeira do país, é um dos núcleos da luta contra a pólio já que recebe milhares de imigrantes do resto do país, especialmente das zonas tribais do noroeste, epicentro da doença, e inclusive do Afeganistão.

E o vírus vai e vem com eles: esta megacidade banhada pelo mar Arábico é como um "troca" de ônibus para o vírus. Para as autoridades é como um conflito bélico.

"É uma guerra para nós. Os recursos que necessitamos são próprios de um conflito", disse à Agência Efe o comissário adjunto do distrito leste de Karachi, Asif Jan Siddiqui.

"Nosso inimigo é o vírus da pólio e tudo o que se interponha entre nós e o vírus", ressaltou Siddiqui.

A campanha contra a pólio no Paquistão começou em 1994 e seu avanço chocou com a desconfiança de muitos paquistaneses que creem que vacinar é anti-islâmico, provoca infertilidade ou é uma campanha do Ocidente para acabar com os muçulmanos.

Os talibãs começaram a assassinar os vacinadores um ano depois que a CIA utilizou uma falsa campanha de vacinação para identificar Osama bin Laden, assassinado na cidade paquistanesa de Abbottabad por soldados americanos em 2011.

Os rebeldes paralisaram as vacinações na região tribal de Waziristão do Norte e as autoridades se viram obrigadas a abandonar as grandes campanhas em todo o país por conta da violência.

Em Karachi, os casos de pólio passaram de zero em 2012 a 23 em 2014, ano em que se alcançou o recorde de 306 em todo o país.

No entanto, em 2013 teve início uma operação militar que melhorou as condições para as vacinações, e um ano depois uma ofensiva do exército no Waziristão do Norte permitiu vacinar milhares de crianças.

A isso se soma o apoio de dois mil líderes religiosos à vacinação, convencidos pelas organizações de combate à pólio e campanhas de conscientização entre a população.

Em 2015, os casos de pólio em Karachi desceram para sete e 54 em todo o país, uma redução de 82% em relação ao ano anterior.

Pela primeira vez em sua história, o Paquistão avista o fim da pólio.

"Se acabarmos com a pólio no Paquistão, acabaremos com ela no mundo todo", concluiu o médico Naheed Mustafa, do Centro de Controle de Doenças dos EUA.

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